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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A “chinesização” tem disto, mas cria riqueza e ricos…

O novo iPhone é altamente cobiçado. No entanto, nas fábricas onde eles são produzidos, as prometidas melhorias nas condições de trabalho ainda não aconteceram. A Deutsche Welle (DW) conversou com um funcionário da FOXCONN na China.
Yanyan Han
Deutsche Welle: Em março de 2012, o novo diretor-executivo da Apple Tim Cook declarou luta contra horas extras ilegais nas fábricas dos seus fornecedores. Na altura, prometeu elevar o padrão de vida dos trabalhadores. Há alguns dias, um jornalista de Xangai reportou sobre as más condições de trabalho e horas extras ilegais. Essas informações estão corretas?
Funcionário da FOXCONN: Sim, trabalhamos duro aqui. O trabalho exige muito e o nível salarial é baixo. Eu próprio tenho que trabalhar, algumas vezes durante turnos noturnos, 7 horas sem pausa. A pressão é muito grande e meu salário mensal é de 1.550 yuans (aproximadamente 190 euros), cerca de um euro por hora de trabalho.
Mesmo com as horas extras, o meu ganho mensal é muito baixo, porque o custo de vida sobe constantemente. Além disso, a fábrica é muito rígida com os empregados. Quem faz um bom trabalho não tem nenhum reconhecimento. Quem não faz um trabalho bom é criticado. Isso é muito stressante.
DW: Você disse que a fábrica é muito rígida com os empregados. Poderia explicar com mais detalhes?
FF: O nosso chefe só exige obediência, somos como máquinas, a fábrica quer controlar-nos. Há até um slogan na FOXCONN: "Fora do laboratório não há alta tecnologia, o que prevalece é a obediência e a disciplina".
DW: Onde ouviu esse slogan?
FF. Está pendurado na parede como um slogan, trata-se de uma espécie de "cultura corporativa". Os chefes dizem sempre que isso é bom, podemos ganhar mais dinheiro se formos obedientes. É dito para os novos funcionários: "Faça o que o supervisor do seu turno exigir e não seja renitente". Isso significa que não podemos expressar as nossas próprias vontades. Por exemplo, não temos um horário estipulado para pausas. Só podemos fazer pausas se o supervisor do turno permitir.
DW: Há alguns meses, quando o novo diretor-executivo da Apple Tim Cook visitou a China, a FOXCONN anunciou que a carga de trabalho semanal seria de no máximo 49 horas, incluindo horas extras, e que esse limite seria rigorosamente cumprido. Isso foi implementado na sua fábrica?
FF: Essas foram apenas belas palavras. Por ocasião do treino inicial, foi-nos dito que teríamos uma pausa de 10 minutos a cada 2 horas, mas na realidade nunca vi isso acontecer. Disseram também que o turno noturno começaria às 20h e que 3 horas depois haveria uma pausa para refeição, mas a duração completa dessa pausa nunca foi cumprida a rigor.
Depois da refeição temos que trabalhar até às 7h sem pausa. São mais de 7 horas seguidas, todas as noites. A lei laboral chinesa estipula que os empregados não podem fazer mais que 36 horas extras por mês. Mas aqui na fábrica, os empregados chegam a fazer mais de 80 horas extras por mês.
DW: Mesmo assim você e os seus colegas continuam a trabalhar na empresa. Porquê?
FF: Um colega mais experiente disse-me uma vez que ninguém é forçado a ficar aqui. Se reclama, vai muito provavelmente ganhar o título de "inconveniente" do supervisor do seu turno, mas mesmo ele não nos pode forçar a fazer algo contra a nossa vontade. Mas quando o chefe aparece, ele faz ameaças ou tenta persuadi-lo com slogans do tipo: "Estamos todos aqui para ganhar dinheiro. 2 horas de trabalho significa um pouco mais de dinheiro", mas por 2 horas extras eu ganho apenas 30 yuans (€ 3,66), uma refeição já custa por volta de 20 yuans (€ 2,44).
DW: Com essa quantidade excessiva de horas extras, a FOXCONN excedeu os limites legais. A empresa não tem medo que os empregados possam falar publicamente das más condições de trabalho?
FF: Tenho a impressão de que a direção da FOXCONN não se importa. Pelo contrário, a FOXCONN recebe muito apoio do governo. Nos últimos anos a companhia aumentou muito a sua participação no mercado chinês. A FOXCONN cria muitos empregos e paga muitos impostos, por isso o governo fecha os olhos. O diretor-executivo da FOXCONN, Terry Gou, não faz disso um segredo. Ele disse que se as condições de trabalho na empresa fossem "problemáticas", a FOXCONN já teria sido "destruída" e não teria tido a chance de se desenvolver tão rapidamente no mercado chinês.
Para proteger a fonte, a entrevista foi conduzida anonimamente. A DW conhece a identidade do funcionário da FOXCONN.
A FOXCONN é a maior fabricante mundial de componentes de computadores e produz para marcas multinacionais como a Apple, Sony e Nokia. A FOXCONN emprega cerca de 1 milhão de pessoas na China.
Um retrato a la minute

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