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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

“Os Europeus” – 7

No Século XI, quando a influência muçulmana sobre o Médio Oriente e Jerusalém começou a aumentar, o Papa Urbano II reagiu com fúria.
Matthias von Hellfeld
Tomada de Jerusalém, durante a 1ª cruzada
Em 1071, um exército cristão já fora derrotado por tropas muçulmanas em Manzikert, no leste da Anatólia. Mas foram as notícias vindas da Cidade Santa que enfureceram o Papa: segundo os relatos, honrados peregrinos cristãos tinha sido submetidos a insuportáveis martírios por parte dos pagãos.
O papa Urbano II (cerca de 1035-1099) considerou o Concílio de Clermont, em 1095, um momento oportuno para convocar uma "peregrinação armada" a Jerusalém. As palavras do Papa foram claras:
"Eles circuncisam os cristãos e despejam o sangue da circuncisão no altar ou nas pias batismais. Eles têm prazer em matar os outros, à medida que lhes cortam a barriga e puxam uma extremidade do intestino, atando-a a um poste. Aos golpes, eles perseguem-nos à volta do poste, até as vísceras saírem para fora e caírem mortos no chão. Vocês deveriam ficar tocados com o facto de o Santo Sepulcro do nosso Salvador estar nas mãos desse povo impuro, que – com a sua imundície – está a macular de maneira desavergonhada e sacrílega os nossos santuários sagrados."
Massacre em nome do Senhor
Talvez tenha sido um exagero. Verídico, com certeza, era o facto de os governantes muçulmanos cobrarem uma espécie de ingresso para quem quisesse entrar em Jerusalém. Para os peregrinos cristãos, essa era uma situação insuportável, agravada ainda pela destruição de santuários, imagens religiosas e monumentos em Jerusalém.
Reverter essa situação era o que pretendia a primeira cruzada, em 1096, com a participação de 300.000 cavaleiros europeus com perspetivas de obter um espólio compensador. O Papa Urbano II reforçou a moral dos guerreiros cristãos para o combate, prometendo-lhes o perdão de todos os pecados passados e futuros.
Mas isso não pode impedir as imensas perdas entre os cavaleiros, que – com a cruz sobre a armadura – em parte já morriam antes de chegar a Jerusalém. Eram continuamente atacados pelos inimigos, envolvendo-se em lutas com grupos locais.
Os combatentes cristãos conquistaram Niceia e Antioquia até ao início de julho de 1098. Após Beirute, prosseguiram até Jafa e Haifa. Em Edessa, Gottfried von Bouillon (em torno de 1060-1100) fundou o primeiro "Estado de cruzados". Três anos após partirem do Ocidente, chegaram a Jerusalém.
Em julho de 1099, começou a batalha pela Cidade Santa, combatida por apenas 21.000 cavaleiros exaustos, sobreviventes do exército originário. As fortificações foram destruídas com arietes e catapultas. "É a vontade de Deus!" – com este grito os cavaleiros invadiram Jerusalém, por fim, provocando um bestial banho de sangue. Apenas poucos habitantes da cidade sobreviveram.
O massacre foi estilizado pelos guerreiros de Deus como "purificação" da cidade, libertada dos infiéis. No fim, marcharam em procissão para agradecer a vitória. Esse dia custou a vida de 70.000 pessoas.
Mais motivos para guerras religiosas
No verão de 1099, Gottfried von Bouillon foi nomeado "alcaide do Santo Sepulcro". Além de Edessa, os integrantes das cruzadas fundaram outros Estados: a Armênia Menor, o Principado de Antioquia, o Condado de Trípoli e o Reino de Jerusalém.
A nova ordem do Médio Oriente não durou muito tempo, pois a região estava circundada por poderosos países árabes, indignados e enfurecidos com as cruzadas: o Emirado de Damasco, o Califado do Cairo e o Sultanato dos Seljúcidas. Nos 2 séculos seguintes, fizeram tudo para reconquistar os territórios, motivando assim mais 6 cruzadas que, até meados do Século XIII, causaram a morte de centenas de milhares de pessoas.
Na Europa, contudo, as cruzadas eram expressão da coletividade cristã concentrada em torno da cruz sob a autoridade papal. Assim surgiu uma espécie de "comunidade europeia" cristã. Essa Universitas Christiana uniu a Europa por muito tempo. O sentimento de unidade dos europeus baseava-se, no entanto, no rechaço dos pertencentes a outras crenças. Não era uma identidade "por" alguma coisa, mas sim "contra" algo.

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