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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

“Os Europeus” – 3

O decreto do imperador bizantino Teodósio I teve consequências abrangentes ao unir à Antiguidade clássica às raízes judaico-cristãs do continente europeu. Com bons e maus desdobramentos.
Matthias von Hellfeld
“Teodósio e Santo Ambrósio”, por Rubens
Até o Concílio de Niceia, no ano de 325 d.C., as igrejas eram incendiadas, os cristãos eram caçados e tinham os seus bens confiscados. As perseguições agravaram-se sobretudo sob o imperador Diocleciano (cerca de 245-316). Este pretendia reviver a velha cultura pagã, tornando-a religião de Estado. Porém a sua política anticristã fracassou e foi abolida pelo sucessor, o imperador Constantino I (cerca de 285-337).
O aparato militar e administrativo funcionava bem no Império Romano. Um espaço económico comum trouxera prosperidade. Os direitos civis concedidos a todas as pessoas que habitavam o território estatal romano promoviam a coesão – menos no tocante à prática da religião.
O Concílio de Niceia
No dia 19 de junho de 325, o imperador Constantino interferiu num conflito eclesiástico. Para pacificá-lo, convidou os bispos cristãos para um concílio em Niceia, nas proximidades da atual Istambul. A meta desse encontro, de que participaram mais de 300 representantes, não era a imposição do cristianismo como religião estatal, mas sim o estabelecimento de uma paz religiosa, a fim de estabilizar o Império Romano.
Após longos debates, Constantino I aceitou o consenso segundo o qual Deus e Jesus constituiriam uma mesma entidade. Com a assinatura dessa definição pelos religiosos presentes, teve fim a perseguição dos cristãos.
Porém melhores notícias esperavam ainda os adeptos da fé cristã, pois em 27 de fevereiro de 380 o imperador bizantino Teodósio I (347-395) promulgou um decreto declarando o cristianismo religião de Estado e punindo o exercício de cultos pagãos.
"Cunctos populos"
A assinatura deu-se em Tessalónica, na presença do imperador do Ocidente, Valentiniano II (371-392), e do meio-irmão e corregente Graciano (359-383).
Porém o texto do decreto "Cunctos populos" não confirmava apenas a posição privilegiada do cristianismo, como também a persecução aos adeptos de outras fés:
"Todos os povos sobre os quais exercemos regência bondosa e moderada devem (...) converter-se à religião comunicada aos romanos pelo divino apóstolo Pedro (...) e claramente professada pelo pontífice Damásio, como também pelo bispo Pedro de Alexandria (...). 

Isto significa que nós, segundo a indicação apostólica e a doutrina evangélica, cremos numa divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em igual majestade e em santa trindade. 

Apenas aqueles que obedecem a esta lei poderão (...) chamar-se cristãos católicos. 
Os demais, que declaramos verdadeiramente tolos e loucos, carregarão a vergonha de uma seita herética. Tampouco poderão ser chamados de igrejas os seus locais de reunião. 
Por fim, que os persiga primeiramente o castigo divino, porém depois também a nossa justiça punitiva, a nós outorgada por sentença celestial."

Simbiose entre Antiguidade e Cristianismo
Os praticantes de outras fés passaram então a ser atormentados com a mesma intensidade com que o eram antes cristãos e judeus. A prática de cultos pagãos passou a ser tratada como alta traição. Templos e relíquias foram destruídos, da mesma forma que o Oráculo de Delfos, lendário local de profecia da antiga Grécia.
Entretanto, 27 de fevereiro de 380 constitui um marco da história europeia, pois nesse dia as raízes judaico-cristãs uniram-se à Antiguidade greco-romana, numa simbiose que perdura até hoje. A prévia história greco-romana do continente e a religião judaico-cristã definiram decisivamente a Europa – no bom como no mau sentido.
Pois nos séculos seguintes, sob a cruz de Cristo, não apenas se deu de comer aos pobres, como também foram assassinados críticos e dissidentes em nome do Senhor.

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