“E que seria se nem os leões, nem as águias, nem os elefantes, nem as baleias se contentassem com a sua grandeza e se quisessem comer uns aos outros para poderem ser mais e maiores? Isto é o que querem e fazem os homens, por isso os altos caem, os grandes rebentam e todos se perdem” (Pe. António Vieira, no conto “Se o rato não quer ser leão”)
Nei Alberto Pies
Vendem-se por aí pacotes com dicas e fórmulas para aqueles que desejam exercer liderança em diferentes grupos ou segmentos sociais. Estas propostas procuram despertar a liderança das pessoas ou buscam, tão só, ensinar jogos e combinações de manipulação dos outros em favor próprio? A capacidade de liderar é algo que pode ser ensinado? Os diferentes grupos sociais convivem com um mesmo padrão de liderança?
Existem outras questões que há tempo me intrigam: as pessoas nascem com o dom de serem líderes? Dá para se querer impor um estilo de liderança para toda agente, ou cada um a seu modo vai criando formas de se tornar influente sobre os outros? Em que medida é possível medir o grau de confiança entre lideranças e liderados?
Há que se entender que somos seres sociais, em busca de reconhecimento. A maioria das pessoas busca este reconhecimento através das habilidades e competências inerentes ao seu trabalho. Esperam um progressivo reconhecimento dos demais pares. Neste grupo maioritário, não existem jogos e tramas que procuram, sorrateiramente, usar os demais para benefícios próprios e escusos. Existe, sim, o desejo do mútuo reconhecimento, respeitando os diferentes papéis e responsabilidades de cada um. A ascensão das lideranças dá-se de forma quase natural, o que não gera tantas resistências e incompreensões.
Geralmente, as oportunidades de liderança surgem a partir de destaques pessoais, associados a oportunidades do exercício do poder. Exercer certa liderança dá sempre poder. Este poder é-nos sempre delegado por alguém ou por um coletivo que acredita nas nossas capacidades pessoais para representar os seus interesses. Se assim não for, o poder não é legítimo e nem deve ser reconhecido.
A forma de exercermos a liderança tem muito a ver com nossa personalidade, o nosso jeito de lidar com a vida e com o mundo. A agressividade, que muitos pregam como ponto forte para quem deseja liderar um grupo social, nem sempre é a melhor forma de interação coletiva. O carisma, ou a falta dele, por sua vez, é fator fundamental para consolidar uma liderança. A sensibilidade para a perceção das necessidades do grupo liderado é indispensável para o reconhecimento do papel que exercem os líderes. O diálogo é a melhor forma de reatar os laços de confiança, esclarecer dúvidas e incompreensões. A disponibilidade para servir, mais do que ser servido, é o gesto mais nobre e mais verdadeiro de uma grande liderança.
Muitos, ao ocupar certa posição social ou autoridade, personificam o próprio poder, tornando-se eles próprios a razão de ser do poder e da liderança. Distanciam-se da coletividade que representam, tornando-se uma grande ameaça à mesma. Quem exerce liderança deve ter a perceção do limite do seu poder. O lugar que ocupa é sempre transitório e dá-se dentro de um contexto histórico. Haverá sempre alguém com mais poder do que ele, como também existe poder que vem de quem está abaixo de sua posição social. O facto é que nenhuma liderança se impõe, mas conquista-se.
Não acreditamos que a liderança seja uma “capacidade nata”. Existem predisposições pessoais que podem colaborar para alguém exercer uma grande liderança. A capacidade de liderança pode ser aperfeiçoada por cada um de nós; ninguém é totalmente incapaz e ninguém está totalmente preparado para servir os outros.
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