O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o sector financeiro estão a repetir velhos erros que já prejudicaram a vida de milhões de pessoas.
“Nos EUA entregamos ao sistema financeiro 700.000.000 de dólares. Se tivéssemos investido apenas uma fracção dessa quantidade na criação de um novo banco, teríamos financiado todos os empréstimos que eram necessários”, disse Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia em 2001. Se os bancos não emprestam, os governos deveriam criar os seus próprios bancos e encomendar-lhes essa tarefa, propôs o Nobel da Economia.
Na verdade, seria possível fazer isso com muito menos: “Tomemos 100.000.000, alavanquemos essa quantidade por um factor de 10 a 1 (atraindo fundos do sector privado) e obteremos uma capacidade creditícia de 1.000.000 de dólares, mais do que a economia real necessita”, explicou Stiglitz. O problema nos EUA é que o estímulo fiscal não foi o necessário: “Consistiu em boa medida em cortes de impostos e quando se deu dinheiro aos bancos, foi para aqueles que não deviam ter recebido”. “A consequência de tudo isso é que não se restabeleceu a actividade creditícia. É previsível que este ano se embarguem 2.000.000 de casas, ou mais, do que no ano passado”, advertiu o economista.
Por trás dos ataques dos mercados financeiros à Grécia, primeiro, e depois contra a Espanha, o consenso parecer ser o de que os Governos devem economizar, critica Stiglitz, que compara a situação actual à dos EUA durante a presidência de Herbert Hoover. Os Governos, como o britânico, não só se negam a estimular a economia, como também se dedicam a cortar gastos públicos, como fez Hoover em 1929, com a consequência de o “crack” de Wall Street degenerar na Grande Depressão.
“Hoover acreditava que, quando se entra em recessão, aumentam os deficits, pelo que optou pelos cortes, e isso é precisamente o que querem agora os estúpidos mercados financeiros que nos meteram no meio dos problemas que enfrentamos agora”, assinalou o Nobel.“Há muitas experiências que demonstram isso graças a Herbert Hoover e ao FMI”, disse ainda.
Lembrou que o FMI aplicou essas receitas erróneas na Coreia, Tailândia, Argentina, Indonésia e muitos outros países em desenvolvimento nos anos 80 e 90. “Sabemos o que ocorre. As economias vão-se debilitar, os investimentos cairão e produzir-se-á uma terrível espiral descendente”, assinalou, lembrando o que ocorreu com o Japão que experimentou uma receita similar em 1997, quando estava em vias de recuperação e acabou metido numa nova recessão.
A resposta, enfatizou, não é reduzir o gasto público, mas sim redireccioná-lo: “Pode-se cortar o dinheiro que se gasta na guerra do Afeganistão. Pode-se cortar várias centenas de milhares de milhões de dólares desperdiçados no sector militar. Podem-se reduzir os subsídios ao petróleo. Há muitas coisas que podem ser cortadas. E é preciso aumentar o gasto em outras áreas como a pesquisa e o desenvolvimento, as infra-estruturas e a educação, todas elas áreas nas quais o governo pode obter uma boa rentabilidade dos seus investimentos”.
Ainda segundo o economista, não há tampouco nenhuma razão pela qual não se possa aumentar em cerca de 40% os impostos sobre os lucros especulativos do sector imobiliário, por exemplo. Esse tipo de especulação, concluiu, não beneficia a sociedade e a terra vai continuar lá, independentemente de as pessoas especularem ou não. Em troca disso, poderíamos baixar o ónus que pesa sobre outras actividades, como a pesquisa e o desenvolvimento.
Para quem não sabe de economia e não entende (ou não quer entender) o “economês”, o discurso é bem claro e só não aceita esta análise/solução quem não quer, porque é fácil e sobretudo lógico. Acrescento que, a mesma análise serve para todos os países ocidentais, UE inclusive, que andou a dar aos Bancos, a receita dos impostos da classe média, que está a emagrecer…
E não é o “Zé da esquina” que o diz, nem é o único economista profissionalmente apto e reconhecido e Prémio Nobel, a fazer eco da mesma mensagem/proposta.
Mas, ou os que fazem parte do sistema é que sabem e quando não sabem, chamam o FMI, para ilibar as suas (ir)responsabilidades…
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