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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Carta Aberta a todos os Tiriricas da Educação…

Depois de agendar o post da nomeação de Tiririca para  fazer parte da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, recebi por mail da professora Marise von, dos blogues Filosofar é preciso!!!, Filosofia é o limite!!! e Sociologia é o Limite!!! a seguinte carta, com pedido de encaminhar para o maior número de contactos. Como não há melhor forma de o fazer, aqui a publico, não só para ser simpático com a colega brasileira, mas sobretudo porque é uma radiografia (talvez TAC) da Educação, também no nosso país.
Ei-la:
Resposta de uma professora (brasileira) à revista “VEJA”
Sou professora do Estado e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”.
É com grande pesar que vejo quão distante estão os seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que  geram este panorama desalentador.
Não há necessidade de cronómetros, nem de especialistas  para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira. Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm que comer nas suas casas, quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza  trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos  nas suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas (brasileiras). Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar ao respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina. Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos,  há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança de que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de só brincar com os amigos,  de ir aos piqueniques, subir às árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria. Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para o 5ª ano. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala de aula (o que às vezes resulta numa revolução),  levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planeados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. E, mesmo, assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planeamentos, correções nos fins de semana, tudo sem remuneração; todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Os professores têm 10 minutos de intervalo e têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar à pressa o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, o professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 horas semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que, embora apresente atestado médico, tem que repor as aulas.  Plano de saúde? Muito precário. Há de se pensar, então, que  são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que se estão a aposentar e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”. Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”, “puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos notícias, dia a dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam os seus pais e familiares. Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade dos seus cidadãos ultrapassa um certo limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando ano após ano, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos. Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronómetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é disso que precisamos, não de cronómetros!  Lembrando: o professor estadual só percorre a sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se.  Em vez de cronómetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais, campos desportivos cobertos (um luxo para a grande maioria das nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitas escolas (neste Brasil afora) que nem cadeiras possuem para os alunos se sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos também,  urgentemente,  de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo.
Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de ponto, à mão: sem erros, nem borrões  (oh, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronómetros. Francamente!  Passou a hora de todos abrirem os olhos  e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores  até agora  não responderam a todas as acusações de serem despreparados e  “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.
Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas.
Abraços
Nanci

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