A participar em Macau na conferência internacional “A Lusofonia entre encruzilhadas culturais”, Inocência Mata defendeu que a diversificação da língua “alarga o seu âmbito de existência e está a formar um sistema muito mais amplo e muito mais persistente, muito mais duradouro, muito mais enriquecido que vai projetar a língua portuguesa para o segundo milénio”.
“Parece paradoxal a formulação” (da sua comunicação) - “Estratégias de convergência na diversificação da língua portuguesa” – mas a académica, que recorreu a três escritores de tempos diferentes para sustentar a sua tese – os angolanos Uanhenga Xitu, Leondino Vieira e o moçambicano Mia Couto – defendeu que não são os escritores a “subverter” a língua, mas sim a “inscrever no sistema da língua portuguesa uma outra forma de dizer em português geografias culturais muito diferentes”.
“A língua portuguesa está a diversificar-se e na verdade é nessa diversificação que está a unidade da língua portuguesa e a riqueza da língua portuguesa”, disse.
O português, acrescentou, “está a ser enriquecido com uma fonte cultural existente em cada país” e o que os escritores fazem é “refratar esse processo de recriação da língua portuguesa” que cada povo está a fazer à sua maneira, com a sua cultura e também com os seus crioulos.
A língua portuguesa está a ser enriquecida com uma fonte cultural existente em cada país lusófono.
Pois, isto é que é a Lusofonia, linguisticamente falando…
Ao considerar que a “lusofonia tem uma aplicação prática com um intuito político-diplomático”, Pedro Martins, da Universidade de Siena, Itália, aponta a CPLP, a União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas (UCCLA), o Prémio Camões e o Acordo Ortográfico como representações formais e institucionais de uma “pseudo-lusofonia”.
“O Acordo Ortográfico é o exemplo mais claro desta dupla vertente da lusofonia, pois os países estão a tomar medidas para o aplicar, mas com uma vertente utópica, já que se pretende nivelar uma ortografia do português que não é igual e não tem de ser igual, porque representa as diferenças de cada um dos países” lusófonos, disse o académico na conferência internacional “A Lusofonia entre Encruzilhadas Culturais”.
“Poderemos até escrever da mesma forma, mas haverá sempre diferenças que nos permitirão identificar cada um dos países”, observou, considerando que, neste contexto, o que "interessa perceber é se este acordo pretende verdadeiramente unificar esta comunidade ou se está a ser criado para esconder as diferenças que existem e que têm de ser marcadas e estudadas enquanto situações independentes”.
Os defensores do Acordo Ortográfico realçam os aspetos positivos da uniformização da escrita do português, promoção e internacionalização da língua, enquanto as vozes críticas apontam interferências no património linguístico de milhões de pessoas, que formam a denominada comunidade lusófona e a incoerência da reforma.
O Acordo Ortográfico está em vigor em Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e em Timor-Leste, restando a sua implementação efetiva em Angola e Moçambique.
Sobre o Acordo Ortográfico, é mais uma opinião, a que todos os lusógrafos tem direito, assim como tem o direito de não o seguir, quer individualmente, quer a nível de cada país, exatamente para que continue a haver autonomia, identidade, nação e Lusofonia sem “neo-colonialismo”…
Sem comentários:
Enviar um comentário