Interessante como dois verbos pensar e punir tem sentidos opostos e muitas vezes na prática tão próximos. Enquanto “pensar” significa raciocinar que é uma operação lógica discursiva e mental. Neste, o intelecto humano utiliza uma ou mais proposições, para concluir, através de mecanismos de comparações e abstrações, quais são os dados que levam às respostas verdadeiras, falsas ou prováveis. Das premissas chegamos a conclusões. “Punir” é punição, um processo no qual se reduz à probabilidade de determinada resposta voltar a ocorrer através da apresentação de um estímulo aversivo, ou a retirada de um estímulo positivo após a emissão de determinado comportamento indesejado. Observo como se destacam na prática quotidiana como paralelos no inconsciente dos grupos escolares quando o assunto é pensar a filosofia.
Dei comigo no outro dia a ler um artigo numa revista da Supernanny que é psicóloga e orienta os pais na forma de aplicarem disciplina aos seus filhos. Algumas orientações são do tipo como: não gritar; dar uma advertência; não perder o controlo e colocar no “cantinho da disciplina” para pensar e refletir o que fez de errado. No fim orienta os pais a conduzir a criança a pedir desculpas pelo mal cometido. Bom até aqui parece que está tudo bem, mas algo me chama a atenção. Como será a longo prazo a falta de diálogo entre familiares quando essa criança já não couber no banquinho e não tiver o “cantinho da disciplina”, ou seja, a vida toda. Já dizia Sócrates “O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprenderem por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento.”
Penso que enquanto criança é mais fácil compreender a forma como pensam entrando no seu universo, no seu mundo e nas suas dificuldades e partir para um diálogo sem reforçar essa noção de que pensar é mau, imagino quanto se culpam pelo facto de errar, sabendo que a prática o levará a um banquinho ou cantinho. Para quê? Para pensar.
E quando já adolescentes, alguns pela primeira vez, tem contacto com a filosofia, outros não, ao descobrirem que podem pensar e refletir e que isso traz prazer. Prazer? Como? Eu vou ter que pensar? Muitos duvidam, sim duvidam, mas não como a arte do filosofar, mas sim em como sair do “cantinho da disciplina” ou “das correntes que ainda os prendem na caverna”. Aos poucos descobrem o conhecimento dentro de si e libertam-se ao perceber que é tudo muito simples e que a filosofia faz parte do dia a dia de cada um.
Concluindo esta teoria quero enfatizar que é possível desde criança começar a refletir sobre as suas ações, até porque a moral e a ética é trabalhada desde a primeira infância. Uma das grandes áreas da filosofia trabalha justamente esta questão da ética e da moral. Bom seria se a filosofia fosse mais valorizada no dia a dia dos pais, educadores e educandos, proporcionado leituras e imagens para que os pequeninos vivenciassem de uma forma ampla, alegre e extrovertida a reflexão e a curiosidade até à fase adulta. Ao contrário, o que observo, é que existe muitas vezes uma espécie de parede entre a busca do conhecimento e o limite em ultrapassar essa busca do “conhecer” e expor as suas ideias. A inibição da infância, aquela do “cantinho da disciplina” em que se falava o que deveria falar para sair depressa para brincar, se repita agora como ler por ler, estudar por estudar, terminar logo para não ter de refletir. Se o diálogo substituir a punição é possível que essa prática tenha continuidade como um bem para todos.
Sandra Lucia, Professora de Filosofia e Sociologia e pós graduanda em Metodologia do Ensino em Filosofia e Sociologia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci
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