(per)Seguidores

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

EMIGRAÇÃO: Uma máquina de matar sonhos!

Para os jovens europeus dos países em crise, a Austrália em crescimento passou a ser a nova terra das oportunidades. É o que acontece especialmente à nova geração de gregos licenciados que se junta à enorme comunidade de expatriados do seu país espalhada pelo mundo.
Há uns meses que uma onda de homens e mulheres maioritariamente jovens, acabados de desembarcar do avião que os trouxe da Grécia, bate à porta de um enorme edifício da Lonsdale Street no centro da cidade de Melbourne. Este edifício, da década de 1940, alberga a maior comunidade grega residente na Austrália.
Num cenário que faz lembrar a grande corrida ao ouro na viragem do século XX, esta gente viaja até à outra ponta do mundo à procura de uma vida melhor. Ao contrário dos antigos compatriotas, a notoriedade destes novos emigrantes é visível atendendo aos seus diplomas, ganhos à custa de muito esforço em áreas bastante difíceis. "Andaram todos na universidade, engenheiros, arquitetos, mecânicos, professores, bancários, dispostos a fazer qualquer trabalho", afirma Bill Papastergiades, presidente jurista da comunidade. "É um desespero. Estamos todos aterrorizados. Geralmente, chegam apenas com um saco. As histórias que contam são desoladoras e cada avião traz mais", confessou ao Guardian, em entrevista telefónica.
O êxodo é apenas uma parte do drama humano na Grécia, onde a crise da dívida europeia começou. Desde junho que os responsáveis pela comunidade de Melbourne estão a ser inundados com milhares de cartas, emails e telefonemas de cidadãos gregos desesperados para emigrar para um país que, resguardado da turbulência dos mercados globais, é visto agora como uma terra de incomparáveis oportunidades.
Só este ano, foram 2.500 os cidadãos gregos que foram viver para a Austrália, embora as autoridades de Atenas afirmem a existência de mais 40.000 que também "expressaram interesse" em iniciar o árduo processo de mudança para aquele país. Uma "skills expo", com 800 lugares, realizada em outubro pelo governo australiano na capital grega, atraiu uns 13.000 candidatos.
Fuga de cérebros tende a aumentar
Num país preparado para um 5º ano de recessão, com o desemprego a atingir um recorde de 18% – e um índice sem precedentes de 42,5% de jovens sem emprego – a fuga de cérebros terá mesmo de aumentar. A economia australiana, em contrapartida, prevê um crescimento de 4% em 2012. "As pessoas dizem muitas vezes que não querem que os filhos cresçam lá", afirmou Papastergiades. "Há dias recebi o telefonema de um canalizador grego a dizer que já não trabalhava há 8 meses, que tinha 3 filhos em casa e que estava tão desesperado que tinha posto a hipótese de se matar.”
Tessie Spilioti está no grupo dos que já se instalaram na Austrália. "Não há sítio no mundo melhor do que a Grécia e todos os dias tenho saudades do meu país e dos meus amigos", disse Spilioti, que passou a infância na Austrália, antes de se mudar para Atenas, há 27 anos. "Mas a Austrália é um país positivo. É uma terra farta, onde se sente a abundância e as oportunidades", afirmou com entusiasmo. "E isso é o que falta completamente na Grécia. As pessoas estão em pânico, o ambiente é mau, o clima psicológico é mau e as pessoas têm a sensação de viver num cerco. Nunca pensei que iria emigrar, mas com o stress da sobrevivência diária percebi que iria ser muito difícil evoluir."
Prevê-se que duas gerações se percam como resultado da grande crise económica grega. A nova diáspora, segundo os especialistas, vai quase de certeza abranger gente mais nova, com boa formação e multilingue, mas incapaz de sobreviver mais tempo num país com uma economia em queda livre, em parte devido às fortes medidas de austeridade que a Grécia foi forçada a aplicar em troca de ajuda.
Um estudo recente da Universidade de Thessaloniki revelou que a grande maioria dos gregos opta agora por trabalhar no estrangeiro e que a geração mais nova vai para países tão diversos como Rússia, China e Irão. Os inquiridos, na sua maior parte, nem sequer tentaram arranjar emprego no seu país porque não veem futuro numa economia que terá de aguentar rigorosos apertos de cinto pelo menos durante mais uma década.
Votados ao desprezo
Na Austrália, a afluência desanimou outros gregos forçados a emigrar, por questões de pobreza e guerra, na década de 1950 e 1960. Durante anos, a diáspora foi desprezada pelos sucessivos governos de Atenas que se recusaram, inclusivamente, a reconhecer o direito de voto à comunidade étnica de gregos no estrangeiro, mesmo em sítios como Melbourne, cuja próspera comunidade de gregos excede os 300.000. Ver uma juventude talentosa de conterrâneos a chegar agora em massa – quase toda preparada para fazer os trabalhos mais subalternos para sobreviver – foi uma surpresa muito desagradável.
"Há muitos sonhos desfeitos", diz Litsa Georgiou, de 48 anos, que foi viver para Sydney o ano passado com a filha bebé e o marido ateniense. A comunidade está em choque. "Muitos tinham esperança de voltar à Grécia… em contrapartida, todos os dias se ouve a história de alguém que fez uma viagem de 22 horas de avião para se mudar para cá. É horrível pensar que ainda vão ser precisos 10 anos para a Grécia começar a recuperar."
CRISE DO EURO
Austeridade provoca emigração na Irlanda e em Portugal
Ao introduzir uma rubrica sobre emigração durante a crise, The Guardian escreve:
Desde a sua conceção que a UE revelou ser um paraíso para refugiados de guerra, perseguições e pobreza noutras partes do mundo. Mas como a UE enfrenta aquilo a que Angela Merkel chamou a sua pior hora desde a II Guerra Mundial, as circunstâncias parecem estar a mudar. Há uma nova leva de migrantes a sair do continente. Poderá transformar-se em torrente se a crise da dívida continuar a piorar.
Os países mais afetados são a Irlanda, a Grécia e Portugal, todos eles alvo de ajuda financeira da UE/FMI e de orçamentos de austeridade draconiana nos últimos dois anos. “Na Irlanda, onde 14,5% da população está desempregada, a emigração tem vindo a aumentar continuamente desde 2008, altura em que o Lehman Brothers faliu e o mercado imobiliário irlandês atingiu o ponto de rutura. Entre abril de 2010 e Abril de 2011, saíram da Irlanda 40.200 cidadãos com passaporte, excedendo os 27.700 do ano anterior, de acordo com dados oficiais.”
Pelo menos 10.000 portugueses partiram para a antiga colónia de Angola e para Moçambique e o Brasil. Segundo dados do governo brasileiro, o número de portugueses no país passou de 276 mil em 2010 para cerca de 330 mil (mais 54.000).

10 comentários:

  1. Convido os nossos políticos(alguns)a emigrar,seria uma boa maneira do nosso país sair da "crise"...!!! BOM NATAL 2011

    ResponderEliminar
  2. ribas
    A emigração não é para eles, nem para os filhos deles...
    Obrigado pelos votos.

    ResponderEliminar
  3. Dói-me o coração por essas gentes!

    ResponderEliminar
  4. Félix da Costa
    Dói porque pode ter que ser um dos nossos, porque os deles não emigram...
    E andou o Estado a investir na formação para oferecer de mão beijada o ouro ao bandido...

    ResponderEliminar
  5. É triste ver países ditos desenvolvidos a não apresentarem futuros dignos aos seus jovens; é triste ver tanta preocupação com os mercados e com o dinheiro e 0% de preocupação com as pessoas...

    Ainda assim, um Feliz Natal e continuação do excelente trabalho neste blog!

    ResponderEliminar
  6. Mab
    É tudo triste, até a nossa indiferença e incapacidade de nos indignarmos, com as consequências.
    As mais antigas e mais fortes civilizações, vilipendiadas pelos SS, Bilderberg, "Mercados", mas sobretudo vigaristas e psicopatas.
    Obrigado pelo elogio e para si renovados votos de Bom Natal!

    ResponderEliminar