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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

As escolhas dos ex-Goldman Sachs: austeridade, insegurança do emprego e redução do social. Sacrificar os povos para salvar os bancos?

Numa altura em que o BCE se prepara para passar um novo cheque de 500 mil milhões de euros aos bancos, o seu líder afirma, sem hesitação, que, para sair da crise, os países sobre-endividados não têm outra solução senão aplicar uma política de rigor extremo. Palavras chocantes, mas necessárias, escreve La Tribune.
“O modelo social europeu está morto!” Nunca um banqueiro central falou com tal brutalidade sobre a crise que atravessamos. As declarações do italiano Mario Draghi, o sucessor de Jean-Claude Trichet, na longa entrevista que deu, na sexta-feira, 24 de fevereiro, ao Wall Street Journal, são de tal maneira violentas, pelo que implicam, que não podiam ter sido ditas senão à “bíblia” da finança mundial. Até mesmo Jean-Claude Trichet tinha mais cuidados com a linguagem quando tentava explicar aos povos europeus o que os esperava.
Para Mario Draghi, antigo banqueiro na Goldman Sachs e novo comandante da moeda europeia, salvar o euro terá um preço elevado. Na sua opinião, não há “escapatória” possível e vai ser preciso pôr em prática políticas muito duras de austeridade em todos os países sobre-endividados e isso implica renunciar a um modelo social baseado na segurança do emprego e numa redistribuição social generosa.
Esse modelo em que a Europa baseou a sua prosperidade desde a Segunda Guerra Mundial desapareceu (“has gone”), afirma Mario Draghi lembrando aos jornalistas do WSJ a fórmula do economista alemão Rudi Dornbusch: “Os europeus são tão ricos que se podem dar ao luxo de pagarem às pessoas para não trabalharem”.
A Margaret Thatcher dos tempos modernos
As palavras do líder do BCE podem parecer uma provocação, a escassos dias de o banco central passar um segundo cheque no valor de 500 mil milhões de euros aos bancos que, na próxima quarta-feira, 29 de fevereiro, irão buscar mais um empréstimo ao balcão ilimitado que foi criado para salvar o euro. Com tais declarações, como escapar às críticas cada vez maiores, de que o sistema está a sacrificar os povos para salvar os bancos?
Os argumentos expostos por Mario Draghi são definitivos: qualquer recuo nas ambições dos programas de desendividamento público provocará uma reação imediata dos mercados, que farão subir imediatamente as taxas de juro pagas pelos Estados, tornando ainda mais difícil, senão impossível, o restabelecimento das finanças públicas. Foi o que aconteceu na Grécia e o que quase aconteceu em Portugal, Espanha e Itália.
Evidentemente, as declarações de Mario Draghi estão ligadas ao calendário eleitoral europeu. Em abril na Grécia, em maio em França, na primavera de 2013 em Itália, os povos vão votar para escolherem o seu destino.
Ao explicar, à maneira de uma Margaret Thatcher dos tempos modernos, que seja qual for o resultado da votação, os governos eleitos não terão outra alternativa senão continuar as políticas de extremo rigor, porem em prática as reformas estruturais e desmantelarem ainda um pouco mais o seu modelo social, o presidente do BCE mostra qual é a direção.
As escolhas dos ex-Goldman Sachs
E não lhe venham dizer que a atual acalmia dos mercados significa que a crise acabou. A prova de que não é assim chegará na quarta-feira, 29 de fevereiro, quando os banqueiros forem buscar ao BCE o apoio sem o qual o sistema financeiro não consegue sobreviver.
Sem a intervenção dos bancos centrais, nos Estados Unidos com a Quantitative Easing [QE, redução para quase zero da taxa diretora] do FED, na Europa com a operação de financiamento a longo prazo [LTRO] do BCE, tudo se desmoronaria! Até mesmo a China se vê obrigada a ajudar os seus bancos em dificuldades. Bem-vinda ao cruel mundo do “QE”.
Com esta sua duríssima posição, Mario Draghi apela a uma tomada de consciência. Defende que é preferível passar por uma severa purga e fazer reformas estruturais agora, para restabelecer a confiança dos mercados, do que viver 10 anos terríveis sob pressão destes.
É a escolha feita por Mario Monti em Itália, até agora com sucesso já que, em 100 dias, também este antigo dirigente da Goldman Sachs conseguiu tirar o seu país do centro do furacão, alterando como nunca a cara de Itália. A lição é válida [também] para os outros países.
REAÇÃO - Relançar o modelo social em vez de o abandonar
Para Die Wochenzeitung, a morte anunciada do modelo social europeu é lamentável e põe em perigo o sistema financeiro e político europeu. Ao deixar os mercados financeiros agirem livremente e as taxas de juros à mercê das agências de notação, a ajuda concedida à Grécia será portanto totalmente ineficaz e será “uma questão de tempo até ao próximo agravamento da crise”, escreve o semanário de esquerda suíço.
Este defende que a única solução é rejeitar completamente os pedidos da troika (UE-BCE-FMI) e restabelecer a soberania grega relativamente ao seu orçamento:
Os objetivos deverão considerar os níveis de produtividade e os salários entre os países. Seria necessário criar uma política industrial europeia direcionada para uma Europa ecológica e solidária. A repartição patrimonial e salarial entre as classes, assim como entre os países da zona euro, deveria ser nivelada através de uma maior imposição dos salários elevados e fortunas. O resultado seria uma maior igualdade de tratamento fiscal na Europa, em vez de mais eficiência na Grécia.

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