(per)Seguidores

sexta-feira, 2 de março de 2012

Quem nos dera ganhar menos 30% dos alemães!

Alexander Popov
Paul Krugman, Nobel da Economia em 2008, diz que mais austeridade não é o caminho para Portugal, mas insiste que os salários têm de descer para que o País recupere a competitividade.
O Nobel da Economia voltou a insistir, tal como já tinha referido num artigo em Maio de 2010, que Portugal deve descer os salários 20% a 30% em relação à Alemanha porque a "Alemanha é a referência na zona euro". Krugman admitiu que preferia que houvesse uma alteração nos salários alemães em vez de o ajustamento se aplicar nas remunerações em Portugal. "Não é simpático, mas é algo que terá de acontecer", disse, recusando a hipótese de Portugal baixar os salários até ao nível das remunerações chinesas, argumentando que não é com países como a China que Portugal está a competir.
Tenho um certo respeito por todos os Prémios Nobel, por uma questão da autoridade reconhecida e particularmente por Paul Krugman, se calhar por estar quase sempre de acordo com o que analisa e as propostas consequentes.
Na sua recente visita a Portugal para a atribuição de Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Lisboa (tinha mais lógica que o fosse pela Faculdade de Economia de Coimbra…), disse duas coisas contra a corrente, que deixou os admiradores desiludidos e os adversários académicos mais do que satisfeitos.
Na conferência de imprensa que antecedeu a cerimónia, começou por insistir nos malefícios de mais austeridade como solução para a recuperação económica e a saída da crise, para de seguida vir dizer que os salários em Portugal deviam descer (título maioritariamente escolhido pelos media, com a omissão das referências), para aumentar a competitividade.
Em primeiro lugar, descer salários é a forma mais direta de aumentar as medidas de mais austeridade, o que só pode ser um paradoxo, inadmissível a pessoa tão inteligente e bem formada!
Em segundo lugar, o que Krugman disse (e eu ouvi diretamente) foi que Portugal devia descer os salários 20% a 30% em relação à Alemanha, o que não é bem a mesma coisa!
Apesar de não encontrar atualizado o valor médio dos salários na Europa, vejamos:
Em Portugal, o Salário Mínimo em 2010 era de 450 € e em 2011 era e continua a ser de 485 €, o que não nos permite comparar com o da Alemanha, já que lá não existe Salário Mínimo e o conceito é substituído pelo montante mais baixo que um trabalhador pode legalmente receber pelo seu trabalho, em algumas profissões.
Passando ao Salário Médio Bruto, verificamos que em Portugal em 2010 correspondia a 1.431,73 €, enquanto na Alemanha, em 2009, esse Salário Médio Bruto era de 2.499,67 €.
Deixando de lado as diferenças do ano (o que nos prejudica) e fazendo as contas propostas pelo Nobel, se auferíssemos os ordenados da Alemanha baixados em 30%, o salário médio em Portugal deveria ser de 1.749,77 €, o que significa que estamos 318,04 € abaixo da sugestão, o que quer dizer que deveríamos ser aumentados, matematicamente…
Por outro lado, tendo em conta que o salário médio de um trabalhador na Europa em 2009 foi de 27.036 €, enquanto o salário médio de um trabalhador na Inglaterra, Holanda e Alemanha variaram de 46.000 € para quase 41.000 € e em Portugal foi de 20.044,22 € (fazendo contas a 14 meses), é fácil perceber que estamos mais de 50% abaixo dos salários dos alemães… Assim sendo, aqui há gato!
Mas se tivermos em conta que há países na Europa com salários mais baixos do que os nossos e ainda pior do que nós, pode-se concluir que os salários não são o entrave ao crescimento/concorrência.
Como explicar estes “aparentes” paradoxos? Com o nervoso do doutoramento, mesmo sendo de faz de conta?
Nunca me esqueço, que quando era árbitro de natação e me calhou na minha pista o Campeão Olímpico e recordista Mundial, o russo Alexander Popov, no momento da partida para uma tentativa de novo recorde mundial, as pernas dele tremiam como varas verdes, o que me deixou perplexo, mas me fez compreender que até os maiores tem momentos de ansiedade, com consequências negativas, como tem os mais fracos. Talvez isto sirva para entendermos o que Paul Krugman não conseguiu explicar, mas nós percebemos, porque quisemos perceber…

2 comentários: