Obama tinha conseguido, até à última atualização desta reportagem, 303 votos de um total de 538, contra 206 do rival. Eram necessários 270 votos para garantir a vitória.
No voto popular, Obama tinha 56.129.652, contra 54.674.214 do rival até ao momento.
Não se trata de fazer transposições das divisões político-ideológicas europeias para os Estados Unidos. Muito menos se trata de endeusar Barack Obama. Ao fim de 4 anos, Obama cumpriu duas promessas importantes: retirou do Iraque e iniciou uma reforma no sistema de saúde. Mas, no fundamental, foi incapaz de encontrar uma resposta clara para a crise económica. Para isso contribuiu o bloqueio republicano a partir da maioria no Congresso que conquistou em 2010. Contribuiu a inépcia europeia, que impede qualquer solução global. Contribuiu a sua inexperiência executiva. E contribuiu a trágica moleza democrata que contrasta com a perigosa firmeza programática dos republicanos.
Mas ontem, o que estava em causa não era, antes de mais, a vitória da Obama. Era a derrota de Mitt Romney e, mais importante ainda, dos republicanos. Porque aquele partido se tornou num ninho de lunáticos, prontos a fazer o planeta regressar, em plena crise e em versão piorada, para a era Bush. Para o intervencionismo unilateral, a arrogância belicista, a irresponsabilidade absoluta em política externa e o holiganismo ambiental.
E o que estava em causa era não acrescentar à cegueira de Merkel a cegueira de Romney. Com os republicanos de novo na Casa Branca regressaria a mesmíssima política económica e financeira que levou os EUA do banquete em Wall Street ao subprime e à crise financeira internacional, que os portugueses sentem hoje na pele. Esta eleição dizia-nos, como poucas, respeito.
A vitória de Obama não respondia a nenhum dos nossos problemas. Esses terão de ser resolvidos na Europa e sobretudo na Alemanha. Mas a vitória de mais um representante da selvajaria financeira tornaria ainda mais improvável qualquer solução para esta crise. A Europa, que Romney vê como um antro de socialistas, não tem razões para beber champanhe. Mas pode, ao menos, suspirar de alívio.
Resumo em 13 declarações ou "gaffes" que marcaram os últimos meses da campanha eleitoral norte-americana, do Presidente Barack Obama e do seu adversário republicano Mitt Romney, seus candidatos a vice-Presidente e um candidato a senador.
"Se você teve sucesso, alguém nesse trajeto o ajudou. Houve um grande professor a certo ponto da sua vida. Alguém ajudou a criar este incrível sistema americano que permitiu que prosperasse. Alguém investiu em estradas e pontes. Se você tem um negócio - você não construiu isso. Outra pessoa fez com que isso fosse possível" (Barack Obama num discurso de campanha no Estado da Virgínia a 13 de julho, criticado por republicanos por desvalorizar a iniciativa privada).
"Não sei como o Presidente pode ter chegado ao posto, com 23 milhões de pessoas sem emprego, o desemprego a subir, uma crise económica em casa das pessoas e despender a sua energia e paixão durante 2 anos a lutar pelo Obamacare em vez de lutar por empregos. Você matou empregos" (Mitt Romney, debate presidencial de Denver, Colorado, 3 de outubro).
"A Guerra Fria acabou há 20 anos. Você parece querer importar as políticas externas dos anos 1980, tal como as políticas sociais dos anos 1950 e as políticas económicas dos anos 1920", (Barack Obama, no debate presidencial de Boca Raton, Florida, 22 de outubro).
"O senhor Presidente tem direito ao seu próprio avião, à sua própria e casa, mas não tem direito aos seus próprios factos. Não tem qualquer plano para cortar o financiamento à Educação", (Mitt Romney, no debate presidencial de Denver, Colorado, 3 de outubro).
"47% das pessoas votam no Presidente [Obama], seja como for. Há 47% que estão com ele, que são dependentes do Governo, que acreditam que são vítimas, que o Governo tem responsabilidade de cuidar deles, que acreditam que têm direito a cuidados de saúde, alimentação, habitação, tudo. Não pagam impostos sobre rendimentos, [o meu papel] não é preocupar-me com estas pessoas. Nunca vou convencê-los a serem responsáveis e tomar conta das suas vidas" (Mitt Romney em discurso, ressurgido durante a campanha, num evento à porta fechada de angariação de fundos de campanha com eleitores abastados na Florida, em maio)
"Acredito que Mitt Romney é um bom homem, que ama sua família e cuida da sua fé. Mas quando diz que 47% dos americanos se consideram vítimas e não têm responsabilidade, fala de veteranos, estudantes, soldados no ativo e trabalhadores. Quero lutar por eles. É o que tenho feito nos últimos anos", (Barack Obama, no debate presidencial de Hempstead, Nova Iorque, 16 de outubro).
"Esses 47% são a minha mãe e pai, as pessoas com quem eu cresci, os meus vizinhos. São pessoas idosas, são veteranos e combatentes no Afeganistão", (vice-Presidente Joe Biden no debate com republicano Paul Ryan, 11 de outubro)
"Não quero ir pelo caminho da Espanha. Quero ir pelo caminho do crescimento que põe os americanos a trabalhar", (Mitt Romney, no debate presidencial Denver, Colorado, 3 de outubro).
"A sugestão de que alguém na minha equipa, a secretária de Estado [Hillary Clinton], a embaixadora na ONU [Susan Rice], ou outra pessoa faria jogos políticos ou ludibriaria o público quando perdemos 4 dos nossos é insultuosa. Não é o que fazemos, não é o que eu faço como Presidente ou comandante em chefe das Forças Armadas.", (Barack Obama, no debate presidencial de Hempstead, Nova Iorque, 16 de outubro, quando acusado de ter sonegado informação sobre o atentado que vitimou o embaixador na Líbia a 11 de setembro).
"América não dita a outras nações. Nós libertamos outras nações de ditadores", (Mitt Romney, no debate presidencial de Boca Raton, Florida, 22 de outubro, acusando o Presidente de ter dito nos media árabes que os Estados Unidos "troçaram e ignoraram" o mundo muçulmano e "frequentemente ditaram" ordens).
"O governador Romney talvez não tenha passado tempo suficiente a observar como funcionam as nossas Forças Armadas. Falou na Marinha, por exemplo, e que temos menos navios do que em 1916. Bom, governador, também temos menos cavalos e baionetas, porque a natureza dos nossos militares mudou. Temos umas coisas chamadas porta-aviões em que os aviões aterram. Temos uns navios que navegam debaixo de água, chamam-se submarinos nucleares. Portanto, isto não é um jogo de batalha naval em que estamos a contar navios. É sobre que capacidades temos" (Barack Obama, no debate presidencial de Boca Raton, Florida, 22 de outubro).
"Do que tenho ouvido dos médicos [gravidez causada por violação] é realmente rara. Se é uma violação verdadeira, o corpo da mulher tem maneiras de cortar com essa coisa toda" (candidato republicano ao Senado Todd Akin em entrevista a uma cadeia de televisão do Missouri).
"Acho que o vice-Presidente sabe muito bem que às vezes as palavras não saem da boca fora da maneira certa" (candidato republicano a vice-Presidente Paul Ryan no debate de vice-presidentes a 11 de outubro, a propósito de Joe Biden, conhecido por medir pouco as palavras).
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