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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A novilíngua de um neoconservador “p’rá frentex”…

O léxico que Passos Coelho introduziu na Língua portuguesa, criando novas expressões e mudando a semântica de outras já existentes, ajuda a mostrar o rumo (ou a falta dele) do Governo desde que tomou posse. É altura de abrir o dicionário e traduzir o Passês para o Português.
Pedro Sousa Carvalho
Desvio colossal: Quando chegou ao Governo, Passos disse ter encontrado um desvio colossal nas contas públicas. Nunca se chegou a provar a existência do tal desvio. Mas à conta disso tirou aos portugueses metade do subsídio de Natal em 2011, o que mais tarde até viria a mostrar-se desnecessário já que acabou por transferir as pensões dos bancários para o défice. Desvio colossal passou a designar um desvio de existência duvidosa.
Malabarices: Quando preparava o Orçamento para 2012, Passos anunciou que o documento não teria "malabarices" como aconteceu no passado. A meta do défice de 2011 foi conseguida com o fundo de pensões da banca e a meta deste ano será atingida com a receita extraordinária da concessão da ANA. Malabarices passou a designar contabilidade orçamental criativa.
Custe o que custar: É o Governo a dizer ao que vinha. É uma adaptação idiomática do ‘mais papista do que o Papa' ou do ‘mais troikista do que a troika'.
Coiso: A política do ‘custe o que custar' fez disparar o desemprego, ou melhor, o coiso, usando o vernáculo do ministro Álvaro Santos Pereira.
Piegas: Quando as pessoas começaram a queixar-se do coiso, Passos mandou-os emigrar e pediu aos que cá ficassem que deixassem de ser piegas. Piegas é o indivíduo que se queixa de não ter trabalho.
Sair do lombo: Os sacrifícios "estão-nos a sair do lombo", disse então Passos Coelho. Lombo passou a designar a carteira dos portugueses, cada vez mais vazia com o aumento de impostos.
Porcaria na ventoinha: Em Julho, Passos garantia que o Governo não estava, na altura, "a preparar qualquer aumento de impostos" e que recusava "pôr porcaria na ventoinha para assustar os portugueses". 2 meses depois anunciou mais impostos. Em Passês, ‘porcaria na ventoinha' significa aumentar impostos.
Regabofe: "Ainda há quem pense que, passada a crise, o regabofe pode voltar. Enganam-se!". Era Passos Coelho a falar sobre a regra de ouro, ou seja, o limite ao défice na Constituição. Regabofe é sinónimo de políticas expansionistas.
Que se lixem as eleições: Quando os deputados do PSD se aperceberam da falta de Regabofe e do impacto da austeridade nas sondagens ficaram assustados. ‘Que se lixem as eleições' passou a designar uma mensagem de tranquilidade de um líder político.
Viragem económica: Mas era preciso dar ânimo ao partido. Passos anuncia então o fim da recessão para 2013. Mas a troika e Orçamento para 2013 mostram que vamos continuar em recessão. Viragem económica passou a designar um modelo macroeconómico concebido no calor da festa do Pontal.
Refundação: Com a economia a afundar, eis que Passos nos propõe um novo vocábulo: Refundar. Não se assuste que não vamos afundar de novo. No dicionário de Passos Refundação é tão só rever a Constituição: Trocar o conceito de tendencialmente gratuito na saúde e na educação por copagamentos (pagar em função dos rendimentos) e talvez dar aos cidadãos uma maior liberdade de escolha na gestão da sua pensão de velhice durante a idade activa. Não é uma ideia descabida e só peca por vir tarde. Mas esta é uma discussão que só fará sentido no dia em que o Governo, pela via fiscal, repuser todo o poder de compra que os portugueses perderam durante o programa da ‘troika'. Se o Estado fica com mais de metade do meu salário não posso autofinanciar a minha saúde, a educação dos meus filhos e a minha reforma.
Até lá, o melhor é mesmo o Governo continuar a inventar palavras, que é aquilo que até agora tem sabido fazer melhor.

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