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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A “crise” dos media Lusos vista pelos media de fora…

Diante da queda de receita com anúncios publicitários, os principais veículos em Portugal anunciam cortes e demissões. Jornalistas entram em greve e questionam o futuro do jornalismo de qualidade no país.
Alison Roberts
Fora das instalações do jornal Público, principal jornal diário de Portugal, jornalistas tentam manter-se animados enquanto fazem greve contra os planos do corte de mais de 1/4 dos jornalistas da publicação.
O jornal Público – de propriedade do grupo Sonae, controlado por um dos homens mais ricos de Portugal – nunca foi exatamente rentável, mas tem prestígio. Agora, porém, diante da pior recessão no país em 4 décadas, a publicação tem visto a sua receita com anúncios cair, o que levou os seus donos a anunciar cortes drásticos.
Qualidade em risco
Jornalista do Público há 11 anos, Sofia Lorena, da editoria de notícias internacionais, afirma não imaginar como a publicação conseguirá sobreviver com tantos cortes nos postos de trabalho.
"Existe um procedimento legal e neste momento estamos em fase de negociações. Mas a intenção de despedir 48 pessoas é oficial", explica Lorena, vencedora de um dos principais prémios jornalísticos de Portugal no ano passado com reportagens sobre o Iraque e o Kuwait.
"São 48 de 240 trabalhadores ao todo. Entre os despedidos estarão 36 jornalistas, do total de 120. Não será possível fazer o Público com a qualidade de hoje sem esses trabalhadores, sem esses jornalistas",  avalia Sofia Lorena. Ela é membro da comissão de funcionários consultado sobre os cortes, e vem lutando para proteger os postos de trabalho em risco.
Mas ela e seus colegas também se preocupam com as amplas implicações para o jornalismo em Portugal. Jornalistas do Público juntaram-se aos de outras publicações para discutir o futuro do jornalismo no país. Entre os que se reuniram estavam funcionários da agência pública de notícias Lusa. Para participar das discussões fizeram uma pequena pausa no 4º dia de piquete de greve, deflagrado depois que o governo anunciou planos para reduzir o financiamento da agência em 1/3.
Cortes generalizados
Mais uma vez a culpa recai sobre a crise económica, já que para receber ajuda da zona do euro Portugal é obrigado a fazer profundos cortes de gastos. Ao contrário do jornal Público, as demissões na Lusa serão voluntárias. Sofia Lorena é uma dos muitos que temem que os cortes significarão a perda da cobertura de notícias em lugares onde os correspondentes da Lusa são, muitas vezes, os únicos que atendem os leitores portugueses.
"A Lusa tem pessoas em todas as partes do mundo. Nós não temos e ninguém em Portugal tem jornalistas sequer em países onde se fala português. Então, se não tivermos a Lusa lá, não estaremos lá", ressalta.
Ameaças à qualidade do jornalismo nos setores público e privado vêm num momento em que vários protestos de massa contra a austeridade se realizam em Portugal e que o modelo político e económico do país é questionado.
Lorena diz que é exatamente nessa situação que os jornalistas são mais necessários. "Neste tempo de profunda crise é quando mais precisamos que os media tenham capacidade de realizar o seu trabalho sob as melhores condições. E o que temos é exatamente o contrário. Todos os jornais em Portugal perderam dezenas de funcionários neste ano. Por isso será algo catastrófico se todos esses cortes forem levados adiante."
Esta opinião é compartilhada por muitos em Portugal. Mesmo antes dos recentes cortes, Carlos Magno, presidente da ERC, tinha dito que a democracia portuguesa estava sob ameaça. "Nenhuma democracia sobrevive sem uma imprensa forte. A imprensa portuguesa é vulnerável à crise económica e incapaz de discutir maneiras de sair dela de forma razoável, racional, de mobilizar cidadãos e de estar aberta a todas as opiniões – ou seja, opiniões alternativas sobre questões económicas", destacou.
Implicações mais amplas
Segundo Carlos Magno, os grupos de comunicação em dificuldades financeiras estão a ser "invadidos" por capital financeiro proveniente de Angola, ex-colónia portuguesa, com diferentes tradições quando se trata de liberdade de expressão.
De maneira ainda mais surpreendente, há preocupações quanto à emissora pública estatal RTP, após o consultor de privatizações do governo ter sugerido que o principal canal de televisão do país poderia ser entregue a investidores privados.
Magno acredita que o que acontecer com a RTP terá uma enorme influência sobre o resto dos media. Ele avalia que grandes oportunidades comerciais são esperadas num mundo onde há um rápido crescimento de economias de língua portuguesa como Brasil, Angola e Moçambique. "A RTP vai ser uma espécie de pedra fundamental para definir grupos portugueses no futuro, que poderão crescer e consolidar-se, ou tornarem-se cada vez menores e morrer. Acho que a coisa mais importante é impulsionar grupos portugueses e levá-los a competir no espaço linguístico", disse Magno.
No meio a incertezas, Sofia Lorena ressalta que a crise está a unir os jornalistas de diferentes organizações, mesmo estando cada no seu piquete de greve.
"Acho que as circunstâncias estão a ampliar a solidariedade, porque as pessoas estão a perceber que não se trata só de alguns postos de trabalho, mas sim todo o propósito da nossa profissão que está em risco. Há um senso de urgência: de que forma esse processo vai afetar a democracia e, se há alternativas, quais seriam elas", afirma Lorena.
É público que as questões do Público são questões privadas, que tem a ver com o lucro ou menos prejuízo, que sempre deu, ao que dizem, como investimento na opinião publicada e com objetivos…
É claro que são nacionais, culturais e políticas as questões da Lusa, que sendo uma empresa pública tem implicações com o setor privado, permitindo que estrangeiros (mais uma vez) se apropriem do que é de todos, procure orientar a linha editorial em benefício próprio, mesmo que dê prejuízo, mas sobretudo com o corte umbilical com o mundo lusófono, com a redução de testemunhas in loco, que nos deem o testemunho abrangente e em tempo, do que se passa no mundo.
Sendo a Lusa a maior e melhor fonte dos restantes meios de comunicação, públicos e privados, todos seremos privados de uma informação objetiva, que limitará o nosso direito à informação e limitará os media no direito a informação que nos forme…
A crise dos media em Portugal é a média baixa dos lucros de publicidade, em virtude de o consumo interno vir a reduzir, reduzindo por isso a economia até à sua eliminação e só nisto de entrelaçam as consequências da crise que nos abraça de morte, a todos, públicos ou privados…
Acrescente-se a entrada da Internet na área da comunicação social e a sua “gratuitidade”, que transfere os lucros de antes dos proprietários dos meios de comunicação tradicionais para os operadores cibernéticos…
Por isso a solidariedade entre os profissionais, que sabem que ainda tem algum poder e pouco tempo...

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