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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Só porque são ambos americanos?

Quer o Presidente cessante seja reeleito, quer o seu adversário republicano vença as presidenciais de amanhã, as relações económicas e políticas com o Velho Continente não deverão mudar sensivelmente, escreve o correspondente do diário italiano Il Sole 24 Ore nos Estados Unidos.
Amanhã (hoje), os norte-americanos vão às urnas, levando no espírito uma provocação de última hora do candidato republicano, Mitt Romney, sobre a Europa. "A Itália, a Espanha e a Grécia", símbolos da loucura social-orçamental europeia seriam o modelo de Barack Obama. Será o momento para um euro-bashing, para bater na Europa? Para esta se tornar um dos grandes temas "estratégicos" de que se falará nos próximos meses, se Romney levar a melhor? E se o vencedor for Obama? Obama é a favor ou contra a Europa? Não foi ele que se autoproclamou o "primeiro Presidente originário do Pacífico", marcando assim uma viragem no diálogo transatlântico? Que fará no seu segundo mandato? Voltará a reservar à Ásia a sua primeira visita ao estrangeiro, relegando a Europa para segundo plano?
Estas perguntas são legítimas. Mas, no que se refere à Europa, a antiga grande ausente dos debates eleitorais até Mitt Romney falar nela para a ridicularizar, impõe-se uma distinção entre os discursos de campanha, os grandes movimentos de fundo e a realidade dos factos. Se nos debruçarmos sobre os números, apercebemo-nos de que os laços entre a Europa e os Estados Unidos são tão fortes e ramificados que tornam absurdas estas polémicas.
Uma das maiores alianças da História
Os investimentos diretos dos Estados Unidos na Europa e vice-versa são muito superiores aos da China e do Japão reunidos; as trocas comerciais aumentaram 14%, atingindo os 636 mil milhões de dólares [cerca de €500 mil milhões] em 2011, a economia dos dois blocos transatlânticos gera um volume de negócios de 5 biliões de dólares e dá emprego a 15.000.000 de pessoas; a investigação e desenvolvimento dos dois blocos representa 65% do setor, a nível mundial. A economia transatlântica é também 54% da produção mundial e 40% do poder de compra; se metade das barreiras comerciais fossem suprimidas, as trocas poderiam aumentar 200 mil milhões de dólares. Sem falar na solidariedade do Tratado do Atlântico Norte [NATO], uma das maiores alianças da História.
Comecemos por nos ocupar do caso Mitt Romney: o seu discurso é irritante, por ser egoísta. Mas é um discurso efémero, ideológico, moldado para as eleições. Aliás, o candidato republicano investiu na Europa – inclusive em Itália – e sempre fez negócios vantajosos. Se Romney ganhar, o pragmatismo levará a melhor sobre a retórica. Do ponto de vista político, a América de Romney não será diferente da de Obama. Designadamente porque a Reserva Federal, o banco central, primeiro ator das relações bilaterais no que se refere à gestão da crise financeira, se manterá sob o comando de Ben Bernanke, sob o signo da continuidade e da coordenação.
E Obama? É verdade que Obama começou por colocar o Pacífico à frente da Europa. Mas percebeu quase de imediato que os grandes problemas geopolíticos, da estabilidade da bacia do Mediterrâneo às dificuldades económicas, se jogam na outra margem do Atlântico, a margem onde se situam as raízes étnicas, ideológicas e culturais da América. E o Presidente mudou rapidamente de tom.
China e EUA estão prestes a ultrapassar-nos
O grande movimento de fundo em curso é uma questão diferente: é verdade que as grandes potências económicas que são a China e os Estados Unidos estão prestes a ultrapassar-nos. Mas cabe-nos a nós acompanhar o ritmo, criar estruturas comuns, como as concebidas durante o G-20 de Los Cabos, fazer progredir as instituições "federais", desregulamentar, eliminar as estruturas rígidas. Com efeito, não podemos melindrar-nos pelo facto de a Europa estar ausente dos debates presidenciais e, ao mesmo tempo, encarar com desagrado as críticas que nos são dirigidas.
As mensagens polarizadas de Mitt Romney e de Barack Obama têm um fundo de verdade – quando nos acusam de lentidão na resolução da crise económica: o Estado desempenha um papel excessivo nas nossas economias e o nosso modelo de competitividade tem dificuldade em alcançar o nível da concorrência mundial. Também aqui, trata-se de factos. Que devemos ter em conta, independentemente das instrumentalizações eleitorais ou pós-eleitorais mais ou menos agressivas ou antipáticas de Mitt Romney e Barack Obama.

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