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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Com os funcionários parlamentares ninguém brinca!

Os deputados gregos aprovaram o novo plano de austeridade, necessário para obter mais uma parcela da ajuda internacional. Mas esta votação, conseguida após longas negociações, num parlamento cercado por manifestantes, não vai salvar um país que se atola na crise política, lamenta a imprensa grega.

Foi a "última oportunidade", garante To Vima. Em 7 de novembro, o parlamento grego aprovou os €18 mil milhões em cortes previstos no terceiro memorando assinado pelo Governo de coligação de Antonis Samaras com a troika UE-BCE-FMI. Houve 153 deputados a votar a favor e 128 contra, no total de 299 presentes. Atenas espera assim receber €31,5 mil milhões da UE e do FMI e evitar ruturas de pagamentos no final do mês. Mas no site do semanário, esta é considerada "uma vitória de Pirro":
É óbvio que o Governo sai ferido desta votação. O socialista PASOK perdeu 6 deputados, a Nova Democracia, 1; e ambos têm a garantia de que o terceiro partido de apoio à coligação, a Esquerda Democrática de Foris Kouvelis, vai continuar a apoiar as decisões do Governo. [...] Com o voto dos deputados, o Governo pode agora pedir o dinheiro aos europeus e exigir que seja rapidamente libertado o pagamento prometido. Esta "última votação" e a "última oportunidade" que dela resulta não devem ser desperdiçadas. Pela simples razão de que seria um crime, perante os enormes sacrifícios feitos pelo povo grego.
"Uma votação de filme de terror" para "um dia vergonhoso", resume em dois títulos To Ethnos. Porque a votação foi feita já noite dentro, depois de longas negociações e sob pressão de uma multidão de mais de 70.000 manifestantes reunidos em frente do parlamento para protestar contra as novas medidas de austeridade. Na sua crónica, o colunista George Delastik insurge-se contra o espetáculo proporcionado pela democracia grega:
A poucas horas da votação, o ministro das Finanças Yannis Stournaras, propôs-se acrescentar ao texto a redução dos salários dos funcionários do parlamento. Obviamente, eles insurgiram-se, mobilizaram-se e reuniram-se de emergência para decretar greve. Mobilizaram a polícia [habitualmente mobilizada para controlar os manifestantes], para bloquearem a entrada do gabinete do primeiro-ministro. Inevitavelmente, o ministro das Finanças, perante a pressão, retirou o seu projeto. Mas isto mostra o circo que vai no parlamento.
Independentemente das condições em que foi obtido, esta aprovação não resolve nada, adverte o Kathimerini, por seu lado:
A Grécia não pode ser salva num único ato, como seja a aprovação de uma lei. Salvar a Grécia tem de ser um processo demorado, que requer a participação ativa da população. [...] Os políticos gregos têm de parar de depender de mudanças de equilíbrios de poder na Europa. Têm de parar de acusar de insensibilidade as "forças conservadoras". Têm de parar de contar com um confronto entre Washington e a Alemanha de Merkel. [...] A Grécia é um vestígio do Império Otomano, desde o seu colapso, há quase um século. Mais uma vez, é empreendido um esforço de ocidentalização. Isso exige mais do que introduzir ou impor uma nova política económica.
Pondo de parte (sem por) todo o drama do povo grego, não custou nada (embora tivesse custos) ao Parlamento “aprovar” o que a troika quer, facilitando assim o desbloqueio da nova tranche, que não vai servir para pagar nada ao povo, mas para pagar aos credores uma fatia de leão…
E pronto, a Grécia não caiu, os beneficiários da Eurozona vão ter mais uns tempos para sacar mais algum e a Dra. Merkel lá vai levando os outros a arrastar a cruz até ao seu calvário, as eleições alemãs…
Não se pode é brincar com os funcionários dos Parlamentos…
No dia 7 de novembro, Angela Merkel exprimiu a sua visão sobre a Europa perante o Parlamento Europeu em Estrasburgo. Mas a chanceler, constata o Süddeutsche Zeitung, não conseguiu convencer “ninguém com o seu plano”. Por trás da recomendação de beneficiar da crise para resolver “erros fundamentais da união económica e monetária”, Merkel esconde “o projeto de reformas mais ambicioso desde a introdução do euro”, estima o diário de Munique.
Em primeiro lugar, Merkel quer uma nova política dos mercados financeiros (com uma autoridade bancária europeia); em segundo, uma política fiscal (se possível com um cão de guarda [no sentido de chefe supervisor] europeu); em terceiro, um Parlamento Europeu mais forte para legitimar os pontos anteriores e, por fim, uma política económica comum.
A chanceler propõe portanto intervir de forma inédita nos assuntos internos dos países-membros. Uma proposta que será certamente rejeitada por estes últimos, realça o SZ, que qualifica esta reação de “patética”.
A chanceler deve sentir-se sozinha nestes últimos dias. […]
Em França, o Presidente isola-se no seu mundo imaginário.
Em Espanha e na Itália, regozijam-se da diminuição do custo da dívida.
[…] E na Grécia, ainda continuam com a esperança de renegociar. […]
Merkel não tem formas de exercer pressão para se impor face à maioria letárgica. A Europa cai novamente na desorganização. […] Talvez tivesse sido melhor voltar a utilizar ferramentas de tortura, em vez de planos de construção.
Em Genebra, Le Temps realça “a incapacidade de Angela Merkel de sair do papel de médica. Dotada para curar os seus pacientes, sem no entanto lhes inspirar confiança”.
Para o diário, o grande discurso de Angela Merkel perante os deputados europeus ilustra esta dimensão esquecida por Berlim:
Os medicamentos da doutora Merkel são “Made in Germany”. São feitos para curar dores físicas, para restabelecer o bom funcionamento de órgãos danificados por anos de integração comunitária mal gerida. Mas a Europa não sofre apenas de reumatismos. Esta está com uma grave depressão, não tem capacidade de se projetar no futuro. O problema também está na cabeça, doutora Merkel! A química alemã, à qual esteve quase a consagrar a sua vida profissional, não resolve tudo.

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