Ao criticar a utilização da crise económica como uma "desculpa" para não se investir na proteção ambiental, o presidente equatoriano Rafael Correa disse que as nações ricas precisam mudar o foco das suas ações. "Não devemos pensar em salvar o sistema financeiro, e sim o meio ambiente. Todos aqui sabem o diagnóstico para o problema, a questão é política. Quem polui, quem degrada, não faz esforço para mudar", disse durante o plenário com os chefes de Estado na Rio+20.
"Imagine se existisse uma selva amazónica nos países ricos e nós, os pobres, consumíssemos os seus recursos. Com certeza eles já teriam exigido compensações", disse ao defender que o conceito da Eco92 de responsabilidades comuns, mas diferenciadas, precisa ser efetivamente cumprido. "Eles poluem mais, degredam mais, mas a conta cai sempre sobre os pobres", afirmou ao arrancar aplausos na plateia.
Ao lembrar o discurso de uma adolescente canadiana - A menina que calou o mundo - na abertura do evento, Correa criticou a ausência de líderes das principais nações ricas. "No grupo dos 20 mais ricos, 80% não veio a esta conferência. Para eles não é importante e continuará a não ser enquanto não se mudar as relações de poder". O equatoriano disse ainda que espera que ocorra uma "sensibilização" dos governantes. "A esperança é que esses próprios cidadãos do norte, que vivem em função do capital, percebam essa necessidade. Os indignados do mundo ainda têm esperança numa nova forma de poder".
Aproveitou também para criticar o documento final da Rio+20, que não contemplou a criação de uma declaração universal do direito da natureza, como defendia o Equador. "Pela nossa iniciativa, teríamos um tribunal internacional que obrigasse todos a cumprir os direitos da natureza. Seria uma enorme mudança para o bem-estar do planeta", destacou.
O presidente mostrou um gráfico para exemplificar a diferença no percentual de emissões de CO2 de nações pobres como o Equador, de ricas como os Estados Unidos. "Com o excesso de consumo dos ricos, quem sofre são os pobres. Esta é uma das maiores injustiças do planeta", completou.
Sobre a Rio+20
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.
Até amanhã, ocorre o Segmento de Alto Nível da Rio+20, com a presença de diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não vieram ao Brasil, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron.
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