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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

OBA! P´ra melhor está bem, está bem…

1. A política é a arte do possível. Por vezes sacrificam-se valores, sonhos ou utopias por razões pragmáticas, de gestão de expectativas e riscos políticos. Há 4 anos, Barack Obama surgiu como a esperança mundial de que, afinal, a política é compatível com ideais firmes e convicções à prova de bala, para além da "espuma dos dias" e do economicismo que dominava (e domina) a sociedade contemporânea. Barack Obama era a resposta aos que julgavam que a receita que levou à crise económica e financeira de 2008 se perpetuaria eternamente. Que independentemente da expressão de vontade democrática do povo, a política continuaria sempre a ser dominada pelos mercados, essa entidade abstrata e misteriosa que domina o nosso quotidiano, o nosso discurso político - com a nossa aquiescência tácita. Barack Obama assumiu-se, pois, como o "presidente-símbolo": condecorações que acabou por receber posteriormente - como o Nobel da Paz - limitaram-se a confirmar que Obama, mais do que um símbolo, era um símbolo.
2. Conseguiu Obama corresponder às expectativas que o mundo criou à sua volta? Não: Obama não correspondeu às (tão altas!) expectativas que o mundo criou quanto à sua presidência... e também desiludiu muitos americanos. De facto, a vitória de Obama ontem foi muito sofrida, lutando taco-a-taco com Mitt Romney, o qual teve a argúcia política de perceber as fragilidades políticas de Barack Obama e explorá-las, ao mesmo tempo, que disfarçava a sua (enorme) impreparação para o cargo a que concorria (e, nesse sentido, a campanha republicana teve mérito). No entanto, se analisarmos os resultados eleitorais por sectores da população e pelo alinhamento político-partidário dos Estados, concluímos que a chamada "grande coligação" de Barack Obama se manteve praticamente inalterada. Ou seja, a população hispânica, os mais jovens (entre os 18-25 anos), os afro-americanos e os estados considerados liberais mantiveram-se ao lado do presidente democrata. Repetindo-se, assim, a coligação de 2008, embora em termos menos expressivos. Por outro lado, swing states (ou seja, Estados não-alinhados que ora votam maioritariamente no partido republicano, ora votam maioritariamente no partido democrata) como a Iowa e o Wisconsin.
Por que razão decidiram os americanos confiar novamente Barack Obama, não obstante o visível descontentamento quanto ao seu 1º mandato? Na minha opinião, por uma razão muito simples: aqueles que votaram em Obama em 2008 entenderam que o Presidente teve de dar 1 passo atrás, para dar 2 em frente. Isto é, num país tão complexo e diversificado (a todos os níveis) como os Estados Unidos da América, seria contraproducente implementar reformas profundas que merecessem o repúdio da maioria sociológica conservadora. As mudanças estruturais, pelo contrário, têm de ser feitas gradualmente. Esta foi, aliás, a grande mensagem da campanha de Barack Obama. A mensagem do eleitorado americano pró-Obama foi, pois, a seguinte: nós ainda acreditamos que podes fazer a diferença, embora nos tenhas desiludido nos últimos 4 anos. Aliás, não deixa de ser curioso que Obama no discurso desta madrugada tenha afirmado que compreendeu a mensagem e que se vai tornar um melhor presidente após esta reeleição - Obama marcou pontos ao revelar humildade democrática (qualidade que tem faltado aos políticos europeus). A este propósito, devo salientar que o discurso de vitória de Obama foi o seu melhor discurso desde há muito - parece que o Obama que encantou os democratas logo na convenção de 2004 (na sua primeira aparição pública de fôlego) ressuscitou com a campanha eleitoral e esta vitória. As frases fortes do discurso - chamamos a atenção - são as mesmas do discurso que Barack Obama proferiu na sua primeira vitória eleitoral nas primárias de 2008 em Iowa ("somos uma só nação; preferimos a união à divisão").
Por outro lado, julgo que o Tea party acabou por beneficiar Obama: muitos eleitores, embora descontentes com Obama, preferiram votar no candidato democrata para derrotar o candidato de um partido republicano mais radicalizado.
Posto isto, para Portugal? É positiva ou negativa a vitória de Barack Obama? É claramente positiva. Em primeiro lugar, porque a política económica de Barack Obama é completamente distinta da seguida pela União Europeia, leia-se da obstinação (essa sim fascista, Henrique Raposo!) da Alemanha da senhora Angela Merkel. Obama entende que a recuperação deve assentar no consumo e no investimento. Ora, tudo o que seja enfraquecer Angela Merkel é bastante positivo para Portugal: até porque uma vitória de Mitt Romney daria uma força enorme para os ultraliberais cá do sítio saírem descaradamente do armário novamente. E daria um suplemento de alma acrescida a Merkel. Além disso, Barack Obama tem chamado a atenção que a Europa deve resolver unida os seus problemas - e não com base num diretório. É, pois, muito positiva para Portugal a vitória de Obama.
Uma última nota para elogiar os Estados Unidos da América e o povo americano. É uma Nação excecional e um povo magnífico, que prestou mais um tributo à democracia (independentemente dos problemas técnicos com o voto eletrónico: lembro que em Portugal não há voto eletrónico, mas há Ruis Pereiras. Lembram-se do que sucedeu nas últimas presidenciais, em que muitos portugueses não puderam votar?).
João Lemos Esteves

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