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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Quase Memória, quase Campanha, quase Separatismo

E outra vez, dos EUA para Portugal e a Lusofonia, uma gentileza em 1ª mão e “exclusividade” e mais uma vez, Obrigado, pela amizade e pela confiança!
memorandum
joão-luís de medeiros
SEPARATISMO” CONSTITUCIONAL...
1 - breves considerações ao ‘pontapé-de-saída’ de 2011
O manuseamento do almanaque da existência continua a ser um ritual mais ou menos rotineiro, todavia desejável. Até mais ver, somos viajantes imaginários da frágil caravela euro-atlântica. A ideia de fraccionar o tempo em lapsos existenciais susceptíveis de serem vigiados pelos impulsos ciumentos do relógio, faz parte da nossa herança de retalhistas da história. O nosso destino foi retalhado... mas nós continuamos inteiros...
Desde que a nação portuguesa foi republicanizada (já lá vai um século), há a tendência para disfarçar o dilema dinástico do presidencialismo português. Dentro de uma vintena de dias, o resultado da sabedoria popular estará à vista de todos: não se vislumbram vestígios de rumo seguro para arriscar na campanha ‘alegre; nem vale a pena dar ‘cavaco’ pela previsível manutenção do inquilinato presidencial ao economista de Boliqueime. A asquerosa equipa de simpatizantes do keynesianismo esquizofrénico (desde 1985 inspirada pelo actual recandidato presidencial) transformou a democracia portuguesa num satélite corporativo do capital europeu. Perante tão fastidiosa suposição, a crise portuguesa não precisa de um estadista político; precisa, tão-somente, dum ‘fiel de armazém’ de formação tecnocrata...
Nas recentes passagens telegráficas pela minha ilha natal (S. Miguel), tenho observado alguns sintomas curiosos de sensibilidade monárquica, na fala de gente de raiz social-democrata (e não só).  
Trata-se de gente que gosta de andar de bem com o Estado e com os homens.
Desde há várias décadas, considero-me discípulo-aprendiz das lições resultantes dos erros cometidos pelo radicalismo professado por alguns dos pioneiros da República (1910), designadamente, a contraproducente ferocidade anti-clerical, e a defensiva relutância em não consentir a legalização da oposição monárquica, de modo a impedir o recurso à glorificação conspirativa... A história recente continua a fortalecer a opinião da cidadania para encerrar a experiência do Estado Unitário, e substituí-lo pela nova aposta constitucional no Estado Regional (como etapa gradual rumo ao sistema Federal). 
Quase me esquecia de recordar que, naquele tempo, um observador britânico observou (quiçá com apropriada ironia) que, até à adesão ao regime republicano encetado em 1910, Portugal já “era uma república governada por monárquicos”...
2 – ‘alea iacta est’ – leia-se: ressaca cesariana na “grande-área” autonómica, com baliza aberta...
Na abordagem das questões políticas, não me parece louvável enveredar pela virilidade materialista, na antiga teimosia de que o estudo dos homens, como o de todos os restantes seres vivos, pertence ao domínio exclusivo da biologia (peço vénia para lembrar que a biologia, ciência objectiva, não nos ensina senão a luta e a selecção derivante da luta... ou seja “o direito de cada um corresponde à sua capacidade de prejudicar o seu semelhante”.
Felizmente, há sempre um clarão intelectual à nossa espera. Sem me servir de maleabilidades teológicas susceptíveis de insultar a inteligência alheia, diria apenas que a moral é capaz de ser a soma de conquistas obtidas pelo homem sobre a tirania dos seus instintos. Se a força constituísse para o homem um imperativo categórico, seria difícil gerar e gerir as necessárias apetências para confrontar a força...
E vai daí a vontade de lembrar que o regime republicano dispensa funções de capatazia. Aliás numa república democrática, o presidente eleito deve ser o primeiro servidor da aventura republicana...
Como ilhéu atlanta-português, não devo esquecer que o meu país, antes de ser culto e letrado, foi camponês, viajante e marinheiro. A vitrina da sua história apresenta mais mártires que santos: Vasco da Gama partiu do Restelo no mesmo ano em que os judeus eram arrastados pelos cabelos até à pia da água-benta! Por volta de 1550, os escravos constituiam 10% da população lisboeta (no âmbito nacional, naquela recuada era, a escravidão não ia além dos 2,5%... hoje em dia, francamente, seria caso para estudo...).  
3 – A roda não inventou a distância, nem a ausência é filha da emigração...
Falta ainda dizer o seguinte: a Autonomia política-administrativa das regiões atlânticas continua a ser um instrumento institucional valioso ao serviço da população que vive e trabalha nos Açores e na Madeira. Compete à maturidade democrática da liderança regional cultivar a clarividência política de reconhecer a validade duma eventual participacão da Diaspora nas questões macro-políticas alusivas ao desafio autónomo...    
Em resumo: a administração dos Açores deve ser da exclusiva responsabilidade daqueles que são (democraticamente) eleitos pela comunidade residente.
E... quanto à Diaspora Açoriana? Vejamos: como ilhéu açoriano com mais de 30 anos de ausência, costumo expressar apenas opiniões pessoais. Defendo que os imigrantes interessados têm obviamente de se preparar para assumir os direitos (responsabilidades) que lhe sejam conferidos pelo Estado de direito. Mais: a Diaspora Açoriana teria certamente interesse em participar (criticamente ou não) nas tais macro-questões do quotidiano político da sua terra natal, numa metodologia baseada na reciprocidade democrática, que dispensaria reivindicações unilaterais inspiradas pelo oportunismo partidocrático.   
Estou convencido de que a maioria dos emigrantes não pediu licença aos donos das ilhas para sair, pelo que não consente ser usada, paternalmente, como saldo eleitoral. Estou confiante em que, no mês de Abril do ano em curso, os ilhéus açorianos irão celebrar os trinta e sete anos de Esperança Autonómica, independentemente da vontade centralista do recandidato presidencial ora em disputa. Aqui, na diáspora lusófona, atrevo-me a sugerir que continuemos firmes a enfrentar com reconhecida galhardia étnica “o luto da mudança duma luta de cansar”, se possível indiferentes à glorificação emocional da ausência mais ou menos subsidiada ou medalhada...
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  Rancho Mirage, Califórnia
  Janeiro, 2011
 Texto de apresentação e foto da autoria de Lélia Nunes daqui
João-Luís de Medeiros é natural da ilha de São Miguel, Açores, e vive nos Estados Unidos desde finais de 1980. Antes de emigrar, trabalhou no sector privado empresarial, e após a instauração da Democracia em Portugal, foi eleito parlamentar à Primeira Legislatura da A.L.R. (Horta, Faial, 1976); mais tarde, serviu como representante açoriano na Assembleia da República (Lisboa, 1978).
As suas publicações em poesia e prosa estão dispersas algures em jornais e revistas da diáspora lusófona. Desde 1976, é colunista-convidado da imprensa comunitária (coluna Memorandum). É co-autor do livro "Em Louvor do Divino" (1993); recentemente, publicou o seu primeiro livro de poemas intitulado "(Re)verso da Palavra" (2007) e em Outubro de 2010 foi apresentado em Ponta Delgada, Açores, o seu último livro “canteiro da memória”.
João-Luís de Medeiros é licenciado ‘cum laude' em Humanidades e Ciências Sociais (University of Massachusetts, Dartmouth); mais tarde, obteve o Mestrado em Ciências de Recursos Humanos (Chapman University, Orange, California).

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