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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Desconstruindo pré-conceitos, preconceituosos…

Os ciganos não têm individualmente uma marca genética ou biológica distintiva, conclui um estudo português publicado recentemente numa revista internacional, que descobriu que as populações ciganas europeias têm origem no noroeste do subcontinente indiano.
“Não há nenhum gene de ‘ciganidade’. As comunidades ciganas, como a portuguesa, não são compostas por indivíduos que tenham uma ‘marca’ genética ou biológica distintiva”, explicou à agência Lusa António Amorim, coordenador do estudo do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP).
“Geralmente pensamos que têm determinadas características e que são portadores de qualquer coisa distintiva. O que se verifica, de facto, é uma atitude social de auto identificação e de reconhecimento pelos outros, mas não corresponde a nada individualmente verificável do ponto de vista genético”, refere o investigador e admite que esta conclusão pode servir para “desdramatizar questiúnculas” ou atitudes xenófobas que surjam em relação às comunidades ciganas.
Contudo, o objectivo principal do estudo, que veio publicado na revista internacional PLos ONE, foi confirmar a origem e raiz comum das populações ciganas e traçar o percurso das suas migrações.
Os investigadores tinham já analisado em anteriores estudos as linhagens masculinas e marcadores genéticos com transmissão independente do sexo das populações ciganas portuguesas.
Agora, o estudo centrou-se nas linhagens genéticas maternas e veio confirmar que a origem destas populações se localiza no noroeste do subcontinente indiano (estado do Punjab).
Concluiu-se ainda que as suas migrações levaram a diferentes graus de mistura com as diferentes populações locais.
Ao contrário da crença actual, explica António Amorim, as comunidades ciganas actuais são geneticamente bastante diversificadas e incorporaram de forma diversa os elementos genéticos das várias populações europeias.
A incorporação de genes de origem europeia é maior quanto maior for a distância geográfica do ponto de origem e à medida que aumenta também o tempo decorrido na migração.
Na investigação foram analisadas directamente 214 pessoas não aparentadas da Península Ibérica (138 das quais de Portugal), tendo os investigadores portugueses contado com a colaboração de cientistas catalães e de um austríaco.
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão

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