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segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Se as mesmas causas provocam os mesmos efeitos…

Uma semana depois da fuga do presidente Ben Ali, repete-se a interrogação: qual será o país árabe que se segue? A revolução tunisina atingiu o Magrebe e o Médio Oriente como uma onda de choque. Graças à Al-Jazira, os cidadãos testemunharam a implosão de uma ditadura árabe por obra e graça de um movimento popular. É a primeira vez que tal acontece - com um esquecido precedente no Sudão, em 1964.
"Os ingredientes da Tunísia estão presentes por toda a parte", da Argélia a Marrocos, do Egipto à Jordânia, trate-se do desemprego, da repressão policial, dos entraves às liberdades ou de esclerose política, declarou a um jornal libanês o investigador Amr Hamzawy, do Carnegie Endowment for International Peace.
O pânico dos dirigentes é visível. O secretário-geral da Liga Árabe, o egípcio Amr Moussa, lançou o alarme na cimeira de Sharm El-Sheikh: "A Tunísia não está longe de nós. (...) Os cidadãos árabes entraram num estado de cólera sem precedentes." Quis despolitizar o conflito, circunscrevendo-o ao emprego e ao desenvolvimento. 
Países como a Argélia, Marrocos, Líbia ou Sudão aceleraram a compra de cereais sem discutir preço. O Governo jordano imediatamente anunciou uma baixa dos preços dos bens alimentares básicos e do gasóleo. Tentam prevenir os "motins do pão" com que as revoltas frequentemente começam.
Os analistas interrogam-se sobre as fragilidades dos vários Estados:
Na Argélia, o desespero da juventude é extremo e o regime militar há muito que está deslegitimado, mas joga com os proventos do petróleo e o Exército parece à prova de motins;
Em Marrocos, a situação social na periferia de Casablanca será explosiva, mas ninguém discute a legitimidade do Rei, que prossegue uma relativa descompressão política;
Na Jordânia, o impasse palestiniano envenena o clima. Os islamistas locais avisam jordanos e egípcios de que a lição da Tunísia é sobre "a tirania";
O Egipto seria o país mais vulnerável, porque a revolta social se pode desencadear com a sucessão de Hosni Mubarak.
É pura adivinhação dizer se o exemplo tunisino será contagiante, escreve um colunista no Al-Hayat, diário árabe de Londres. Outro analista sublinha o velho dilema das ditaduras: reprimir só aumentará a frustração, mas se uma abertura for vista como fraqueza, o povo lança-se na brecha aberta. "Efeito dominó ou efeito bumerangue?" interroga-se o L’Orient Le Jour, de Beirute. Fawaz Gerges, analista do Médio Oriente, não crê que "um efeito dominó varra os dirigentes árabes". Crê na abertura de um ciclo de reformas.
Economistas e demógrafos têm advertido para uma espécie de mudança de "placas tectónicas" nas sociedades árabes, da demografia à cultura. Um relatório do PNUD, de 2009, assinalava o facto. A Economist comentou a propósito: "O antigo padrão de governo árabe - corrupto, opaco e autoritário - falhou a todos os níveis e não merece sobreviver. A certa altura entrará quase certamente em colapso. A grande incógnita é quando."
Perante uma realidade em ebulição em vários pontos do mundo, fruto dos ingredientes que são transversais a todas as culturas, concretamente o desemprego, a repressão policial, a recessão económica, a guerrilha financeira, os entraves às liberdades, a usurpação de direitos, a redução de salários, os altos preços dos bens alimentares básicos, o abuso dos “monopolistas” nos preços dos combustíveis, enfim, a esclerose política, que se traduz num padrão de políticos corruptos, administrações opacas e organizações autoritárias, porque se pergunta: “Qual será o país árabe que se segue? ”Não seria mais correcto perguntar-se: “Qual será o país que se segue?”
E não vale a pena despolitizar estes conflitos, porque todos os conflitos têm razões políticas, ou da parte dos Governos, ou do Poderio, ou dos Cidadãos, mesmo que se sejam "motins do pão" com que as revoltas frequentemente começam.
Mas também não basta dar ao POVO “pão e circo”, se não se lhe reconhecer o direito à Dignidade e a dignidade que os Direitos Humanos lhe conferem, a qualquer preço…

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