Martin Taylor, Ex-CEO do Barclays, passou recentemente por Portugal e pela Argentina e faz nas páginas do Financial Times uma análise negativa das prescrições anti-crise dos 2 países.
É uma história de pacientes sujeitos a várias prescrições médicas. O “paciente Fado”, em Lisboa, está sujeito a uma receita de "austeridade aditividada" com o objectivo de reduzir os seus desequilíbrios. Já, ao “paciente Tango”, com um longo historial médico, foi administrada uma dose significativa de “drogas económicas”, incluindo desvalorizações cambiais e reestruturações de dívida. A conclusão destas experiências? “Ambas são instrutivas – e desencorajantes”, escreve, o ex-CEO do Barclays.
Portugal é um país onde “tudo está à venda e ninguém está a comprar”. “O pobre paciente Fado, colocado sob um regime de austeridade aditivada, está semi-comatoso”, diz o homem que liderou o banco britânico nos anos 90, continuando depois para descrever: “O Estado gasta o mínimo que pode, e tenta extrair cada vez mais dos seus cidadãos, que parecem gastar grande parte do seu tempo a tentar descobrir como evitar pagar-lhe”.
No meio desta tensão, os níveis de dívida, um dos problemas centrais a resolver, continuam “teimosamente elevados”, com “os dispendiosos médicos estrangeiros a acreditar que uma dose mais elevada do actual medicamento irá, no fim, provar que é a melhor resposta”, escreve.
Taylor olha depois para a receita alternativa, aplicada ao “paciente Tango” que, na verdade, experimentou de tudo na última década, desde depreciações cambiais a reestruturações de dívida, passando por decisões administrativas que forçam os bancos a emprestar ao "investimento produtivo".
A redução dos seus rácios de dívida é amplamente elogiada pelos médicos locais, mas nota o gestor que esta não convence os que ficaram sem o dinheiro, que aliás ainda hoje discutem em tribunal a reestruturação de há 10 anos. Além disso, a Argentina é descrita como um paciente sujeito a “estímulos repetidos” que a tornaram “economicamente hiperactiva”, mas sem que isso signifique verdadeiro vigor económico: é um país que sofre com inflação alta, moeda fraca e pouco capacidade de atrair investimento externo.
O que pode Morris aprender com o Fado e o Tango?
Com toda esta análise, Taylor procura tirar lições para o seu país Natal, o Reino Unido – ou “o paciente Morris” – que tem moeda própria como a Argentina e está sujeito a uma política de austeridade crescentemente contestada.
“O caro Morris foi colocado numa versão da receita aplicada ao Fado, mas em menor dose. Ao contrário do Fado não está em estado semi-comatoso, mas também não está a recuperar. A tentação para passar para algo mais parecido com a terapia do Tango – sem o excesso pouco britânico do “default” – está claramente a crescer”, lê-se no artigo de opinião do Financial Times.
Perante isto, o que deve ser Morris? Nem tanto Fado, nem tanto Tango, defende.
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