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domingo, 10 de março de 2013

“2015 é o ano imediatamente consecutivo a 2014”…

Nós pensávamos que tínhamos as respostas todas. A crise desempregaria, a austeridade tributaria, as reformas incomodariam, mas no meio haveria um meio e no fim haveria um fim. Só que no fim do princípio não estava o princípio do fim e, a meio, já ninguém se entendia. Alguém sabe mesmo como tirar a Europa da crise?
Pedro Santos Guerreiro
Participando no maior comercial do mundo
É tão injusto acusar a troika de nos estar a matar como defendê-la por nos estar a salvar. Não há salvação sem salvados. A questão, a verdadeira questão, não é a troika, que faz o seu papel. O problema é de quem lhe passou o papel para a mão. O problema é Portugal estar a fazer o que a Europa quer e a Europa não saber o que há-de fazer. Quando os tecnocratas como Monti são humilhados nas urnas e os populistas Grillo e Berlusconi têm mais de 50% dos votos, não é a democracia que está errada, é a tecnocracia. E o erro é tão grotesco que leva à elevação da demagogia, que é outra forma de tirania.
A Itália é apenas a bota apertada da Europa, que se afunda numa recessão entre os poderosos e numa dissensão em toda a extensão. A tecnocracia como projecto político não funcionou porque a tecnocracia não é um projecto político, é a ausência dele. Em Portugal, a austeridade é inseparável do nosso caminho, mas sucumbir-lhe enquanto política resultou num fracasso. Não financeiro, mas político. E, afinal, económico.
O erro de Passos Coelho não é o da comunicação, é o de não ter o que comunicar, excepto o que lhe dizem os seus consultores, estrangeiros ou estrangeirados. Essas pessoas são estupidamente inteligentes e o primeiro-ministro, sem luz própria, tornou-se seu satélite. Mas os consultores nunca são originais, são sempre reprodutores de “melhores práticas” já testadas. Só que estas práticas não foram testadas. Como escreveu aqui Jorge Costa, esta crise portuguesa é diferente das anteriores, porque não há ferramenta cambial, nem inflação, nem a Europa está em crescimento económico.
Em “Aprender a Rezar na Era da Técnica”, Gonçalo M. Tavares descreve a páginas tantas “alguém que se contentou em ficar na média, viveu querendo saúde. E morreu depois a percorrer todos os degraus da doença, bom obediente que não esperneia a subir para o cadafalso, para não perturbar o espectáculo.” A demissão de Passos em relação aos portugueses, simultânea com o vínculo a Bruxelas, foi catastrófica porque os consultores de Bruxelas erraram. É quase patético ver como os ortodoxos da austeridade dizem agora o contrário. Quem já tinha razão era Obama, quando no discurso do Estado da Nação dizia que querer reduzir o défice orçamental não é ter uma política económica.
Também ter mais tempo ou baixar os juros, como teremos, não é política económica, é apenas levar sova de cinto em vez de chicote. Política económica é outra coisa, é promover crescimento, coisa que parecemos ter esquecido. Gaspar tem razão quando diz que já houve muito investimento público em Portugal e isso nenhum crescimento económico produziu, só dívida. Mas erra quando diz que está a fazer por isso e não está. Para crescer é preciso atrair investimento, o que pode implicar políticas de crédito inteligentes e impostos atractivos, mas sem confiança nada feito, com burocracia nada feito, com grupos de interesses prevalecentes nada feito, sem capacidade produtiva nada feito.
A Europa não está numa encruzilhada, está num campo aberto sem estradas nem bússola. Acabar com o euro é o medo impronunciável, mas dificilmente haverá solução que não seja de fractura em guerra ou de união em paz.
Quanto a nós, Portugal precisa da troika e não pode escapar à austeridade. Mas exige mais que o desprezo político de quem lhe falha. Precisamos de política, de propósito, de convocatória, de justiça; precisamos de economia e de empregos. Precisamos de sair de onde não saímos. Foi isso que as extraordinárias manifestações deste fim-de-semana disseram. Neste Março, dois anos depois do outro Março, canta-se Abril. É uma lástima que vejam mansidão num povo que protesta cantando e se rebela passando facturas em nome alheio. Isso não é ser inofensivo, é ser digno e inteligente. Se nos palácios de Lisboa e de Bruxelas isso nem uma alma demover, então quem se lixou fomos nós: ninguém mais ordena.

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