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segunda-feira, 11 de março de 2013

Mais 1 Roteiro (e vão 7) do nosso descontentamento…

Esta semana, o cavaquismo entrou-me pela sala adentro. Hora e meia a viajar nos anos 80, Cavaco com palanque e vista para 300 fatos cinzentos, apontado à nova social-democracia, incendiado pela convergência europeia, colado às estradas, ao liberalismo, à segurança do Estado. Tudo no mesmo pacote televisivo, que repete segunda às dez da manhã na RTP Memória. Do apogeu ao declínio do cavaquismo, as deambulações pelo PSD, Passos em versão querubim e o país cimentado a autoestradas e construção civil. E vale a pena rever o documentário para perceber o que mudou - no país e em Belém.
Miguel Pacheco
Foto de Daniel Rocha
Hoje, Cavaco está diferente. Mais introspetivo e menos dado a discursos em palanques, verbal apenas na ideia de que a Presidência não se faz falando. Mas é o que Cavaco sabe (e não diz) que vale a pena. Que o equilíbrio entre os exageros grosseiros de São Bento e a paciência da UGT está partido. Que a troika tem fraca sensibilidade social, que meio-termo entre a agressividade grega e o liberalismo irlandês é a nossa simpática passividade.
Mas Cavaco também sabe, mesmo que não o diga, que a social-democracia dos seus primeiros roteiros bateu na parede, sem dinheiro no Estado para financiar a parte social da equação. E sabe [para ler no início desta edição, na pág. 10] que o lobby que hoje faz contra as indemnizações é um paliativo para a paz social, não um remédio tirado dos seus roteiros.
Como disse na quinta-feira Mario Draghi, o atraso estrutural do país também se faz pelo protecionismo laboral que Cavaco ajudou a criar na década de 90 e pela incapacidade de encontrar soluções que desbloqueiem quase 40% de desemprego jovem. A troika, a sempre insensível troika, tem insistido no tema, mas a reforma é um saco sem fundo: sem grande efeito prático durante a recessão (porque os modelos são de transição), qualquer reforma nas indemnizações terá sempre um efeito curto. Sejam 20 ou 18 ou 12 dias, o efeito é curto, porque apenas apanha os contratos mais recentes. Num país onde é difícil despedir individualmente e relativamente fácil dispensar um coletivo, o Presidente defende o emprego jovem e um regime simpático nas indemnizações antigas. Não o invejo: é um equilíbrio difícil.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico recomenda que Portugal flexibilize as regras  que envolvem o mercado de trabalho de forma a facilitar o despedimento, ao mesmo tempo que se reduzem as condições da proteção social dos desempregados. 
O Presidente da República avisou a troika que é fulcral manter, dê lá por onde der, o acordo social assinado entre patrões e sindicatos. Em concreto, nas últimas semanas, Aníbal Cavaco Silva tem-se “movimentado ativamente nos bastidores” para sensibilizar a missão externa a ter uma posição mais flexível na questão das indemnizações.
A popularidade de Cavaco Silva mantém-se em baixa e a contestação social em alta, apontam politólogos e comentadores.

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