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domingo, 21 de outubro de 2012

TODOS! Condenados a escolher entre o MAU e o PIOR!

A gangrena do sistema financeiro norte-americano provocou uma crise económica mundial cujos resultados são conhecidos: hemorragia de empregos, falência de milhões de proprietários imobiliários, recuo das proteções sociais. No entanto, passados 5 anos, por efeito de um paradoxo singular, ninguém pode excluir completamente que chegue à Casa Branca um homem, Willard Mitt Romney, que deve a sua imensa riqueza à finança especulativa, à deslocalização de empregos e aos encantos (fiscais) das ilhas Caimão.
A sua escolha do parlamentar Paul Ryan como candidato republicano à vice-presidência permite antever aquilo a que os Estados Unidos podem vir a assemelhar-se se, no próximo dia 6 de Novembro, os eleitores cederem à tentação do pior. Numa altura em que Barack Obama já aceitou um plano de redução do défice orçamental que corta as despesas sociais sem aumentar a carga fiscal – anormalmente baixa – que incide sobre os mais altos rendimentos [1], Paul Ryan considera que esta capitulação democrata é ainda totalmente insuficiente. O seu programa, a que Mitt Romney já se associou e que a Câmara dos Representantes (maioritariamente republicana) já aprovou, vai reduzir ainda mais os impostos, em 20%, diminuindo a taxa fiscal máxima para 25%, um mínimo jamais atingido desde 1931. Em simultâneo, vai aumentar as despesas militares. E fará tudo isto reduzindo para 1/10 a parte do défice orçamental no PIB americano. Como espera Paul Ryan levar a cabo um tal empreendimento? Abandonando a prazo ao privado – ou à caridade – o essencial das missões civis do Estado. Por exemplo, o orçamento dedicado à assistência médica dos mais pobres terá uma redução de 78% [2].
Desde o início do ano passado, Obama pôs em aplicação uma política de austeridade que é tão ineficaz e cruel nos Estados Unidos como noutros lugares. Umas vezes congratula-se com as (raras) boas notícias económicas, pelas quais responsabiliza a sua presidência; outras vezes imputa as que são más (como a situação do emprego) ao bloqueio parlamentar republicano. Tendo em conta que esta dialética não é minimamente suscetível de remobilizar o seu eleitorado, o presidente americano estará à espera que o medo do radicalismo de direita dos seus adversários venha a assegurar-lhe um 2º mandato. Mas o que fará Obama depois de ter delapidado as promessas do 1º mandato e numa altura em que parece certo que o Congresso eleito no próximo mês de Novembro estará mais à direita do aquele que ele encontrou quando chegou à Casa Branca?
Uma vez mais, um sistema aferrolhado por 2 partidos que rivalizam em favores concedidos aos meios dos negócios vai obrigar milhões de norte-americanos desencorajados pela moleza do seu presidente a votar uma vez mais nele, apesar de tudo. Vão assim resignar-se à escolha, habitual nos Estados Unidos, entre o mau e o pior. O seu veredicto não deixará, contudo, de ter efeitos noutras paragens: a vitória de um Partido Republicano determinado a aniquilar o Estado Social, indignado com o “assistanato”, instalado a reboque dos fundamentalistas cristãos e levado à paranoia pelo ódio ao islão, iria galvanizar uma direita europeia já muito inclinada para sucumbir a essas tentações.
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Notas
[1] Ler “Chantagem em Washington”, Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Agosto de 2011.
[2] David Wessel, “Ryan Reflects Arc of GOP Fiscal Thinking”, The Wall Street Journal, Nova Iorque, 16 de Agosto de 2012.

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