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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Sem ciência não há futuro, mas há futuro sem decência

A “irregularidade continuada” da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), que financia os projectos de investigação em Portugal, levou a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) a “suspender de imediato toda e qualquer despesa” posterior ao dia 23 de Outubro. A comissão de bolseiros fala numa “situação profundamente dramática”.
“Sem Ciência não há futuro”. É este o mote da carta aberta que 3 bolseiras de investigação científica entregaram no Ministério da Educação e Ciência. Mais de 3.200 signatários do documento sublinham a “revolta” com que viram o Governo aprovar o novo Estatuto do Bolseiro, que dizem agravar a precariedade laboral dos investigadores.
“Europa, salva a ciência!”, clama o Gazeta Wyborcza, depois da publicação de uma invulgar carta endereçada aos líderes europeus assinada por 42 prémios Nobel e 5 laureados com a Fields Medal (um prémio na área da Matemática comparável ao Nobel).
Os signatários pedem aos chefes de Estado e de governo que protejam a verba destinada à investigação e à inovação no orçamento da UE para 2014-2020. A proposta orçamental da Comissão Europeia para I&D chega quase aos 80 mil milhões de euros, mas receia-se que este montante possa sofrer uma redução entre 10 e 15 mil milhões de euros na cimeira da UE agendada para 22 e 23 de novembro. De acordo com os cientistas, esta medida pode causar danos irreparáveis:
O conhecimento não conhece fronteiras. O mercado mundial para grandes talentos é altamente competitivo. A Europa não se pode dar ao luxo de perder os seus melhores investigadores e professores e só lucraria em atrair talentos estrangeiros.
Os cientistas afirmam que a ciência é a única maneira de assegurar a prosperidade da Europa a longo prazo e alertam para o facto de um corte orçamental a deixar numa posição de inferioridade competitiva em relação à América do Norte e à Ásia. A Europa já gasta muito menos per capita em investigação do que os EUA, o Japão ou a Coreia do Sul, lamenta o professor Tomasz Dietl do Conselho Europeu de Investigação.
Para um governo, que tem um DOTOR “vais estudar!”, que pela sua impreparação política e sociológica tem cara para dizer que já não exportamos só futebolistas e que "Portugal deve-se orgulhar de ser capaz de exportar jovens licenciados em medicina, em medicina dentária, em farmácia, em direito, enfermagem, em ensino e outras profissões liberais, orgulho da nossa Nação", parece claro, que na visão de quem suporta este otário, não precisamos de mais “cérebros”, enquanto tivermos excedentários em stock, mesmo que não sejam classe A++…
Por outro lado, quem corta e confisca aos ignorantes (mas não estúpidos) e “pobrezinhos” (mas não de juízo), por que não haveria de cortar aos mais ricos de ideias e menos interesseiros do que eles?
E ainda, mesmo sabendo eles e propalando que sem ciência não há futuro (razão porque há um ministro para tal), tendo em conta a mentira como o método “científico” para as vitórias eleitorais, quem se escandaliza com mais uma mentirinha?
Mas quando se constata que esta medida de CORTES NA CIÊNCIA se estende, coincidentemente, na própria União Europeia, temos que pensar que NÃO HÁ COINCIDÊNCIAS e que por trás de tudo só se pode vislumbrar um vetor político, na proletarização de mais uma classe com aval (todas passaram por esta baixeza), para que os DOTORES da política possam meter-nos na boca umas sopinhas raladas, que se engulam sem engasgos, facilitem a ingestão e a digestão…
Estes investigadores, se os governos não se põem a pau, ainda descobrem que andam a fazer tudo ao contrário e põe-se a fazer relatórios e contas que contrariam as suas práticas empíricas…
E que interessa que os outros países invistam mais do que nós (Portugal ou Europa), se até tem capacidade económica para importar, sem pagar luvas, a massa cinzenta que nós formamos (com custos) e dispensamos, com custos no próximo futuro?
          Por isso estoicamente, mansamente,
          resististe a todas as torturas,
          a todas as angústias, a todos os contratempos,
          enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
          foram caindo,
          caindo,
          caindo,
          caindo,
          caindo sempre,
          e sempre,
          ininterruptamente,
          na razão directa do quadrado dos tempos.

(do Poema para Galileu, de António Gedeão)

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