Os trabalhadores da agência Lusa terminam hoje a greve de 4 dias. A adesão foi quase total e levou ao cancelamento dos serviços da agência noticiosa. Os trabalhadores estão contra o corte de 30% no financiamento anual, previsto no Orçamento do Estado e dizem que essa redução de verbas pode comprometer a manutenção da rede de colaboradores que assegura a cobertura noticiosa em todo o território nacional e em muitos locais no estrangeiro.
Do livro “A Tirania da
Comunicação”
Ignacio Ramonet (Campo das
Letras)
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José Manuel Barroso: “O que se passa com os media, sendo brutal, não é novo, nem inesperado”, afirmou, defendendo que “os jornalistas têm de pensar nos seus media como empresas”, encontrar nichos de mercado para o que produzem e ter uma visão “realista em termos de media, empresa e mercado”.
Carla Baptista argumentou que os jornalistas poderão procurar “parcerias com gente que saiba como vender e disseminar conteúdos e transformá-los novamente em bons negócios” e frisou que “o jornalista precisa não apenas de ter o desejo pelas notícias, mas também pelo tráfego na Internet”.
O debate, sob o tema “A maior vaga de despedimentos no jornalismo: que consequências, que alternativas?”, aconteceu no final de uma semana em que a comunicação social em Portugal foi notícia:
A Lusa iniciou na quinta-feira uma greve de 4 dias contra um corte orçamental;
O PÚBLICO fez na sexta-feira uma greve inédita no jornal como reacção a um anúncio de despedimento colectivo e
Foi noticiada a compra do grupo Controlinveste - dono do DN, JN, TSF e O Jogo - por um grupo angolano.
Jorge Wemans afirmou que “o decréscimo do poder dos media na sociedade” teve como consequência o afastamento de “capitalistas” de “negócios completamente ruinosos” como são alguns órgãos de comunicação, que eram comprados como forma de aquisição de poder.
José Manuel Barroso disse não ver “um horizonte cor-de-rosa” e notou que “a situação, do ponto de vista do emprego, não vai melhorar” e afirmou que “o curso da história não vai mudar com manifestações [ou] com greves”.
Ricardo Alexandre foi crítico das intenções de despedimento nos órgãos de comunicação e afirmou que, por via das reduções de jornalistas, as redacções ficarão “sem memória, sentadas, amorfas, sem meios para estar nos sítios onde a notícia acontece” e com “mais gente incapaz de resistir às pressões”. Se estes despedimentos se concretizarem, “é a democracia que está em causa”, observou, propondo a formação de “cooperativas ou de outras estruturas”, à margem das empresas, mas com viabilidade de negócio, onde os jornalistas que não estão enquadrados numa redacção possam continuar a actividade.
Adelino Gomes adianta que a solução pode estar na diferenciação editorial. "A crítica, a opinião, a reportagem, a investigação que acrescente algo à informação que todos têm, é uma obrigação. Se for trabalhado diariamente, as vendas aumentam com certeza". Mas não só. Também é fulcral uma adaptação eficaz às novas tecnologias. "A Net tem uma linguagem própria. Temos que aprendê-la, não basta despejar para lá os conteúdos da versão em papel", acrescentou.
A ideia de que redacções de qualidade são essenciais para o sucesso da actividade foi transversal às intervenções da tarde.
Toda a gente notou a falta de (da variedade) de notícias com a greve da Lusa, por ser uma agência que alimenta a maioria dos órgão da comunicação social, que teve origem num corte de 30% no financiamento anual pelo governo (pelo Estado, que somos nós), o que nos faz prever um corte de 30% na “produção” de notícias no futuro próximo, o que abrangerá um corte de 30% de notícias da variedade de notícias…
Apesar de a Lusa não ser uma fonte de opiniões, mas de factos (quase inofensiva), quer dizer que nem todos os factos convêm ser propalados, mesmo que não haja argumentos…
Apesar de especialistas na matéria falarem de novas técnicas ao serviço dos media, de qualidade das redações, de empresarialização, numeros clausus, etc., o certo é que a comunicação deixou de ter o poder que antes tinha, razão por que os respetivos empresários, que antes aceitavam os prejuízos diretos em benefícios indiretos nos grupos (de várias áreas económicas) que dominavam para dominar o poder.
Tendo em conta a análise que Ignacio Ramonet já fazia 1999, classificando como 1º poder, a economia, em 2º, a comunicação e só em 3º, o poder político, sem sequer se referir ao poder financeiro, dadas as circunstâncias que varrem a nossa sociedade, o PODER tem que ser reclassificado. Hoje é fácil constatar-se que a ordem é outra, com as Finanças ocupam o 1º lugar (quase isoladamente), em 2º lugar a Economia (dependente do 1º), em 3º lugar, o Político (nem sempre) e só em 4º lugar a Comunicação Social, que começa a incomodar os 3 primeiros… E por isso, por ser incómodo, ainda que muito pouco, o melhor remédio é reduzi-lo e domesticar os seus agentes.
Se os jornalistas ficarem à espera de investidores e sobretudo de exercerem o direito à liberdade de expressão, podem esperar sentados… Ou o Estado, para se impor como 1º poder, investe ou subsidia os media (de jornalistas associados), ou estamos todos sujeitos às folhas de propaganda dos verdadeiros donos do PODER, com a Tirania que os protege. Mas como o PODER POLÍTICO não reage noutras áreas em legítima defesa, por que haveria de contrariar o que parece que lhes convém?
Houvesse mais jornalismo opinativo e de investigação em vez do descritivo de factos e não haveria tanta vontade, nem meios de calarem ou diminuírem o eco da liberdade de expressão…
Claro que a democracia fica diminuída, mais diminuída, se acrescentarmos este défice democrático ao défice da pós-democracia…
Entretanto fica a blogosfera, as redes sociais e o que mais virá, que será capaz de fazer frente a todas as tentações de manipulação da opinião pública.
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