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domingo, 9 de setembro de 2012

De Espanha, uma análise objetiva sobre OBJETIVOS…

Razões ideológicas e a vontade de se demarcar da Grécia motivam a política do Governo português.
Claudi Pérez – El País
A cena acontece numa das centenas de milhares de cimeiras para salvar o euro que se realizaram este ano. Bruxelas, meados de fevereiro. As câmaras captam – quase roubam: os protagonistas não tem consciências de que saem na televisão - um desses momentos que definem às mil maravilhas o que de verdade sucede na Europa. Um cândido Vítor Gaspar, o ministro português de Finanças, aproxima-se do seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, como o estudante que trata de impressionar o seu professor. “Faremos progressos substanciais com o défice; Já temos feito progressos incríveis”, afirma o português, cujo Governo aplica rigorosamente os cortes associados ao plano de resgate que o seu país pediu. Inclinado junto à cadeira de rodas de Schäuble – que ficou paralítico há mais de 20 anos, quando um homem o atingiu com 3 tiros num ato eleitoral celebrado numa cervejaria -, Gaspar acaba de ouvir o veredicto da Alemanha: “Se for necessário adequar o programa português [quer dizer, flexibilizá-lo], não haverá problema”. “Muito obrigado”, consegue responder com um fio de voz.
Pode ser que tenha chegado esse momento. Portugal, campeão da austeridade e das reformas, rasteja no fundo da crise apesar de todas essas tesouradas; em parte por culpa delas, e das que aplica o resto do continente. O desemprego não deixa de subir e supera já os 15%. A recessão este ano será enorme: a crise espanhola complica muito. O consumo e a inversão colapsam, as receitas públicas afundam-se, a confiança esfumou-se. Inclusive o consenso político, uma das grandes bases de Lisboa numa obsessão de se demarcar de Atenas, fratura-se. Portugal, mais troikista do que a troika (os homens de negro da CE, do BCE e do FMI), há meses que faz, sem contestar, tudo o que lhes pedem, inclusive um pouco mais, em parte por razões ideológicas – o Executivo conservador acredita a pés juntos na poção alemã; a oposição socialista começa a demarcar-se, mas foi quem pediu o resgate e negociou as condições -; em parte para se destacar como o bom aluno dessas políticas.
Bruxelas, Frankfurt e Berlim não deixou de aplaudir os esforços do Governo português por conter o défice. O ministro alemão Guido Westerwelle aplaudiu ontem, sem qualquer ironia, as “notícias positivas” que chegam de Portugal, que deveria voltar aos mercados internacionais no outono do próximo ano, se o resgate funcionar. Funciona? O menu de cortes é, sem lugar a dúvidas, um dos mais completos da Europa: subidas de todos os impostos, cortes drásticos no consumo, diminuição dos ordenados, públicos e privados, redução dos subsídios de desemprego, tesourada nas férias e um longo etc., que inclui uma amnistia fiscal e mesmo com algumas armadilhas com o défice. Tudo isto não permitirá cumprir os objetivos fiscais fixados para este ano. Vai ser necessária a enésima subida de impostos e a enésima tesourada, que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho apresentou ontem em horário de maior audiência. Os homens de negro estão há uns dias em Portugal: o novo aperto procura contentar a troika ou está diretamente inspirada nos seus desejos.  
Haveria outra solução: que a Europa fosse menos exigente com o cumprimento do défice. Lisboa resiste a pedir clemência. “Espera que continuando a ser o bom aluno, no fim, a Comissão conceder-lhe-á alguma margem, sem necessidade de fazer essa petição”, explicaram fontes europeias. Mas isso está para se ver.
Entretanto em França, para os mesmos problemas, soluções diferentes, com diferentes protagonistas com ideologias diferentes…
Há diferenças e (in)diferenças!
O presidente apresenta esta noite no telejornal um ajustamento de 33.000 milhões de euros com uma subida de impostos entre 15.000 e 20.000 milhões. Hollande insistiu sempre que “os mais ricos pagarão mais”, e disse que a subida em nenhum caso será “geral e indiscriminada”. Mas os socialistas apresentam medidas como a taxa de 75% para os rendimentos superiores a 1 milhão de euros, e parece evidente que a necessidade de arrecadar mais acabará por afetar todos.
Bernard Arnault, a maior fortuna de França, pediu a nacionalidade belga.

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