(per)Seguidores

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Revisão da matéria “dada”…

Portugal entra no carrossel da Irlanda e da Grécia. É só o início do caminho de pobreza. Não vai ser possível pagar tudo. Em 2013 vamos reestruturar dívida.
No dia 21 de Dezembro de 2010 foi registada uma sociedade anónima na Avenida John F. Kennedy, n.o 43, no grão-ducado do Luxemburgo, que responde pelo nome "Company". É uma criatura jurídica e financeira notável com risco de apenas 0%. A Company é nada mais nada menos que o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), criado após a crise da dívida da Grécia - que levou o país ao tapete em Maio - para resolver os problemas de liquidez dos países do euro.
Este é o carrossel que traz o FMI atrelado e vai agora dar uma boleia a Lisboa, depois de Atenas e Dublin terem já começado a viagem para um destino inóspito: o inferno na terra. E porquê? Porque o problema destes países não é a liquidez, é a solvabilidade. Dito de outra forma, as montanhas de dívida contraída deixaram os países periféricos da zona euro no limiar da falência, incapazes de pagar as facturas.
A solução óbvia para este problema é reestruturar dívida. Coisa impossível de fazer antes de Junho 2013, quando for accionado o novo Mecanismo Europeu de Estabilidade, que prevê a participação do sector privado na solução da crise. Ou seja, só em 2013 poderá haver redução do valor líquido da dívida dos países mediante negociação com os privados. Avançar agora para essa solução seria o ideal para Portugal, Grécia ou Irlanda. A Islândia fê-lo. E com bastante sucesso.
Berlim não vai deixar que isso suceda porque, além da crise financeira e da crise da dívida soberana, a Europa está mergulhada numa enorme crise da banca cujos efeitos podem obrigar os alemães a injectar milhares de milhões de euros de dinheiros públicos para salvar o seu sistema financeiro. Portanto preparamo-nos para salvar os bancos alemães, e os franceses, e os espanhóis e os portugueses.
Entretanto, 10 milhões de almas portuguesas vão sofrer brutalmente. A riqueza deste país vai ser drenada para pagar aos credores estrangeiros. Atenção: isto sucede por culpa e incúria próprias. A nossa dívida não é sustentável por causa de anos consecutivos de cegueira e de erros políticos colossais: não só dos governos, mas também das empresas e das famílias.
Nos próximos anos tentaremos encontrar, com as típicas receitas do FMI, um caminho que ponha as finanças públicas numa trajectória sustentável. Os cerca de 75 mil milhões de euros que Lisboa vai receber por tranches no empréstimo do FEEF/FMI evitam a bancarrota de imediato, garantem anos de sofrimento, aumentam o endividamento de Portugal e não resolvem o outro lado do problema: fazer a economia crescer.
É evidente que um país com um endividamento externo bruto na ordem dos 300% do PIB, com um programa austero de consolidação orçamental e sem competitividade económica está destinado a penar no deserto. A fatalidade é esta: seja qual for a perspectiva com que se olhe para o futuro, os indicadores macroeconómicos vão mostrar um cenário muito negro, com a contracção da economia, o aumento do desemprego, a queda abrupta da procura interna e cortes draconianos no investimento. E para quê? Para quase nada.
O próximo governo deverá pensar muito seriamente em reestruturar dívida. Uma reestruturação ordenada, feita com antecipação, evitará problemas maiores. Tal como a antecipação de um pedido de ajuda externo por este governo teria evitado o desperdício de milhares de milhões em juros. Não vale sequer a pena tentar medir a responsabilidade do primeiro-ministro José Sócrates: ficará na história como o homem que arruinou o país.
Carlos Ferreira Madeira, Redactor principal do “i”

Sem comentários:

Enviar um comentário