Morreu o pintor Ângelo de Sousa
Ângelo de Sousa |
Com uma obra em permanente mutação pelo seu carácter experimentalista, o artista Ângelo de Sousa, falecido na terça, insistiu no simples e elementar no seu trabalho, que percorre desde pintura, escultura, desenho, filme, fotografia e cenografia.
Recusou molduras, estudou diversas técnicas e veio a interessar-se progressivamente nos meios de trabalho mais elementares e nos materiais mais simples.
Ângelo César Cardoso de Sousa nasceu em Lourenço Marques, hoje Maputo, em Moçambique, a 2 de Fevereiro de 1938 e com 17 anos foi viver para o Porto, onde estudou pintura na Escola Superior de Belas-Artes, onde acabou por ficar como docente.
Ainda muito jovem, faz a primeira exposição pública em 1959, na Galeria Divulgação, na mesma cidade, ao lado do já consagrado Almada Negreiros. Seguem-se inúmeras exposições em galerias como a 111, a Cooperativa Árvore - da qual foi co-fundador -, a Buchholz, Alvarez e a Sociedade Nacional de Belas-Artes.
No final dos anos 1960 foi bolseiro pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo British Council, onde frequentou a Slade School of Art e a Saint Martin's School of Fine Art. Nessa altura formou, com os colegas Armando Alves, Jorge Pinheiro e José Rodrigues, o grupo "Os Quatro Vintes", assim chamado por todos terem tido a classificação máxima na licenciatura. O grupo foi formado com a finalidade essencial de divulgar as obras através de exposições colectivas.
Foto O Burgo Empreendimento, no Porto, de Souto Moura e escultura de Ângelo de Sousa |
Na pintura foi influenciado pelo movimento expressionista, a gravura oriental, as artes exóticas e primitivas, a pop art, artistas como Mondrian, Klee e Kandinsky, mas manteve-se sempre afastado das discussões sobre figuração e abstração.
Ilustrou livros de poetas e romancistas portugueses como Eugénio de Andrade, Maria Alzira Seixo, Mário Cláudio e Fiama Hasse Pais Brandão.
Em 2008, Ângelo de Sousa e o arquitecto Eduardo Souto de Moura representaram Portugal na 11.ª Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza, em Itália, num projeto que discutia a dicotomia dentro/fora através do uso de espelhos.
Artista de forte personalidade, conhecido pela irreverência e generosidade, Ângelo de Sousa também se envolveu em causas políticas e cívicas, tendo sido mandatário de Jorge Sampaio nas eleições presidenciais de 1995.
Aposentou-se no ano 2000 da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto, onde tinha sido, na disciplina de Pintura, um dos primeiros professores catedráticos.
Conheci-o quando entrei para a Escola Superior de Belas-Artes (ESBAP), já como professor, sempre no ar e com um livro de BD da Disney como leitura, num tempo em que o companheirismo entre docentes e discentes escandalizava as outras instituições universitárias e em que todos nos juntávamos no café S. Lázaro.
Assisti ao surgimento de "Os Quatro Vintes", dos quais tive Jorge Pinheiro como professor.
Provavelmente não soube ontem do prémio de Souto de Moura, com quem colaborou com esculturas….
Paz à sua alma.
Eu fui aluno da Faculdade de Belas Artes do Porto, quando ele era lá professor de pintura e tive oportunidade de privar com ele algumas ocasiões. Lembro-me de o encontrar muitas vezes em frente à escola, na Avenida Rodrigues de Freitas, quase sempre em amena cavaqueira com alunos e colegas e regra geral, de cigarro em riste. Até sempre Ângelo de Sousa.
ResponderEliminarFelizardo
ResponderEliminarNão sabia que tinha estudado no Porto. Daí...
Pois, sempre com o cigarro...