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sábado, 12 de fevereiro de 2011

SNS acaba com o que existe e com o que não existe


Nos últimos dias, a luta da população de Grândola pela manutenção dos horários de funcionamento dos serviços e por médicos de família para todos, vem recolocar questões centrais das políticas de direita na área da saúde.
Antes de mais torna manifesto, mais uma vez, o imenso logro que são as anunciadas “reformas do SNS” conduzidas por sucessivos governos do PS, PSD e CDS. O acesso a serviços públicos de saúde é cada vez mais difícil, por via da limitação do número de unidades de saúde, das suas horas de funcionamento, dos médicos que lá prestam serviço, dos custos dos actos médicos e dos medicamentos.
A falta de médicos, situação que cabe por inteiro a governos do PSD e PS, assume-se como o problema mais grave. Depois de anos e anos de criminoso bloqueio à formação de novos médicos, temos agora o intolerável e irresponsável empurrar dos médicos existentes para fora dos serviços públicos de saúde. As tiradas populistas com que atentam contra os vencimentos dos médicos no serviço público transformam-se em fumo quando se trata de abordar os principescos preços das consultas privadas. Sempre escondendo a sua total responsabilidade na situação existente e a sua manifesta incapacidade em resolvê-la a bem dos doentes, do povo e do país.
O colaboracionismo de gente que se diz defensora do SNS em tais políticas só agrava a situação. Ao avançarem com a tese de que colaboram porque pretendem limitar danos descredibilizam-se por completo e evidenciam o mais reles oportunismo.
A área do medicamento foi sempre uma coutada do capital em matéria de saúde. Expressão da dinâmica do imperialismo, o comportamento das multinacionais da indústria farmacêutica encaixou-se perfeitamente com a atitude terceiro mundista dos autóctones que pensavam ser cosmopolitas quando se limitavam a ser pategos. Depois de há alguns anos termos vivido em folhetins a aventura das mirabolantes “acreditações” de tudo o que era serviço de saúde, assistimos agora a delirantes bujardas sobre a flutuação da biodisponibilidade de medicamentos de marca e medicamentos genéricos. O arrazoado acientífico vindo de quem tem responsabilidades científicas deve-nos deixar preocupados quanto ao futuro da nossa “sociedade do conhecimento”.
O frenesim dos últimos dias a propósito da forma de prescrição de medicamentos envolvendo Assembleia da República, Governo, Presidente da República e Bastonário da Ordem dos Médicos – este ameaçando vingar-se sobre os doentes no caso de ficar estabelecida a obrigatoriedade de prescrição por princípio activo – é revelador da dimensão dos interesses em causa.
Aos portugueses interessa que o país crie e desenvolva competências na área do medicamento, que tenha capacidade industrial própria nesta área, que pague o menos possível pelos medicamentos que consome e que nenhum doente fique sem os medicamentos que precisa. Um longo caminho de libertação!
Nota Final: A Alta Comissária para a Saúde disse a um jornal diário que um largo número de programas de saúde vão ser extintos. Segundo ela muitos dos extintos nunca chegaram a existir. À Sr.ª Alta Comissária o mundo agradece e espanta-se perante a alta capacidade do governo acabar não só com o que existe como com o que não existe.
Pimba!
por Joaquim Judas - Médico

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