“Jesus entre os Doutores” |
Em vésperas da maior festa dos católicos, o estilo de liderança de Jesus Cristo pode também servir de fonte inspiradora para os empresários. Ou Moisés, que liderou o povo de Israel para o libertar da escravidão egípcia. Em versão profana, o IN deixa agora gravado em papel os cinco principais mandamentos de cinco líderes de PME portuguesas.
Não matar, não roubar, não cobiçar as coisas alheias. Os 10 mandamentos entregues por Deus ao profeta Moisés nem sempre são cumpridos pelos cristãos. Porque há o homem e a sua circunstância. Mas há algo imutável: a sabedoria dos clássicos, devidamente adaptada ao estilo de cada um.
O empresário Carlos Barbot não tem a presunção de inventar a roda. Prefere utilizar uma "linguagem corrente" para descrever os seus cinco mandamentos da gestão da Tintas Barbot. No lugar dos termos "altamente pomposos" que se encontram traduzidos em "livros de gestão de referência", opta por "traduzi-los de forma simples, directa e sem rodeios".
O primeiro é de uma simplicidade desarmante: "Faz só o que sabes", aconselha Barbot. Contra "a tendência de os gestores terem a ambição de tocar em áreas que não dominam", considera que "apenas devem abraçar projectos para os quais toda a estrutura esteja capaz de dar resposta". Também defende que os líderes de PME devem "concentrar-se num projecto novo de cada vez", e que quem lidera deve ser "reconhecido sem necessidade de afirmação ou fazer por lembrar que 'ali quem manda é ele'". Além de "um pouco de sorte", considera que há que "trabalhar todos os dias". É que, "nos tempos que correm, é preciso estar "sempre alerta". Porque "as oportunidades passam por nós a uma velocidade alucinante."
Mário Ferreira, presidente da Douro Azul, é também defensor de uma gestão pragmática. De uma assentada, debita uma mão cheia de mandamentos: "Gerir bem o tempo; comprar bem; procurar parceiros e parcerias assentes no médio e longo prazo; manter sempre a palavra mesmo que possa sair prejudicado; e ser pontual." Detalhe do terceiro mandamento: "Para comprar caro e vender barato, qualquer um sabe", remata o futuro primeiro turista espacial português.
Mas quando a crise abana os alicerces de uma empresa, a gestão torna-se dura, mais urgente e focalizada no imediato. É o que se passa na Habiserve, promotora imobiliária que esteve à beira da falência. No lugar da anterior e "irresponsável" gestão profissional da empresa, o empresário Vítor Duarte colocou os seus filhos Nuno e Paulo, formados em Gestão de Empresas e que vieram da indústria farmacêutica e da venda de sofás, respectivamente.
A Habiserve já saiu dos "cuidados intensivos", mas continua sob apertada vigilância. Sem surpresas: ter uma tesouraria equilibrada assume-se como um mandamento dourado na gestão dos irmãos Duarte. "A tesouraria da empresa é muito importante, pois uma quebra, nem que seja momentânea, pode trazer graves problemas e pôr em causa todo o trabalho desenvolvido. Por isso, o controlo dos gastos deve ser permanente, bem como o controlo das receitas e a análise dos seus respectivos desvios", justificam.
Já no sector da indústria farmacêutico, o horizonte ganha uma nova dimensão, a inovação um lugar cativo e permanente. E isso lê-se nas boas práticas de gestão traçadas por Paulo Barradas Rebelo, presidente da Bluepharma. Logo à cabeça, o incontornável mandamento da "visão estratégica". Seguem-se a diferenciação pelo domínio das competências e a capacidade de inovar. Já sobre o trabalho, Barradas considera que este "tem de ser levado à exaustão", mas "sempre orientado para os resultados". Finalmente, o accionista maioritário da Bluepharma defende que a comunicação "é a verdadeira chave do sucesso" em qualquer organização. E explica: "Quando os valores da empresa, a visão estratégica e os objectivos são claramente estabelecidos e comunicados, as equipas robustecem-se e transformam em realidade o que antes parecia inalcançável."
Para João Miranda, CEO da Frulact, não há volta a dar: liderança forte, equipa de gestão competente e uma estratégia clara formam o tripé da sua gestão. Acresce a aposta em investimentos criteriosos. Porque "a época de abundância (falsa, diria) parece ter acabado, pelo que aumenta a responsabilidade em seleccionar os melhores projectos que assumam um risco comportável e não ponham em causa o desenvolvimento sustentável". Miranda considera ainda fundamental criar "o melhor ambiente no trabalho".
Nota final: reparou que não leu dois mandamentos iguais?
Rui Neves
O que quer dizer que as normas “científicas” não existem (ou são elásticas), que a intuição é a regra, mas com formação adequada (e obrigatória) e sobretudo tem que haver valores a defender e a sublimar, faltando acrescentar a responsabilidade e consciência social das empresas e empresários, que está naturalmente colada subconscientemente aos valores.
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