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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Portugal, afinal não é tão mau como dizemos…

Alexander Ellis, Embaixador Britânico em Portugal
Casado com uma portuguesa, adepto do Sporting
reconhece a capacidade nacional do desenrasca
O Embaixador Britânico em Portugal, Alexander Ellis, estando de saída, em jeito de despedida, deixou-nos um decálogo notável, um desenho a corpo inteiro de Portugal e dos portugueses, que, porventura, nenhum de nós o saberia dizer, menos ainda escrever, já que tem um blogue, “Crónica de um Embaixador”, que o Expresso reproduz.
Para não ficarmos apenas pelo meu negativismo, talvez estas duas crónicas que escreveu nos mime o ego, porque bem merecemos.
Obrigados Sr. Embaixador e um Bom Natal para si!
Coisas que nunca deverão mudar em Portugal
Portugueses: 2010 tem sido um ano difícil para muitos; incerteza, mudanças, ansiedade sobre o futuro. O espírito do momento é de pessimismo, não de alegria. Mas o ânimo certo para entrar na época natalícia deve ser diferente. Por isso permitam-me, em vésperas da minha partida pela segunda vez deste pequeno jardim,  eleger dez coisas que espero bem que nunca mudem em Portugal.
1. A ligação intergeracional. Portugal é um país em que os jovens e os velhos conversam - normalmente dentro do contexto familiar. O estatuto de avô é altíssimo na sociedade portuguesa - e ainda bem. Os portugueses respeitam a primeira e a terceira idade,  para o benefício de todos.
2. O lugar central da comida na vida diária. O almoço conta - não uma sandes comida com pressa e mal digerida, mas uma sopa, um prato quente etc., tudo comido à mesa e em companhia. Também aqui se reforça uma ligação com a família.
3. A variedade da paisagem. Não conheço outro pais onde seja possível ver tanta coisa num dia só, desde a imponência do rio Douro até à beleza das planícies  do Alentejo, passando pelos planaltos e pela serra da Beira Interior.
4. A tolerância. Nunca vivi num país que aceita tão bem os estrangeiros. Não é por acaso que Portugal é considerado um dos países mais abertos aos emigrantes pelo estudo internacional MIPEX.
5. O café e os cafés. Os lugares são simples,  acolhedores e agradáveis; a bebida é um pequeno prazer diário, especialmente quando acompanhado por um pastel de nata quente.
6. A inocência. É difícil descrever esta ideia em poucas palavras sem parecer paternalista; mas vi no meu primeiro fim-de-semana em Portugal, numa festa popular em Vila Real, adolescentes a dançar danças tradicionais com uma alegria e abertura que têm, na sua raiz, uma certa inocência.
7. Um profundo espírito de independência. Olhando para o mapa ibérico parece estranho que Portugal continue a ser um país independente. Mas é e não é por acaso. No fundo de cada português há um espírito profundamente autónomo e independentista.
8.  As mulheres. O Adido de Defesa na Embaixada há quinze anos deu-me um conselho precioso: "Jovem, se quiser uma coisa para ser mesmo bem-feita neste país, dê a tarefa a uma mulher". Concordei tanto que me casei com uma portuguesa.
9.  A curiosidade sobre,  e o conhecimento, do mundo. A influência de "lá" é evidente cá, na comida, nas artes,  nos nomes. Portugal é um pais ligado,  e que quer continuar ligado, aos outros continentes do mundo.
10.  Que o dinheiro não é a coisa mais importante no mundo. As coisas boas de Portugal não são caras. Antes pelo contrário: não há nada melhor do que sair da praia ao fim da tarde e comer um peixe grelhado, acompanhado por um simples copo de vinho.
Então, terminaremos a contemplação do país não com miséria, mas com brindes e abraços.
Feliz Natal.
20 de Dezembro de 2010
E quando voltou, depois de 15 anos
Chegou a época do espírito natalício. Então, deixemos de lado quaisquer miserabilismos e concentremo-nos nas coisas boas - não como escape mas como realidade. Vivi em Portugal há 15 anos. Agora, de volta, quero sugerir 10 coisas, entre muitas outras, que melhoraram em Portugal desde a minha primeira estadia. Não incluo aqui coisas que já eram, e ainda são, fantásticas (desde a forma como acolhem os estrangeiros até à pastelaria). Aqui ficam algumas sugestões de melhorias:
- Mortalidade nas estradas; as estatísticas não mentem - o número de pessoas que morre em acidentes rodoviários é muito menor, cerca de 2000 em 1993 e de 776 em 2008. A experiência de conduzir na marginal é agora de prazer, não de terror. O tempo do Fiat Uno a 180km/h colado a nós nas auto-estradas está a passar.
- O vinho; já era bom, mas agora a variedade e a inovação são notáveis, com muito mais oferta e experiências agradáveis. Também se pode dizer a mesma coisa sobre o azeite e outros produtos tradicionais.
- O mar; Lisboa, em 1994, era uma cidade virada de costas para o mar; poucos restaurantes ou bares com vista, e pouca gente no mar. Hoje, vemos esplanadas e surfistas em toda a parte. Muita gente a aproveitar melhor um dos recursos naturais mais importantes do país.
- A zona da Expo; era horrível em 1994, cheia de poluição, com as antigas instalações petrolíferas. Agora é uma zona urbana belíssima, com museus e um Oceanário entre os melhores que há no Mundo.
- A saúde; muitas das minhas colegas têm feito esta sugestão - a qualidade do tratamento é muito melhor hoje em dia, apesar das dificuldades financeiras, etc. A prova está no aumento da esperança de vida, de cerca de 74 em 1993 para 78 anos em 2008.
Os parques naturais; viajei muito este ano do Gerês a Monserrate ; tudo mais limpo, melhor sinalizado, mais agradável. O pequeno jardim está, de facto, mais bem cuidado.
- O cheiro. Sendo por natureza liberal nos costumes sociais, não fui grande fã da proibição de fumar - mas, confesso, a experiência de estar num bar ou num restaurante em Portugal é hoje mais agradável com a ausência de tabagismo. E a minha roupa cheira menos mal no dia seguinte.
- A inovação; talvez seja fruto da minha ignorância do país em 1994, mas fico de boca aberta quando visito algumas das empresas que estão a investir no Reino Unido ; altíssima tecnologia, quadros dinâmicos e - o mais importante de tudo - não há medo. Acreditam que estão entre os melhores do mundo, e vão ao meu país, entre outros, para prová-lo.
- O metro de Lisboa. É limpo, rápido, acessível e tem estações bonitas.
- As cores; Portugal tem e sempre teve cores naturais bonitas. Mas a minha memória de 1994 era o aspecto visual bastante cinzento das cidades, desde a roupa até aos carros. Hoje há mais alegria - recordo um português que me disse, talvez com tristeza, que o país estava a tornar-se mais tropical. Em termos de imagem, parece-me um elogio!
Esta é a minha lista. E a sua?
18 de Dezembro de 2009

8 comentários:

  1. Pois é Sr. Embaixador
    Nada como o Pernil do "Outeiral"
    Bom natal
    Cumprimentos Manuela Diaz-Bérrio

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  2. Karocha
    Obrigado pela visita, pelo comentário e por me ter no seu rol de blogues.
    Acabei de colocar o INFÂMIAS nos meus blogues, porque também "Sou danado p'ra guerras; não as provoco."
    Deve ser Escorpião...
    E Bom Natal

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  3. Não tem de quê Miguel:-)
    Estou a preparar o post de Natal.
    Um Bom Natal para si também

    Karocha

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  4. Eu já fiz vários para as "Festas", que já estão agendados e um Postal para amanhã.

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  5. Boas Festas Miguel Loureiro e mais uma vez disponha!

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  6. Felizardo
    Obrigado e Bom Natal para si e família, mesmo que não haja bolo-rei.
    Amanhã às 7H00 publico, a ver se chega a tempo de alguns o apanharem, mas são sempre os mesmos...

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  7. Já está publicado Miguel!
    Abraço
    Karocha

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