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sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um modelo de inovação social ou o método de imolação social?

As cantinas sociais, que foram anunciadas como "um modelo de inovação social", podem fomentar a desigualdade e a exclusão social, alerta um estudo a ser divulgado em Lisboa esta sexta-feira.
De responsabilidade de Vasco Almeida, do Instituto Superior Miguel Torga/Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, o estudo, através de uma "metodologia qualitativa" e baseada em entrevistas com funcionários das IPSS, alerta para vários efeitos negativos que podem ter as cantinas. Existem atualmente mais de 800 cantinas. E estas entre Janeiro e Outubro do ano passado serviram mais de 14.000.000 de refeições.
No entanto o investigador, como explicou, olha com desconfiança para a iniciativa, desde logo porque se trata de "um acto isolado, que não vai resolver a pobreza nem contribui para a capacitação das pessoas". É "uma medida temporária, com um destino incerto" e todas as pessoas com quem falei me dizem que se está a ir para onde não se devia, que é "dar o peixe em vez de ensinar a pescar", disse.
Vasco Almeida vê méritos na medida e não se esquece que através dela se tira a fome a muitas pessoas, mas adianta que a mesma não é abrangente, porque existem listas de espera, e que é apenas uma refeição por dia e "nem sempre 7 dias por semana".
Chegar a quem precisa
"Há zonas interiores onde não há qualquer IPSS, nem sempre as cantinas chegam a quem precisa, e quem recebe outro tipo de ajuda, como do Banco Alimentar, não tem acesso, sendo que são pontuais as ajudas do Banco", acrescentou.
Vasco Almeida lembrou que o Governo paga a cada IPSS 2,5 euros por refeição para acrescentar que haverá instituições que não se norteiam por uma acção solidária mas que, ao contrário, poderão estar a ver nesta contribuição "uma forma de arranjar um suplemento financeiro". O investigador não desmerece o papel das IPSS mas salientou que o Estado deve de ser "um financiador e também um regulador". Mas diz perentoriamente que as cantinas sociais "não resolvem os problemas e trazem dependência".
"As cantinas foram anunciadas como um modelo de inovação social. Mas se olharmos para o conceito mais comum pressupõe-se que na inovação social haja capacitação do indivíduo, o que não acontece", disse também.
Há certas práticas baseadas em certos conceitos, que nem precisam de Estudos, embora os estudos venham confirmar o que a nossa razão, a nossa intuição e a realidade a que assistimos nos aponta, como é o caso.
Transformar um grupo, um setor da sociedade ou um país dependente de ajudas de emergência, venham de onde venham, esticando-as sem limites temporais e sem medidas transformadoras das circunstâncias, chama-se: assistencialismo, que mais não é do que condenar à desigualdade e às “exclusões sociais” e criando em cada “beneficiário” a obrigação de ficar agradecido…
Para quem leu (já em 1998) o livrinho de Alfredo Bruto da Costa - “Exclusões Sociais” - da Editora Gradiva, que se aconselha, terá ficado com uma noção mais abrangente e fundamentada da diferença dos conceitos “Exclusão Social” e “Exclusões Sociais”, já que aí se “propõe uma definição de “exclusão social” que encara a noção (de raiz anglo-saxónica) de “pobreza” e o conceito (originariamente francês) de “exclusão social” como complementares. Realça o facto de se tratar de um problema complexo e heterogéneo, pelo que se justifica falar em “exclusões sociais”, no plural. A definição proposta é ilustrada com a abordagem de 5 formas de exclusão: pobreza, desemprego/emprego precário, minorias étnico-culturais, idosos e a situação dos sem-abrigo.
O estudo procura, sobretudo, contribuir para uma melhor compreensão destes problemas sociais, para melhor fundamentação das ações, preventivas e curativas, de luta contra a exclusão.”
Já nem vale a pena referir que a maioria dos excluídos, de hoje, o foram por razões alheias à sua vontade, pelas circunstâncias da crise que vitimou os mais frágeis, oferecendo-lhes o “pão e água” da subsistência, até que as exclusões sociais se consolidem, com a “ajuda” dos mais ricos, que serão ainda mais ricos, com pouca despesa… Se em 10 meses se serviram 14.000.000 de refeições, a 2,5 euros cada, quer dizer que 35 milhões de euros bastaram para “resolver” o problema, e se entrarmos com o ano todo de 2013, teriam sido 16.800.000 refeições, com um gasto de 42 milhões, uma “ninharia” para disfarçar a malfeitoria…
Por este andar, já não basta “dar o peixe” que está em vias de extinção, mas há sempre “canas” para vergastar os inocentes…

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