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domingo, 12 de janeiro de 2014

Uma “carta de recomendação” pouco abonatória…

Acusado de ter ajudado a Grécia a camuflar o estado real das suas finanças públicas e de especular sobre a dívida daquele país, o grande banco comercial americano dispõe de uma rede sólida de conselheiros aos quais os responsáveis europeus dão ouvidos.
Petros Christodoulou finge que não liga aos cumprimentos. Desde a adolescência que este primeiro aluno da turma está habituado a ouvir dizer o melhor possível da sua pessoa. Nomeado, em 19 de Fevereiro, director do organismo de gestão da dívida pública grega, está hoje na primeira fila. Acontece que este antigo director de activos do National Bank of Greece (NBG) está no centro do inquérito, anunciado em 25 de Fevereiro pelo Banco Central dos Estados Unidos (Fed), sobre os contratos relativos à dívida grega que ligam o banco comercial americano Goldman Sachs e outras empresas ao Governo de Atenas. Aquele estabelecimento de Nova Iorque foi pago como conselheiro bancário do Governo grego, ao mesmo tempo que especulava sobre a dívida do país. O banco emissor americano está interessado no papel desempenhado por Petros Christodoulou, que, no início de 2009, supervisionou, ao lado do Goldman Sachs, a criação da sociedade britânica Titlos para transferir a dívida orçamental da Grécia para o NBG. Antes de trabalhar para este último, o interessado tinha sido funcionário do… Goldman Sachs.
"Governo Sachs"
Este caso é esclarecedor quanto ao poder da rede de influências europeia do Goldman Sachs, sedimentada desde 1985. Esta trama apertada, simultaneamente subterrânea e pública, tem intermediários e fiéis que, graças às suas agendas de contactos, abrem as portas dos gabinetes governamentais. Estes conselheiros, recrutados com extremo cuidado e a preço de ouro, conhecem todas as subtilezas dos corredores do poder no seio da União Europeia. Têm a confiança dos decisores, aos quais podem telefonar directamente nos momentos de crise. Quem são esses membros da vertente europeia do "governo Sachs", como há quem chame àquele banco, devido ao seu poder de influência em Washington? O elo de ligação principal é Peter Sutherland, presidente do Goldman Sachs International, a filial europeia com sede em Londres. Este antigo Comissário Europeu da Concorrência e antigo presidente da BP é o homem fundamental, no que diz respeito aos 27 e à Rússia. Em França, o banco beneficia do apoio de Charles de Croisset, antigo presidente do Crédit Commercial de France (CCF), que sucedeu a Jacques Mayoux, inspector da Inspecção-Geral de Finanças e antigo patrão da Société Générale. No Reino Unido, o Goldman conta com Lorde Griffiths, que foi conselheiro da antiga primeira-ministra Margaret Thatcher, e, na Alemanha, com Otmar Issing, antigo membro da Comissão Executiva do Bundesbank e antigo economista principal do Banco Central Europeu (BCE).
Goldman funciona no mundo real
Para já não falar da série de "antigos colaboradores", catapultados para as esferas dirigentes e com os quais o banco pode contar para mover os seus peões. O mais conhecido é Mario Draghi, que foi vice-presidente para a Europa entre 2001 e 2006 e é actualmente governador do Banco de Itália e patrão do grupo de reguladores, o Conselho de Estabilidade Financeira. Contudo, não esperem encontrar antigos diplomatas refinados nos corredores vetustos do Goldman Sachs International: o banco recorre a ex-financeiros e economistas, altos quadros de bancos centrais e altos funcionários das organizações económicas internacionais. Considera que os embaixadores na reforma são figuras decorativas simpáticas que não têm contactos ao mais alto nível e não percebem nada do mundo dos negócios. O Goldman funciona no mundo real. Para o Goldman Sachs, uma das vantagens desta rede é a possibilidade de avançar sob disfarce. Assim, no Financial Times de 15 de Fevereiro, Omar Issing assina um texto hostil à operação de salvamento da Grécia pela União Europeia. O interessado assina o artigo, sem especificar que é conselheiro internacional do Goldman Sachs desde 2006 – nem que o departamento de negócios do banco, que especulou contra a moeda única, tem tudo a perder com uma intervenção europeia.

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