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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

É uma decisão emocionante e com consciência…

Nos EUA, o professor catedrático António Damásio foi distinguido com o Prémio Grawemeyer 2014 na área da Psicologia. O português foi condecorado pela hipótese que apresentou sobre os marcadores somáticos, que mostra a forma como as emoções influenciam a tomada de decisões. 
Segundo a 'Temas e Debates', editora que chancela as obras do investigador, o Prémio Grawemeyer para Psicologia, entregue anualmente pela Universidade de Louisville, no Kentucky, tem vindo a distinguir "os mais destacados estudiosos da cognição e da neurociência pelas suas ideias revolucionárias".
Damásio, de 69 anos, é titular da cátedra David Dornsife de Neurociência, professor de psicologia e neurologia e ainda director do Brain and Creativity Institute (Instituto do Cérebro e da Criatividade).
O investigador diz-se satisfeito por ter sido distinguido com este prémio que junta, agora, ao da Fundação Honda, ao Príncipe das Astúrias para a Investigação Científica e Técnica e ao Prémio Pessoa, que recebeu em conjunto com Hanna Damásio, em 1992, entre outros. "A hipótese dos marcadores somáticos veio a revelar-se importante para a compreensão do comportamento humano complexo. Fico satisfeito por ver que foi reconhecida", afirma.
O português foi eleito para o Institute of Medicine da National Academy of Sciences dos Estados Unidos e recebeu já vários doutoramentos 'honoris causa', entre outras distinções, como a condecoração de Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada.
Damásio é autor de obras como 'O Livro da Consciência', 'Ao Encontro de Espinosa', 'O Erro de Descartes' e 'O Sentimento de Si', todas traduzidas para mais de 20 línguas e integrantes do currículo de universidades de todo o mundo, e de cerca de 4 centenas de artigos científicos publicados.
H. Charles Grawemeyer (1912-1993), filho de emigrantes alemães nos Estados Unidos, foi o industrial, investidor e filantropo que criou os Prémios Grawemeyer com o objetivo de "tornar o mundo um lugar melhor".
António Damásio vai agora apresentar uma palestra na cerimónia de entrega de prémios, que terá lugar em Abril do próximo ano, na Universidade de Louisville.
Professor da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, o neurologista português António Damásio divide com o inglês Oliver Sacks o título de grande estudioso da mente humana, com uma vantagem para o público leigo: os 2 são capazes de traduzir o que descobrem em linguagem coloquial. Damásio especializou-se na consciência, a função mental que dá às pessoas a sensação de serem únicas no mundo e, portanto, permite o reconhecimento da existência do outro. Para Damásio, a fronteira final do estudo da inteligência será alcançada quando se desvendar a maneira pela qual a mente aprende a aprender. Abaixo, a entrevista concedida a Denise Ramiro, de VEJA.
Veja - Considerando que o computador disponibiliza uma enorme riqueza de imagens e informações, comparando as pessoas de hoje com as de há 20 anos pode-se dizer que hoje há mais inteligência?
O meio muito rico em que vivemos atualmente, com televisão, cinema e computador, leva o nosso cérebro a ter uma agilidade maior. Mas isso não é tudo. Ao mesmo tempo que a tecnologia permite que as pessoas tenham acesso a maior volume de informações, pode inibir a capacidade de decisão e de imaginação. É preciso, portanto, aprender a lidar com as novidades para que elas sejam bem aproveitadas.
Por que os testes de QI estão a voltar?
O teste tradicional de medida do quociente de inteligência, o QI, é expressão de uma capacidade geral de inteligência. Ele é especialmente útil se se considerar que a maior parte das pessoas que sobressaem num tipo específico de inteligência (emocional, artística ou motora, por exemplo) tem também um QI elevado. Isso porque toda a atividade humana é resultado de uma combinação de fatores intelectuais e emocionais. Ou seja, a sensibilidade é muito importante, mas a capacidade de raciocínio, que está ligada à inteligência, também tem um enorme papel a desempenhar.
Existe uma fórmula para garantir que os filhos sejam inteligentes e bem-sucedidos?
Não há uma fórmula, mas existem algumas regrinhas básicas. Garantir que a criança tenha boa saúde, desde a gestação, é fundamental. Depois, é importante oferecer um ambiente de carinho e que seja rico e estimulante, do ponto de vista intelectual e emocional. Com isso, a criança poderá desenvolver a sua inteligência e terá mais chances de ser feliz.
Estão no cérebro as razões do sucesso ou insucesso das pessoas?
As características físicas do cérebro ajudam a determinar o destino das pessoas, a sua possibilidade de ser feliz ou infeliz. Mas não é só isso. O destino também é resultado do meio social e cultural em que nos desenvolvemos. A maneira como as pessoas enfrentam a vida e os resultados que obtêm é consequência de uma combinação de fatores biológicos, que vêm da nossa estrutura física cerebral, e culturais, que têm a ver com a forma como cada um de nós se desenvolveu na estrutura familiar, escolar e social no sentido mais amplo. Sou totalmente contra a ideia de que tudo aquilo que somos é determinado pela carga genética que carregamos e pela nossa estrutura física.
O que ocorre no nosso cérebro que nos faz tomar conhecimento do que acontece no mundo?
São os mecanismos da consciência de que trato no meu livro “O Mistério da Consciência”. O nosso cérebro elabora uma construção não só das imagens do que acontece no mundo, mas também da nossa própria imagem. É através dessa imagem, que relaciona corpo e objeto, que vamos construir o sentido da consciência, o sentido do próprio e a capacidade que temos de conhecer aquilo que acontece à nossa volta.
As pessoas costumam achar que decidem e pensam melhor quando estão de cabeça fria, livres de emoções. Esta é uma impressão correta?
É uma impressão totalmente errada. As emoções são extraordinariamente importantes no processo de decisão. A emoção faz parte do mecanismo neurológico da decisão.
Todas as manhãs acordamos e recuperamos a consciência - este é um facto maravilhoso - mas o que é isso, exatamente, que nós recuperamos? O neurocientista António Damásio usa esta simples pergunta para nos dar um vislumbre de como os nossos cérebros criam o nosso sentido do eu.

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