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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Duas caras-metades, que (não) são o rosto do país…

Álvaro Santos Pereira vai-se embora, Vítor Gaspar vai-se embora. Quem pode ir, vai, tem pouco a perder por aqui ou tem mais a ganhar lá fora. É simples, é justo, faz sentido, mas tenho de lembrar aqui um texto que escrevi em setembro de 2012, quando se pré-anunciava o terrível e lancinante Orçamento do Estado para 2013.
André Macedo
Na altura, escrevi isto: “Passos & Gaspar deviam ter anunciado mais uma medida estrutural: que se comprometem a ficar em Portugal nos próximos 10 anos. O que digo? 15 anos e a trabalhar no setor público. Demagógico? Sim, porque não? São de tal forma recessivas as medidas que Passos & Gaspar têm de dar o exemplo. Ficam aqui a roer os ossos de uma economia desgraçada.”
Gaspar voltou entretanto ao bunker do Banco de Portugal e já deve ter começado a fazer as malas para Washington: FMI aqui vou eu. Depois de ter experimentado o maior aumento de impostos jamais testado e executado em Portugal, faz sentido que Gaspar passe a liderar o departamento do FMI encarregue de impor aos outros este calibre de brutalidades radioactivas.
Quer dizer, se ele foi capaz de o fazer ao próprio povo sem pestanejar, não lhe tremerá a mão ao fazer o mesmo aos estrangeiros de países, digamos, menores. Ele ganhou essa medalha: Gaspar é um martelo fiscal testado nas mais duras condições de combate.
Eu compreendo que o antigo ministro das Finanças queira sair do país o mais depressa possível. Apesar da ligeira recuperação económica, os riscos são imensos e o ambiente continua pesado, desesperante, preocupante. Um país com 15,5% de desemprego (previsão de 17,7% para 2014...) não é um sítio agradável para viver. Aqui não se prospera, perde-se tempo, desperdiça-se talento, rema-se contra a maré. Pior. Esperar 12 horas para ser atendido numa urgência de hospital é uma coisa que já não se usa. É um risco, é um perigo, não é muito saudável.
Eu compreendo que ele queira sair. Profissionalmente o país está limitado pela sua dimensão (sempre esteve) e por uma economia condenada a encolher, a desendividar e a empobrecer. Mas não deixa de ser simbólico que Gaspar tenha aguentado tão pouco tempo à civil: saiu do governo em Junho, 7 meses depois já está farto disto tudo. Pois. É que essa variável - a falta de expectativas, a regressão, o sufoco, a tolerância aos maus serviços públicos e privados – não cabe, não existe no Excel; mas são estes detalhes que ajudam a fazer ou a quebrar uma nação.
Gaspar vai para o FMI. Eu diria que estão feitos um para o outro. É aliás muito interessante que, como noticia hoje o Diário Económico, Portugal seja o país que mais elogia a troika. Querem (os ministros) ir todos trabalhar para o FMI ou para o BCE ou para a Comissão? Portugal sempre foi um bom laboratório.
P.S. - Embora a crise já vá longa, vale sempre a pena sublinhar que não atribuo a este governo a origem do que nos aconteceu, remeto-lhe apenas a responsabilidade (grande) de ter agravado a situação por flagrante impreparação, surdez e cegueira.

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