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sábado, 1 de dezembro de 2012

A crítica de um crítico d’Arte (de "encher chouriços")...

Mulher a encher chouriços
1. "Oh minha senhora, já me fez essa pergunta 4 vezes!". Foi a frase que marcou a entrevista de Pedro Passos Coelho à TVI - foi curioso notar que o Primeiro-Ministro começou a abordar Judite de Sousa como "senhora doutora" e acabou por se exasperar com a jornalista no final da entrevista. Significa isto que Judite de Sousa cumpriu com talento e profissionalismo a sua missão: interrogar, com objetividade e clarividência, o (formalmente) chefe de Governo. Ai, coitadinho do Passos! Já teve de fugir à pergunta 3 vezes e a diabólica da Judite ainda insistiu mais uma vez... ai, que pena que nós temos de Passos Coelho: é que fugir às perguntas dá mesmo muito trabalho! Por amor de Deus: se nós portugueses protestássemos cada vez que Passos Coelho nos dificulta - ou, em português claro, percetível para todos, sem margens para dúvidas, nos "lixa" - a vida, então andaríamos sempre irritados com o nosso Excelentíssimo senhor Primeiro-Ministro!
2. Dito isto, passemos à análise da entrevista. Para além da "minha senhora, já fez essa pergunta 4 vezes", dita em tom irritado por Passos Coelho, do debate não ficou absolutamente nada! Passos Coelho esteve basicamente a falar, a falar, a falar - sem dizer quase nada de original ou de novo. Basicamente, Passos Coelho esteve a exercitar a sua especialidade que é o discurso vazio, inconsequente e negro para os portugueses - no fundo, a arte do "encher chouriços", como diz o Senhor Manuel do café ali do fundo da rua, que (tenho a certeza!) sabe mais e tem mais consciência da crise em que vivemos do que Pedro Passos Coelho.
2.1. Não obstante, da entrevista à TVI, podemos retirar as seguintes conclusões, em jeito mais de confirmação do que propriamente de novidade:
Passos Coelho não vai fazer nenhum esforço para dialogar com o Partido Socialista. Daí que a palavra "refundação" tenha saído, muito subtilmente, muito ligeiramente, do seu léxico político. Note-se que Passos Coelho pretendia reduzir a despesa até Fevereiro - data-limite em que tem de apresentar medidas à troika - convidando, em termos muito abstratos, o PS a colaborar com o Governo. Na entrevista, Passos Coelho já afirmou algo diverso: as medidas que serão apresentadas em Fevereiro serão meramente conjunturais, servirão para resolver problemas do imediato. Esta mudança de discurso denota duas coisas: o Governo não se quer comprometer com nada definitivo com os portugueses para já, esperando que o clima social registe uma acalmia significativa; por outro lado, Passos Coelho vai avançar sozinho sem o PS, sem dar, ao mesmo tempo, azo à política de vitimização de António José Seguro.
Quanto ao Orçamento de Estado para o próximo ano, Passos Coelho não se comprometeu com o êxito da sua execução (aliás, se há expressão que pode caraterizar a entrevista de quarta-feira é a de entrevista de descomprometimento). Confrontado com as previsões das instâncias internacionais que desmentem as do Governo, basicamente, Passos Coelho, muito incomodado, começou a preparar o discurso de justificação do falhanço do Governo. Tratou-se, acima de tudo, de um tubo de ensaio justificativo de novo insucesso orçamental, a preparar já terreno para aquele que será o discurso recorrente do Governo em 2013;
Por outro lado, Passos Coelho disse mais do que aquilo que queria dizer. O Primeiro-Ministro foi para a entrevista com Judite de Sousa e José Alberto Carvalho preparado para não sair dos limites estritos de um guião preparado pelos seus assessores que era simplesmente isto: o Governo está a fazer tudo aquilo que pode. Nem mais, nem menos - e tinha que preencher uma hora só com esta mensagem. Ora, não se percebe por que razão alguém tão preocupado com a sua imagem, com a sua comunicação, como é Passos Coelho, tenha proposto à TVI realizar esta entrevista: é que uma mensagem tão curta como era a que Passos Coelho queria transmitir aos portugueses não justificava uma entrevista. Porém, quando Passos Coelho começou a ficar incomodado, começou a trair-se a si próprio: pense-se no exemplo dos impostos. Foi uma verdadeira gaffe: Passos Coelho afirmou que o atual nível da carga fiscal é insustentável, mas é para manter por uns bons anos. Com isto, e sem ter consciência, Passos Coelho qualificou a sua política: insustentável. Algo insustentável, tanto quanto sei, é algo que não se pode sustentar: se não se pode sustentar, como poderá ter êxito? Mais: Passos Coelho já não tem margem nenhuma para aumentar impostos - fechou completamente a porta à subida de impostos. Esta é a única semi-novidade do discurso: Passos mantém impostos - mas não os vai subir. Ele não queria dizer, mas disse.
Por último, temos a questão da saúde da coligação PSD/CDS. A resposta de Passos Coelho foi verdadeiramente reveladora (e assustadora!). Afirmou que a coligação resistirá por obrigação e por convicção. Tudo isto é "politiquês" - traduzindo para português corrente significa que sim, a coligação está por um fio. Dedicaremos um texto autónomo sobre esta matéria, dada a sua relevância para o futuro político português.
Notas:
Passos Coelho: 8 valores
Judite Sousa: 13 valores
José Alberto Carvalho: 12 alores

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