No documento que foi distribuído internamente e que hoje deverá ser entregue à ERC, conclui-se que no passado dia 14 "a PSP solicitou, junto da RTP (Subdireção de Produção de Informação) a escolha e cedência das imagens dos incidentes do dia da greve, recolhidas pela RTP, bem como o seu visionamento nas respectivas instalações", e que "o então Diretor de Informação [Nuno Santos] autorizou que a PSP visionasse as imagens na RTP no dia seguinte num sítio discreto que não no Arquivo".
Fonte próxima do ex-diretor de informação da RTP desmente à TSF a informação avançada hoje pelo Correio da Manhã, que dizia que Nuno Santos estava a par do pedido de imagens por parte da PSP.
“É preciso saber se o Parlamento sabe o que faz o Governo, se o Governo sabe o que fazem os seus ministros, se o ministro manda nas polícias, se as polícias, ou as suas unidades embuçadas, se arrogam o direito de mandar nas televisões, e se alguém na RTP atuou como se esse suposto direito devesse ser reconhecido a algum graduado da polícia”, justificaram os trabalhadores, por comunicado.
PSD e CDS justificam o pedido de audição de Alberto da Ponte e de Nuno Santos face à necessidade de um "cabal esclarecimento" sobre se houve uma cedência ou visualização de imagens dos incidentes da manifestação do passado dia 14, junto ao Parlamento, por parte de "elementos estranhos" à RTP.
A Direcção Nacional da PSP pediu ao ministro Miguel Macedo autorização para usar câmaras portáteis para gravar as concentrações, e, deste modo, mais facilmente identificar os autores de eventuais desacatos.
Era a primeira grande manifestação após a violenta carga policial de 14 de novembro. A CGTP juntava milhares de pessoas frente à Assembleia da República para afirmar o seu voto contra o Orçamento do Estado para 2013. Talvez tenha sido porque tudo aconteceu em poucas horas e antes de almoço que não houve espaço para incidentes. Será assim na quinta-feira com os estivadores?
Há 2 casos no novo caso RTP. O caso das imagens - já muito tratado na imprensa - e o caso da demissão de Nuno Santos, cujos contornos a mesma imprensa tem ignorado. Dedico o Panóptico a este, anotado que fica que concordo que uma investigação independente do Estado (nem da RTP, nem da PSP, nem do MAI) averigue os contornos legais do visionamento ou cedência de imagens.
Eduardo Cintra Torres
O segundo caso é este: Nuno Santos foi vítima de uma cilada para colocar a Direcção de Informação (DI) da RTP ao serviço do governo. O assunto ficara esclarecido com o Conselho de Redacção, a Comissão de Trabalhadores e o "director-geral" Luís Marinho (entre aspas porque o cargo continua ilegal), e, através deste, com a administração.
Apesar disso, o caso foi reavivado 3 dias depois pelo "director-geral" e pela administração. Porquê? A meu ver, o "director-geral", o ministro Relvas, e o seu homem na administração, Alberto da Ponte, aproveitaram o caso para desgastar Santos, que vinha a desenvolver uma informação mais independente do poder político, desagradando a Relvas e relvistas na RTP. Apesar de esclarecido o assunto, os relvistas, pensando melhor, concluíram que podiam explorar o caso. Santos, percebendo a cilada, demitiu-se. Foi uma cabala própria dos mais ruins regimes de propaganda, autoritarismo e desinformação. O resto é fumaça, como o inquérito sumário e pré-decidido, tipo pré-25 de Abril, que Ponte mandou fazer. Ponte, cuja capacidade de gestão ainda não se viu, politicamente provou a sua submissão ao ministro Relvas.
Resultado? A administração de Relvas indica Marinho para DI. É escandaloso, em termos institucionais, que um antigo administrador da RTP regresse à DI. Ainda por cima, ele, o principal responsável pela informação, não só ficou de fora das acusações da administração, como é nomeado para DI. Se for aceite pela ERC, será um dos mais graves atentados à ética do jornalismo e da informação em Portugal nos últimos anos. E, jornalisticamente, é ainda mais escandaloso, conhecendo-se o tipo de relacionamento de Marinho com os governos (Sócrates e Relvas).
A tomada do poder da informação pelos relvistas inscreve-se na história: o poder político considera a RTP como sua, não como do Estado para servir os portugueses. Não há meio de sair deste ciclo infernal criado por PS e PSD; a independência das DI é uma excepção na habitual submissão.
Para se defender os cidadãos, teria de começar-se pelos afastamentos de Relvas do governo, de Ponte da presidência da RTP, de Marinho de um cargo ilegal e do controle da informação. Que fará Passos Coelho com a RTP?
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