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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nem mais, nem menos. É isso aí!

Não faz falta celebrar o 25 de Abril hoje. O que faz falta é respirar democracia o ano inteiro.
Muito sinceramente, não vejo que sentido faça a celebração do 25 de Abril com discursos de retórica, evocações de princípios e conversas de circunstância sobre os ideais dessa Primavera distante, como que a querer dar um ar de aparente normalidade e de plena convivência democrática, quando na verdade, uns poucos os praticam e outros tantos os usurpam, invocando em vão o nome dos valores, dos direitos, liberdades e garantias conquistados há 38 anos, e quando tão pouca é a democracia que se respira durante o resto do ano.
Têm, portanto, toda a liberdade para abdicar do palanque e da condecoração, da cadeira da tribuna e da decoração de cravos na lapela ou no parlamento, quem entender que deve praticar um outro exercício que completa a democracia: a liberdade para dizer não quero e não vou por este caminho. São livres de dizerem que não concordam e até repudiam, que decidem romper o protocolo por solidariedade de outras causas ou aspirações que são tão legítimas de um povo que sofre para ter pão, que paga a gasolina ao preço da Alemanha mas que leva para casa um salário tão magro que nem tem comparação nessa união de disparidades e de acomodações.
Os protagonistas do 25 de Abril de hoje não são apenas os políticos, os militares, os ex-presidentes da República ausentes ou presentes. São cada vez mais os trabalhadores que sustentam os devaneios de quem tem governado mal e empregue de forma criminosa o erário e o bem público. São também os desempregados que querem trabalhar, os montadores de bancadas, a mulheres dos arranjos florais, os músicos da banda, os polícias, os inspectores tributários, os peritos do Departamento Central de Investigação e Accão Penal.
E que bom seria que a consciência individual deste povo basáltico despertasse das brumas da memória, descolasse dos socalcos do vale à montanha nem que fosse apenas para se abeirar e espreitar a dimensão da cratera que se foi abrindo ao longo destes anos para ao menos reflectir sobre o buraco bem maior do que aquele dos furados que nos puseram tantos anos a contemplar, escrutinando de 4 em 4 anos, e cuja factura foi caindo (sem ninguém sentir) nas nossas mãos como um cartão de crédito com milhares de euros em juros somados. É óbvio que nós não queremos este ‘prémio’ de natalidade nem desejamos deixá-lo como herança para os nossos filhos. Nesta democracia em eterna construção, não há cravos mas flores da laranjeira. No dia em que percebermos todos que o 25 de Abril, para florir, não pode crescer à sombra de ninguém, a data deixará de ser uma efeméride do passado evocada no presente para se tornar finalmente num marco histórico do presente inspirado na história do passado.

2 comentários:

  1. De que serve festejar um 25 de Abril sem conteúdo?!

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    1. Há muito boa gente que tem mais do que razões, embora nada tenham feito senão aproveitar-se...

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