“D. Quixote e Sancho Pança”
de Gustave Doré
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Ao invés de decisões firmes e definitivas, os líderes europeus limitaram-se a repetir que querem a permanência da Grécia na zona euro, enfatizando, no entanto, que o novo governo a sair das eleições de 17 de Junho terá que cumprir o acordado aquando do último resgate a Atenas.
François Hollande, que se estreou em cimeiras do género, lembrou no final que falar sobre a hipótese de saída da Grécia da moeda única “iria enviar um mau sinal para o país e para os mercados. Por isso, prefiro dizer que a França e a Europa querem que a Grécia fique, respeitando os compromissos assumidos”. O chefe de Estado gaulês disse ainda que a Europa “deve dar passos claros para restaurar a esperança na região”, frisando que isso será positivo “para a Grécia, a zona euro e a economia global”.
Mas a verdade é que o falhanço em encontrar um caminho concreto para o problema grego ou a questão dos eurobonds reflecte as notórias divisões existentes no seio da Europa sobre como responder a uma crise que não pára de ganhar dimensão, designadamente em virtude da instabilidade na Grécia. Durante 6 horas de reunião não houve qualquer discussão de fundo sobre a questão helénica. Grande parte da sessão centrou-se nas políticas de crescimento, designadamente através do investimento em projectos infra-estruturais de grande escala. Mas mesmo aí, não foi tomada qualquer decisão, mesmo havendo propostas como a de injectar 10 mil milhões de euros em novo capital no Banco Europeu de Investimento.
As manchetes dos jornais gregos de hoje são bastante elucidativas sobre a Torre de Babel instalada em Bruxelas. No entanto, a incompreensão não é linguística, é mesmo ideológica. Como se os ponteiros dos relógios dos 27 estivessem afetados por uma onda magnética. Uns viram para Merkel e outros tentam travar o recém chegado Quixote com a exigência dos eurobonds.
Os 27 são unânimes apenas quanto à necessidade de Atenas se manter na zona euro, mas preparam o terreno para alguma inevitabilidade depois das legislativas de junho.
A chanceler alemã insiste que a Grécia tem de fazer descer o défice e proceder reformas estruturais, depois das eleições: “Queremos que Grécia fique no euro, mas fazemos questão em que cumpra os compromissos assumidos”.
Sobre a questão da mutualização da dívida na zona euro, há duas tendências: a de os criar como um prémio de crescimento, ou seja, tendência Merkel, e a de os criar como alavanca, como quer Hollande: “Respeito o ponto de vista de Angela Merkel quando diz que os eurobonds não são um instrumento de crescimento em si mesmos, mas que podem proporcionar crescimento em certas situações. De modo que o debate vai continuar”.
Na próxima cimeira em junho, continuarão na agenda os eurobonds e as medidas de crescimento.
“Eu defendi o que tenho defendido em público: creio que os 'eurobonds' não são uma resposta para a situação actual”, disse Passos Coelho, acrescentando que o Governo não tem uma posição de princípio contra a ideia.
Para Francisco Louçã, "ao recusar uma solução da Europa toda contra a especulação financeira", Passos Coelho "mostrou que está mais próximo de ser um embaixador da senhora Merkel do que propriamente um governante para responder às dificuldades em Portugal".
Louçã lamentou ainda que o PS "tenha aceitado retirar da sua proposta de adenda ao tratado" europeu a "ideia de um impulso europeu para uma solução europeia com um orçamento e um financiamento europeus por via dos eurobonds.
Pelos vistos, mais 6 horas de reunião que foram para o galheiro, em que os problemas de amanhã, Grécia e Espanha, não foram aflorados (temos tempo e mais Cimeiras), mas pelo menos quebrou-se um tabu, concretamente, falando-se em políticas de crescimento.
O esquisito é que o caminho do crescimento passe, mais uma vez, pelo investimento em projetos de infraestruturas de grande escala (o governo anterior foi condenado pelas obras megalómanas ditadas por alguém…), de que beneficiarão exclusivamente os grandes grupos, porque as PMEs só tocam cavaquinho e os cidadãos não chegam ao pote…
Dentro das novidades, podemos constatar duas bizarrias sobre os eurobonds, a primeira que tem a ver com os dois grupos que se formaram, em que num estão os que concordam com Merkel e no outro também, porque querem que Hollande desista dos mesmos, a segunda, da responsabilidade do jornalista, ao chamar D. Quixote ao presidente francês, provavelmente numa prática de “jornalismo interpretativo”… Isenção! O nosso Passos, crente na Sra. Merkel e seu seguidor, instalou-se logo no primeiro grupo e nos lugares da frente, pondo-se a jeito da oposição…
Mas registe-se a teimosia do D. Quixote, que dizendo que respeitava a discordância de Merkel (e dos seus seguidores) sobre os eurobonds (para já não, diz ela) o debate iria continuar. Pois claro!
Pelo que diz Louçã, o Seguro (se lá estivesse) ficaria no segundo grupo (concordando com PPC), já que o PS retirou da proposta de adenda ao tratado europeu a ideia dos eurobonds, o que a ser exato o afasta do seu D. Quixote.
Assim, ainda vamos ficar só com o Sancho Pança…
Palhaços!!!
ResponderEliminarBrincam com o destino dos povos!
Ao vassalo tuga, só lhe falta beijar o cu!
E o vassalo até ficou na foto ao lado da "madrasta"... Ainda vai dançar o tango com a Ela.
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