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terça-feira, 22 de maio de 2012

Contrafação ideológica e linguística?

Triunfante há uma década, a social-democracia está hoje afastada do poder na maioria dos países europeus. Porque não tem propostas novas e, sobretudo, porque deixou que a direita copiasse as suas ideias e a sua linguagem, para satisfazer as expectativas dos eleitores.
Era uma vez uma empresa de iogurtes líquidos. Como a maioria das empresas com negócios florescentes, queria fazer ainda melhor. Perguntou então aos clientes como era possível, na opinião deles, melhorar ainda mais os seus produtos. Os clientes responderam com sinceridade e a empresa mudou a receita. Mas as vendas não aumentaram. Porquê?
Um dia, os diretores decidiram fazer uma experiência inédita. Perguntaram aos clientes qual a finalidade com que compravam o seu produto. Por outras palavras, qual era, segundo eles, a vantagem dos iogurtes de beber? Ficou claro que a maioria das pessoas que compravam iogurte de beber fazia longos trajetos de carro.
Procuravam um alimento que não fizesse migalhas e que aguentasse bastante tempo. A empresa percebeu imediatamente onde devia melhorar. Não era no sabor, mas em tudo o que contribuísse para a comodidade e para facilitar o consumo do iogurte em viagem. O que os consumidores querem, em primeiro lugar, é a solução para um problema, não um produto.
Uma direita suave e modernizada
O semanário The New Yorker publicou recentemente uma entrevista com um dos mais conhecidos gurus do setor empresarial. Clayton Christensen estudou as razões pelas quais algumas grandes empresas bem-sucedidas e dominantes no seu setor perdem mercado a favor de um novo concorrente. Demonstrou que esses novos produtos que suplantam os dos gigantes do ramo não são melhores, pelo contrário, são quase sempre de qualidade inferior. Como é possível?
Embora a política seja um mundo diferente, passa-se o mesmo fenómeno. Há 10 anos, a Europa era quase totalmente dominada por governos social democratas. Nomeadamente os de Tony [Blair, no Reino Unido], Gerhard [Schröder, na Alemanha] e Göran [Persson, na Suécia]. Depois ocorreu a entrada de um novo ator no mercado.
Na semana passada, o partido conservador norueguês Høyre mudou a apresentação do seu website para "Partido Trabalhista". Um nome muito próximo do "Partido dos Trabalhadores" dos sociais-democratas noruegueses. Erna Solberg, a dirigente do partido, começou a martelar que queria colocar as pessoas "à frente dos cifrões", enquanto a estrela em ascensão no partido, Torbjørn Roe Isaksen, anunciava que o Høyre já não queria desregulamentar o mercado de trabalho e que o seu movimento não tinha de facto nada contra os sindicatos.
O partido pretende, assim, lutar contra a imagem que lhe está associada de clube de interesses, sem coração e voltado para os ricos. Naturalmente, esta estratégia foi diretamente inspirada no primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt. Então, quer parecer-se com a Suécia? – perguntam os sociais-democratas noruegueses, que recordam que, após 6 anos sob a liderança do novo Partido Conservador de Fredrik Reinfeldt, a Suécia tem uma taxa de desemprego de 8%.
No entanto, Fredrik Reinfeldt e a sua nova Aliança de centro-direita têm inegavelmente sucesso no exterior. De David Cameron, na Grã-Bretanha, a Angela Merkel, na Alemanha, é hoje uma direita suave e modernizada que preside aos destinos da Europa. David Cameron fala de conservadorismo progressista. O termo parece tão contraditório como "mísseis de manutenção da paz" ou "limpeza a seco ecológica"; mas quem está no Governo é David Cameron. E pode ver-se nele o irmão oculto, formado nas melhores escolas, de Fredrik Reinfeldt.
A cópia em vez do original
Ao mesmo tempo, a mulher mais poderosa da Europa, Angela Merkel, paira por cima de um pântano de pragmatismo e posições centristas insípidas. Os sociais-democratas alemães estão já a torcer-se todos: se Angela Merkel fizer acordos com o socialista François Hollande, como vão poder votar contra essas propostas? Além disso, o pacto de crescimento era ideia deles.
Não, não é fácil responder à nova direita suave. Mima-lhes as políticas, rouba-lhes as palavras de ordem e governa pior do que eles vinham fazendo. E, no entanto, ganha as eleições. Porquê votar numa cópia quando se pode ter o original? É a pergunta retórica que se colocam os sociais-democratas por toda a Europa, na esperança de transmitir aos eleitores que isso é um absurdo. Mas deve ser precisamente porque são cópias que têm êxito. Quando as empresas dominantes são afastadas do mercado pela concorrência, é quase sempre para dar lugar a produtos de qualidade inferior. Com menos qualidade, mas mais inovação.
Durante a campanha de 2006, os sociais-democratas suecos propuseram maior comparticipação nas despesas dentárias. Em 2010, propuseram baixar os impostos dos aposentados. E perderam. Em vez de darem prioridade à melhoria de um sistema que eles próprios criaram, os sociais-democratas europeus talvez devessem questionar-se sobre qual será o problema que as pessoas no fundo os querem ver resolver. Algures no passado, foi isso que foi perdido de vista durante os anos de abastança, sob a liderança de Tony, Gerhard e Göran.

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