Triunfante há uma década, a social-democracia está hoje afastada do poder na maioria dos países europeus. Porque não tem propostas novas e, sobretudo, porque deixou que a direita copiasse as suas ideias e a sua linguagem, para satisfazer as expectativas dos eleitores.
Um dia, os diretores decidiram fazer uma experiência inédita. Perguntaram aos clientes qual a finalidade com que compravam o seu produto. Por outras palavras, qual era, segundo eles, a vantagem dos iogurtes de beber? Ficou claro que a maioria das pessoas que compravam iogurte de beber fazia longos trajetos de carro.
Procuravam um alimento que não fizesse migalhas e que aguentasse bastante tempo. A empresa percebeu imediatamente onde devia melhorar. Não era no sabor, mas em tudo o que contribuísse para a comodidade e para facilitar o consumo do iogurte em viagem. O que os consumidores querem, em primeiro lugar, é a solução para um problema, não um produto.
Uma direita suave e modernizada
O semanário The New Yorker publicou recentemente uma entrevista com um dos mais conhecidos gurus do setor empresarial. Clayton Christensen estudou as razões pelas quais algumas grandes empresas bem-sucedidas e dominantes no seu setor perdem mercado a favor de um novo concorrente. Demonstrou que esses novos produtos que suplantam os dos gigantes do ramo não são melhores, pelo contrário, são quase sempre de qualidade inferior. Como é possível?
Embora a política seja um mundo diferente, passa-se o mesmo fenómeno. Há 10 anos, a Europa era quase totalmente dominada por governos social democratas. Nomeadamente os de Tony [Blair, no Reino Unido], Gerhard [Schröder, na Alemanha] e Göran [Persson, na Suécia]. Depois ocorreu a entrada de um novo ator no mercado.
Na semana passada, o partido conservador norueguês Høyre mudou a apresentação do seu website para "Partido Trabalhista". Um nome muito próximo do "Partido dos Trabalhadores" dos sociais-democratas noruegueses. Erna Solberg, a dirigente do partido, começou a martelar que queria colocar as pessoas "à frente dos cifrões", enquanto a estrela em ascensão no partido, Torbjørn Roe Isaksen, anunciava que o Høyre já não queria desregulamentar o mercado de trabalho e que o seu movimento não tinha de facto nada contra os sindicatos.
O partido pretende, assim, lutar contra a imagem que lhe está associada de clube de interesses, sem coração e voltado para os ricos. Naturalmente, esta estratégia foi diretamente inspirada no primeiro-ministro sueco, Fredrik Reinfeldt. Então, quer parecer-se com a Suécia? – perguntam os sociais-democratas noruegueses, que recordam que, após 6 anos sob a liderança do novo Partido Conservador de Fredrik Reinfeldt, a Suécia tem uma taxa de desemprego de 8%.
No entanto, Fredrik Reinfeldt e a sua nova Aliança de centro-direita têm inegavelmente sucesso no exterior. De David Cameron, na Grã-Bretanha, a Angela Merkel, na Alemanha, é hoje uma direita suave e modernizada que preside aos destinos da Europa. David Cameron fala de conservadorismo progressista. O termo parece tão contraditório como "mísseis de manutenção da paz" ou "limpeza a seco ecológica"; mas quem está no Governo é David Cameron. E pode ver-se nele o irmão oculto, formado nas melhores escolas, de Fredrik Reinfeldt.
A cópia em vez do original
Ao mesmo tempo, a mulher mais poderosa da Europa, Angela Merkel, paira por cima de um pântano de pragmatismo e posições centristas insípidas. Os sociais-democratas alemães estão já a torcer-se todos: se Angela Merkel fizer acordos com o socialista François Hollande, como vão poder votar contra essas propostas? Além disso, o pacto de crescimento era ideia deles.
Não, não é fácil responder à nova direita suave. Mima-lhes as políticas, rouba-lhes as palavras de ordem e governa pior do que eles vinham fazendo. E, no entanto, ganha as eleições. Porquê votar numa cópia quando se pode ter o original? É a pergunta retórica que se colocam os sociais-democratas por toda a Europa, na esperança de transmitir aos eleitores que isso é um absurdo. Mas deve ser precisamente porque são cópias que têm êxito. Quando as empresas dominantes são afastadas do mercado pela concorrência, é quase sempre para dar lugar a produtos de qualidade inferior. Com menos qualidade, mas mais inovação.
Durante a campanha de 2006, os sociais-democratas suecos propuseram maior comparticipação nas despesas dentárias. Em 2010, propuseram baixar os impostos dos aposentados. E perderam. Em vez de darem prioridade à melhoria de um sistema que eles próprios criaram, os sociais-democratas europeus talvez devessem questionar-se sobre qual será o problema que as pessoas no fundo os querem ver resolver. Algures no passado, foi isso que foi perdido de vista durante os anos de abastança, sob a liderança de Tony, Gerhard e Göran.
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