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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Torrentes de palavras, disparadas como armas…

Terminou a expedição pelo mundo das letras que, durante 3 dias, conduziu, pelos mais variados e inebriantes itinerários, um público apaixonado. Um reencontro que, pelo 14º ano consecutivo, reuniu, na Póvoa de Varzim, a família Correntes d’Escritas com elementos vindos um pouco de todo o país e de fora dele.
A cumplicidade que carateriza o Encontro levou Luís Diamantino, Vereador do Pelouro da Cultura, a reconhecer que “deve ser o único evento no país em que toda a gente se trata por tu, exceto dois, que são o Professor e o Maestro”, Eduardo Lourenço e António Victorino D’Almeida, respetivamente.
Foram perto de 60 os escritores participantes nesta edição, protagonistas das 7 mesas de debate que, a partir de um verso geraram vários momentos de manifesto perante a atualidade que vivemos, não fosse o Correntes d’Escritas um Encontro de Escritores, aqueles que dominam a palavra, e não deixaram de a usar para exprimirem a sua insatisfação e revolta face ao atual estado político, social e cultural do país.
Helder Macedo referiu-se ao desinvestimento cultural de que o país tem sido alvo, demonstrando a falta de reconhecimento pelo valor e trabalho de muitos, escritores, músicos, artistas, compositores, atores, pintores, entre outros.
Este aspeto também foi referido por Hélia Correia, Vencedora do Prémio Literário Casino da Póvoa, que fez um grande louvor ao Correntes d’Escritas, “uma festa contínua da palavra”, que deve ser tomado como exemplo, e, por isso mesmo, terá de continuar, “não vai poder absolutamente acabar” e, se para isso “for preciso fazer-se a revolução aqui, faz-se”.
Vergílio Alberto Vieira justificou a sua presença na 14ª edição do Correntes d’Escritas explicando que tinha decidido retirar-se, mas estava a participar por entender que era uma cobardia, numa altura em que todas as vozes são poucas para se fazerem ouvir neste país. 
Cristina Carvalho disse que “parece incompreensível e inatacável esta situação que agora vivemos, desgraça a todos os níveis”. E por achar que “neste momento todas as ocasiões são insuficientes”, aproveitou a ocasião para “expressar a minha mais profunda indignação, revolta e impotência pelo nosso futuro, pelo futuro da juventude de Portugal que se apresenta muito escuro e desanimável. Nunca pensei vivermos numa situação destas numa Europa que sempre sonhei já que nasci europeia”.
Rui Zink assumiu que ele próprio procura escrever e entrosar-se com o que se passa à sua volta e ser um bom cidadão, defendendo que “o nosso dever é ler e escrever com os olhos bem abertos”. Mas o melhor momento foi quando exigiu que a plateia o ‘grandolizasse’, até porque ele é “doutorado e o ministro Relvas teve uma licenciatura, portanto se ele teve direito, porque é que eu não tenho? Venha daí essa ‘Grândola’, vá!” A plateia do Auditório levantou-se e cantou a bons pulmões a canção de Zeca Afonso.
Estes são só alguns dos exemplos que, durante o evento, deram voz aos sentimentos dos participantes.
E sobre a viagem Correntes d’Escritas, que todos pretendem repetir, Luís Diamantino referiu que, “neste momento, está em velocidade de cruzeiro, diria quase que já foi ligado o piloto automático”. Prova disso é que “temos cada vez mais público, temos cada vez mais dificuldade em acomodar o público, sendo que a maior parte dele está sem qualquer tipo de conforto porque o espaço não comporta toda a gente que nos procura e também não gostaríamos de limitar a presença do público”. E, neste sentido, “entendemos que, no próximo ano, o grande desenvolvimento e crescimento em número de pessoas presentes, será colmatado com a abertura do Cine-Teatro Garrett, pronto para receber o Correntes d’Escritas, um espaço confortável que concentrará tudo.”
Lembrando, uma vez mais, o principal objetivo do Correntes d’Escritas atestou: “queremos promover o livro e a leitura e, por isso, é que não abdicamos de ir às escolas e de receber aqui escolas de outros concelhos, não abdicamos de ter prémios para crianças e jovens. É semear para colher mais tarde e penso que esta sementeira deu resultado porque temos, nestes 14 anos, mais público jovem, que está interessado”.
O Vereador da Cultura e Educação considera que temos que “acreditar que Portugal tem futuro e o futuro é através da educação e da cultura. Não há melhor para promover turisticamente uma cidade, região ou país do que a cultura”. O Correntes d’Escritas é um exemplo deste investimento cultural, assinalou, constatando que “é por isso que todas as pessoas que vêm até à Póvoa, os leitores, os ouvintes, os expectadores, os escritores, os editores, ficam sempre extasiados com o número de pessoas que aqui estão para ouvir falar de poesia, de literatura, de livros, isto é único em Portugal. É, como dizem, o maior evento literário em Portugal”. É isto que promove a nossa cidade e região dentro e fora do país, o que nos dá muito orgulho e nos envaidece bastante pelo que temos feito em prol da cultura em Portugal.
E na esperança de que o Correntes d’Escritas não perderá a sua força e continuará a ultrapassar todas as dificuldades, para o ano cá estaremos, num novo espaço mas com a mesma vontade.

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