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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mais um “Serviço Público” para conformar os privados

João Lemos Esteves
1. Já aqui escrevi sobre a incursão de Luís Marques Mendes no comentário televisivo: afirmei, então, que Luís Marques Mendes é um comentador mediano, embora seja um excelente porta-voz do Governo Passos Coelho. E que a estratégia estava muito bem pensada pelos 2 amigos: Marques Mendes dava um ar de independência e isenção e mostrava o "lado solar" das medidas do Governo, tendo acesso a informação privilegiada, subindo na popularidade e mediatismo; Passos Coelho tinha a vantagem de ter alguém, pretensamente desligado do Governo, que influenciava a opinião pública em favor das políticas do seu Governo. Portanto, os 2 velhos amigos e aliados políticos encetaram, assim, uma aliança fraterna e conveniente para ambos. E a verdade é que muitos portugueses - desejosos de conhecer as novas "chico-espertices" do Governo, de saber que novas medidas de austeridade vinham a caminho - começaram a assistir ao comentário de Luís Marques Mendes. Por isso, para um canal com uma audiência na média da TVI24, Marques Mendes consegue obter uma boa audiência - mas televisivamente Marques Mendes é um soporífero.
2. Note-se que tenho estima e consideração por Marques Mendes. E digo já que o apoiei para a liderança do PSD. Mas, de facto, Marques Mendes não é um comentador político, nem um analista. Não é um comentador político, pois um comentador destrinça os factos, os acontecimentos, dando uma interpretação original e clara para os seus interlocutores. Não é um analista político, pois a análise política, sendo mais objectiva do que o comentário, pretende explicitar o significado dos factos e as intenções das personagens políticas, traçando cenários do que poderá suceder no futuro. Ora, Marques Mendes não pode ser encaixado nem numa coisa, nem outra: o seu registo é absolutamente exótico no panorama da comunicação social em Portugal. Qual, então, a função de Luís Marques Mendes? É pura e simplesmente antecipar o calendário político do Governo: o agora colaborador da SIC obtém informação privilegiada através dos "mendistas" do Governo Passos Coelho, como Miguel Macedo, e apresenta aos portugueses como uma novidade, como o resultado das suas lucubrações intelectuais ou do seu imenso trabalho de investigação. Objectivo: frequentemente é preparar os portugueses para as medidas difíceis do Governo, sem que os membros do Governo sofram o desgaste da sua divulgação em primeira linha.
3. Ora, se este trabalho de porta-voz oficial e oficioso do Governo pode resultar na TVI 24, julgo que é um risco enorme para a SIC (direi mesmo um erro estratégico) dar um espaço semanal, na sua estação generalista, a Marques Mendes. Porquê? Fácil: é que vamos ter um canal generalista a dar tempo de antena ao Governo. A divulgar os próximos passos do Governo em sinal aberto, numa estação de grande audiência - vai, pois, objectivamente haver uma colagem da SIC ao Governo Passos Coelho. Minha pergunta: a SIC tem comentadores como Ricardo Costa, Miguel Sousa Tavares, aos quais não confia um programa próprio - e vai confiar um espaço semanal a Marques Mendes? Além disso, o público que seguia Marques Mendes na TVI24 é diferente do público-alvo da SIC! Isto em termos de audiências também não vai correr bem. Dou um exemplo: Pacheco Pereira tem excelentes audiências na SIC Notícias e, não obstante, nunca logrou obter êxito nas suas incursões na SIC generalista... O cabo é outra realidade, é outro público.
4. Ademais, há outra curiosidade muito interessante sobre a ida de Marques Mendes para a SIC: para além da fonte governamental, da ala "mendista", Marques Mendes obtém a sua tão propalada informação privilegiada através de José António Lima, director-adjunto do SOL. Na grande maioria dos seus programas, Marques Mendes antecipava as manchetes do SOL do dia seguinte - ora, na SIC fará o mesmo? É que a SIC pertence ao grupo Impresa que não tem obviamente interesse nenhum em dar 30 minutos de publicidade gratuita ao SOL...
5. Bom, tudo isto dito, concluo afirmando que Marques Mendes é um político puro que aproveita a televisão para fazer política. Do que Marques Mendes gosta é do trabalho partidário, de lidar com a máquina do PSD (que ele conhece tão bem!), de falar para os militantes do PSD. Esse é o seu público-alvo: os militantes do PSD (e a SIC quer ter um comentador para falar aos militantes de um partido? Não percebo!). Marques Mendes quer voltar rapidamente à política. As Europeias e as Presidenciais estão na sua mira. A SIC é o próximo passo da sua estratégia. Mas, por amor de Deus, não digam que Marques Mendes é isento e imparcial: reparem, que ele só critica 2 membros do Governo - Vítor Gaspar e Álvaro Santos Pereira. Porquê? Porque são 2 independentes - não são da máquina do PSD. Já Miguel Relvas, Marques Mendes defende com convicção. Está tudo dito...

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