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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

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A vitória, por escassa margem, da coligação de centro-esquerda nas eleições de 24 e 25 de fevereiro, não permite destacar uma maioria clara. A imprensa europeia tenta perceber e preocupa-se com as consequências que os resultados eleitorais poderão ter para a Europa.
O resultado das eleições legislativas e senatoriais italianas surge como uma rejeição das políticas de austeridade do primeiro-ministro cessante, Mario Monti, o grande perdedor da votação. É o que atestam o sucesso do comediante e populista assumido Beppe Grillo e o regresso em força de Silvio Berlusconi, que, no entanto, é considerado responsável pela crise que o país atravessa.
"O populismo, o alvoroço e as mentiras dominam", comenta o Süddeutsche Zeitung, na sequência das eleições legislativas e senatoriais em Itália. Sem Mario Monti, o grande perdedor, a Itália nunca teria sobrevivido à crise, sublinha este diário de Munique, segundo o qual
o escrutínio italiano é uma lição especial para todos os envolvidos na crise da UE: quem hesita perde; quem gagueja será castigado, porque as coisas feitas pela metade não contam. Os eleitores italianos deixaram nas urnas uma mensagem muito clara: “não estamos a perceber nada”. Não podemos invetivá-los por isso, porque vivem num clima político que favorece as meias verdades e que eleva a sátira à categoria de razão de Estado. Os dois comediantes que se apresentaram ao eleitorado foram recompensados pelas suas afirmações quase difamatórias: Silvio Berlusconi e Beppe Grillo.
"Os eleitores lançam a Itália no caos", lamenta De Volkskrant, que considera que "a Europa é o grande perdedor destas eleições", devido à derrota eleitoral de Mario Monti:
Em Bruxelas e na maior parte das capitais europeias, existia a esperança de que Monti, que entrou em funções em 2011 para salvar a Itália da ruína financeira, pudesse prosseguir a sua política de reformas, formando uma coligação com Pier Luigi Bersani [...]. A ascensão de Silvio Berlusconi e do partido contestatário de [Beppe] Grillo devem inquietar os dirigentes europeus, tanto mais que a mistura perigosa de cólera perante a austeridade e de corrupção também se faz sentir em Espanha.
Em Atenas, o Kathimerini mostra-se preocupado com o "risco de anarquia em Itália". Cerca de um ano depois das eleições na Grécia, que conduziram a um bloqueio político e a um novo escrutínio, este diário estabelece uma analogia entre os 2 países:
Na Grécia, os Indignados distribuíram-se, eleitoralmente, em 3 direções: o partido da esquerda radical SYRIZA, já com assento no parlamento, o partido populista Gregos Independentes e os neonazis do Aurora Dourada. Em Itália, o conjunto da população foi subjugado pela posição antissistema do não fascista Grillo, que apostou na comédia, e, em menor grau, pelo veterano da política [Silvio] Berlusconi e pelos seus gestos teatrais. Além do populismo, uma das características que, a um nível diferente, aproximam Grillo e Berlusconi é a sua resistência à hegemonia da Alemanha e o despertar do orgulho nacional.
"Tudo indica que o novo primeiro-ministro [Pier Luigi] Bersani irá ficar de mãos atadas, uma vez que a forte oposição de direita o impedirá de dar seguimento às reformas iniciadas por Mario Monti", escreve, em Varsóvia, o Rzeczpospolita. Segundo este diário conservador,
será de considerar vários cenários. Possivelmente, será preciso realizar novas eleições. Contudo, o problema é que, para evitar a repetição da situação atual, a lei eleitoral teria de ser alterada. Mas como fazer isso, num parlamento dividido? Eleger um novo parlamento apenas para uma lei? A Itália está presa numa armadilha.
Por seu turno, Le Monde refere que "a Itália anti austeridade assusta a Europa". No seu editorial, este diário francês considera que o impasse político em que a Itália se encontra depois das eleições reflete o "Basta Così!" [Já chega!] dos eleitores italianos, uma palavra de ordem "preocupante para a Península e assustadora para a Europa":
O impasse italiano é também uma séria advertência dirigida à Europa. Acontece que, neste país signatário do Tratado de Roma, em 1957, e cujo compromisso europeu era sólido, mais de metade dos eleitores apoiaram candidatos que fizeram toda a campanha com base no ‘não’ à ‘Europa alemã’ (Berlusconi) ou no ‘não’ à Europa, sem mais, ao euro e aos constrangimentos que este impõe (Grillo). É para Bruxelas, Berlim e Paris que a questão é agora remetida: até quando será possível impor políticas de austeridade a opiniões [públicas] que cada vez mais as rejeitam, em Itália, e também em Espanha, na Grécia e em Portugal? Até quando será isso possível, sem tornar ainda mais profunda a preocupante fratura democrática? Até quando será sustentável essa contradição, sem ameaçar, no futuro, a própria unidade da União Europeia? Os responsáveis europeus não podem continuar a evitar dar resposta a estas perguntas.
"A Europa tropeça em Berlusconi", diz, em Madrid, o título do ABC, segundo o qual a União Europeia "se confronta com o populismo". Face ao triunfo do antigo primeiro-ministro e de Beppe Grillo, a derrota de Mario Monti parece ser a derrota da "ortodoxia reformista europeia". "A UE e os dirigentes que prepararam a ‘operação Monti’ devem refletir sobre as razões desta confusão", comenta o mesmo diário. Por seu turno, o editorialista Ignacio Camacho pergunta-se se o sucesso do Movimento 5 Estrelas de Grillo poderá propagar-se a outras partes da Europa, designadamente ao Sul:
A sua forte irrupção revela uma patologia social comum à região mediterrânica que, no marasmo político de Itália, encontrou a sua via de expressão numa fobia antissistema. As tentativas de imitação serão fáceis em países que, como a Espanha, vivem uma forte perda de prestígio das suas elites.

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