No pós-Guerra, a Alemanha estava tão endividada quanto a Grécia de hoje, colhendo olhares desconfiados dos credores. Há 60 anos, porém, o país teve metade dos seus débitos perdoados e começou a reerguer-se.
Andreas Becker
Wolfang Schäuble, ministro das Finanças alemão
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Desde então, gerações de crianças e adolescentes aprenderam na escola que os alemães são um povo inacreditavelmente esforçado e trabalhador, que com o apoio dos Estados Unidos, conseguiu reerguer o país. "Este é um exemplo lamentável de como a História é recalcada neste país", diz Jürgen Kaiser, da aliança erlassjahr.de, que faz campanha pelo perdão da dívida de países em desenvolvimento. Segundo ele, os alemães reprimem da memória o facto de que, depois da II Guerra Mundial, a própria Alemanha se encontrava desesperadamente endividada, de maneira semelhante à Grécia dos dias de hoje.
Foi só o chamado Acordo de Londres, assinado há exatamente 60 anos, que fez com que o país pudesse respirar de novo, lembra a historiadora Ursula Rombeck-Jaschinski, da Universidade de Stuttgart. "Pode-se até mesmo afirmar que o milagre económico não teria sido possível sem o perdão da dívida", afirma.
30.000 milhões de marcos de dívidas
Naquela época, cerca de 70 países cobravam dinheiro à Alemanha – dívidas contraídas em parte antes e em parte depois da guerra. No total, o país devia 30.000 milhões de marcos, e economizar e pagar aos poucos não era uma alternativa viável. Pelo contrário: a economia alemã precisava de investimentos, a fim de que a reconstrução e o crescimento pudessem ser financiados.
Para o banqueiro Hermann-Josef Abs, que conduziu a delegação alemã nas negociações em Londres, essa ideia estava mais do que clara. As suas palavras de ordem eram: os credores de hoje têm que se transformar nos investidores de amanhã.
As negociações começaram em meados de 1952 e foram lentas e difíceis. Não se sabia ainda ao certo se os credores iriam de facto abdicar dos seus créditos, nem se iriam confiar nos alemães. "Houve até mesmo um momento em que as negociações quase fracassaram", conta Rombeck-Jaschinski. "Os alemães apresentaram aos credores estrangeiros uma proposta que, na visão do então Ministério das Finanças, era o máximo da viabilidade. Os credores acharam a sugestão um descaramento."
Desconfiança dos credores
Os alemães foram obrigados a mudar o documento e as negociações então continuaram. Os paralelos com as atuais conversas entre a Grécia e os seus credores são evidentes. Naquela altura, em Londres, a meta também era encontrar um equilíbrio. Os credores queriam reaver o máximo possível dos seus recursos, mas, ao mesmo tempo, a Alemanha não deveria ficar sobrecarregada. "Principalmente os britânicos defendiam a ideia de que os alemães poderiam, na verdade, pagar tudo de volta", diz Rombeck-Jaschinski. "Mas os americanos passaram à frente. A eles interessava-lhes que a Alemanha tivesse recursos para outras coisas, especialmente para o rearmamento."
O acordo, selado, enfim, no dia 27 de fevereiro de 1953, foi sensivelmente favorável à economia alemã: pelo menos metade das dívidas foram perdoadas. O resto foi remanejado a longo prazo.
O nascimento da nação exportadora
Além disso, era colocada naquele momento a pedra fundamental para o nascimento de uma nação exportadora. A Alemanha só teria que pagar as suas dívidas se ganhasse dinheiro com o comércio exterior. Os credores tinham interesse em comprar mercadorias alemãs, lembra Jürgen Kaiser. Segundo ele, uma solução parecida poderia ajudar hoje a endividada Grécia – sobretudo porque o país, antes da crise, gastou milhares de milhões de euros para pagar tanques de guerra comprados à Alemanha.
Já Rombeck-Jaschinski afirma que a situação de há 60 anos não pode ser simplesmente comparada com a de hoje. Apesar disso, ela recomenda aos alemães não esquecerem, no meio das negociações com a Grécia, que a própria Alemanha já esteve desesperadamente afundada em dívidas, precisando de ajuda.
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