Quando pensamos em programa educativo que tem como objetivo maior educar para a liberdade, para a emancipação, uma das primeiras coisas que afligem a nossa mente é o conjunto de características que marcam com veemência a sociedade contemporânea.
Maria Marta Bergamaschi, Pedagoga e Filósofa
Vivemos num tempo em que o conhecimento determina, em grande medida, o tipo de cidadão que se pretende formar e, consequentemente, a sociedade que parece nos atrair.
Entre as várias características que parecem delinear a sociedade atual, podemos citar o conteudismo exagerado que habita as instituições de educação formal e o individualismo que interfere de certa forma na convivência familiar e social, além do racismo e dos preconceitos que ainda aparecem camuflados na maioria de nossas escolas e nos mais diversos âmbitos sociais.
Frente a esta educação peculiarmente desmotivadora exala o odor do fracasso que ronda educadores e alunos ao mesmo tempo. O que nos resta fazer enquanto profissionais da educação? O que queremos dizer quando falamos de Educação Emancipadora?
Quanto à primeira questão, devemos pretender, na realidade e verdadeiramente, “fazer escola”. Uma escola onde o estudante aprenda a conhecer, a fazer, a ser e, acima de tudo, a conviver, atitude essa, que, nos últimos tempos, se vem definhando na nossa sociedade. Com isto, queremos dizer que os nossos anseios se voltam para a educação para a cidadania, na pretensão de formar jovens mais críticos e reflexivos, que saibam ainda dizer “não” à violência física e social.
Ao falar em Educação Emancipadora, o nosso pensar não é diferente, acresce-se ainda a formação de alunos autores, tanto na forma de pensar, como na forma de agir, deixando a caracterização de meros reprodutores como um dos construtores de nossa história passada.
Assim, poderemos vislumbrar as nossas escolas como portas abertas para a formação de indivíduos e grupos interessados em praticar investigação ética e responsável, quando nos inteiramos dos factos e dos acontecimentos que concretizam a nossa vida mundana.
É importante lembrar, e não nos resta a menor dúvida, de que cabe à escola abrir esse espaço, propiciando aos estudantes oportunidades de se desenvolverem ao mesmo tempo que se tornam conscientes das suas potencialidades. No entanto, é preciso que a escola assuma uma nova postura, já que a sala de aula também se transformará noutro espaço, no qual cada um tenha sua importância enquanto membro de uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa. Todos são acolhidos com as suas ideias e modos de pensar, e o ambiente onde se dá a investigação é permeado pela confiança e pelo respeito. Esta atitude deve partir do educador, que, enquanto modelo, disseminará a sua postura entre todos os participantes. Assim, poderemos contar com ambiente rico de novas ideias e novas perguntas, pois essa investigação coletiva é propulsora das descobertas, da apropriação de saberes e, consequentemente, da ampliação das nossas potencialidades.
É importante ressaltar ainda que nas Comunidades de Aprendizagem Investigativa aprender a perguntar tem a mesma importância de aprender a responder. Conforme nos ensinaram os pensadores de todos os tempos, a filosofia, ou seja, o amor pelo saber, começa com o deslumbramento, com a admiração. Neste caso, incentivar a pergunta é alimentar essa contemplação diante do novo, do já visto e do que está por vir.
Pensar faz parte da natureza humana, mas cultivar e alimentar o pensamento são as grandes missões do profissional educador. Bom seria se todos que abraçam esta profissão se lembrassem sempre disto.
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