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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

“Mais vale ser Rico e triste do que Pobre e memorião!”

Nos países ocidentais, o crescimento económico é a principal medida do bem-estar de uma população. Mas existem países que consideram outros fatores, como a preservação da natureza e da cultura e a própria felicidade.
Mirjam Gehrke
O PIB per capita e o crescimento económico são normalmente os indicadores utilizados para medir o bem-estar e a qualidade de vida de um país. A suposição básica é que crescimento significa riqueza, e quando a economia está bem todos ficam satisfeitos.
No entanto, já há 40 anos o Clube de Roma, organização que reúne especialistas internacionais para lidar com questões como a sustentabilidade, alertou no seu relatório “Limites do crescimento” que uma economia baseada apenas na exploração de recursos naturais, acompanhada por um aumento permanente da população mundial, leva à destruição dos fundamentos da vida.
Em 1987 foi a vez de o conceito de sustentabilidade aparecer pela primeira vez no debate internacional sobre desenvolvimento. O relatório final da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento afirmava que um desenvolvimento só pode ser sustentável se "satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades".
Desenvolvimento em harmonia com a natureza
O conceito de Buen Vivir, ou Viver Bem, que o Equador e a Bolívia colocaram nas suas constituições, em 2008 e 2009, respetivamente, também se baseia no conceito de sustentabilidade. A intenção é reavivar os conhecimentos tradicionais e as experiências dos povos indígenas como alternativa ao capitalismo ocidental, visto como uma herança colonialista, responsável pela grande divisão social nos dois países.
No Buen Vivir, o foco não está em superar o subdesenvolvimento através do progresso económico, mas pelo progresso social. Este inclui a preservação da identidade cultural e das sabedorias tradicionais, assim como o acesso à educação. Bem-estar não é definido pelo crescimento material e consumo, mas pelo desenvolvimento em harmonia com a natureza.
A realidade económica e social nos dois países ainda está longe desses objetivos, mas a filosofia do Buen Vivir deve ser vista como um caminho para a transformação social. Um passo inicial foi a criação da iniciativa Yasuní-ITT, que, em vez de incentivar a exploração das reservas de petróleo do parque nacional Yasuní, no Equador, visa proteger a biodiversidade da Amazónia e a população local. Em retorno, o país espera que a comunidade internacional compense metade do rendimento perdido com a não-exploração dos recursos naturais.
África: valorização da humanidade
O conceito de Buen Vivir está intrinsecamente ligado às tradições indígenas dos dois países andinos e não pode ser simplesmente aplicado noutras regiões. Mas a crença de que o homem é parte de um todo e que respeito, solidariedade e dignidade humana devem ser a medida para ações económicas e políticas também integra o conceito Ubuntu, na África do Sul. O nome vem de dois idiomas Bantu (Zulu e Xhosa) e significa humanidade. Com outros nomes, o conceito também existe noutras partes do continente africano.
Na África do Sul, após o fim do regime segregacionista do apartheid, o presidente Nelson Mandela colocou o Ubuntu no centro da ação política: humanidade e senso de comunidade deveriam formar os valores da nova nação que surgia. Com o tempo o conceito acabou por posto de lado, mas o Ubuntu Education Fund (Fundo Ubuntu para a Educação) permanece comprometido com os princípios que dão nome à organização, através do apoio a projetos de saúde e educação.
Felicidade como política nacional
Como uma antítese budista à busca ocidental do lucro máximo, o rei do Butão formulou em 1972 a ideia de Felicidade Interna Bruta (FIB), que deveria ser mais relevante do que a performance económica do país e se baseava em 4 pilares: proteção ao meio ambiente, preservação de valores culturais, desenvolvimento económico e social para toda a sociedade e boa governança.
Ao implementar o seu FIB, o rei estabeleceu que a saúde e a educação deveriam ser gratuitas e mais de 30% do orçamento nacional, direcionado para gastos sociais. As florestas, que cobrem mais de 70% do território do país, tornaram-se áreas de preservação. Investimentos públicos e novas propostas de legislação devem ser analisadas por um comité especialmente criado para essa função. Caso os projetos não estejam de acordo com o conceito do FIB, eles devem ser debatidos no Parlamento e revistos.
O Centro de Estudos do Butão, que possui status de ministério, realiza regularmente pesquisas sobre o índice de felicidade entre a população. As perguntas são sobre rendimento, segurança no trabalho, acesso à educação e à saúde, condições do meio ambiente, bem-estar psicológico e disponibilidade de tempo. Pelo menos 52% da população considera-se "feliz", 45% diz-se "muito feliz" e apenas 3% afirma estar "não muito feliz".
Indicadores globais de qualidade de vida
Os exemplos citados acima levam a crer que a estabilidade e o bom funcionamento das estruturas sociais, o conhecimento da própria identidade cultural, assim como a preservação do meio ambiente, são fatores essenciais para uma qualidade de vida satisfatória. Esses conceitos também têm em comum o facto de estarem fortemente enraizados nas tradições e religiões dos seus respetivos países, o que limita as possibilidades de exportá-los para outras nações.
Para tornar possível a comparação do bem-estar social em diferentes países e culturas, a ONU desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nos relatórios anuais publicados desde 1990, não apenas o rendimento per capita é levada em conta, mas também a expectativa de vida e o nível de educação. A análise da expectativa de vida permite avaliar a situação dos sistemas de saúde, padrões de higiene e condições alimentares. O fator educação reflete o padrão de vida e a participação dos indivíduos na sociedade.
No topo da lista estão países ocidentais industrializados que se ocupam das questões do bem-estar social, como a Noruega, a Austrália e a Holanda. Os EUA estão na 4.ª posição, a Alemanha em 9.º e o Brasil é o 84º. Os últimos 15 países dos 187 dos listados no IDH estão na África subsaariana. O IDH da ONU é criticado por não levar em conta as questões ambientais.
Felicidade, mas a que preço?
Existe também o Happy Planet Index (HPI), ou seja, o índice de felicidade do planeta. A organização independente New Economics Foundation criou há 7 anos o primeiro ranking que, além da expectativa de vida, analisa também a satisfação pessoal e a pegada ecológica das populações. São pesquisados, entre outros pontos, quantos recursos naturais são consumidos per capita para atingir o padrão de vida de um país.
No primeiro lugar no ranking de 2012 estava a Costa Rica, seguida do Vietname. O Brasil está em 32.º, a Alemanha ocupa a 46.ª posição e os EUA ficaram em 105.º lugar, bem atrás do Quirguistão (61.º) e de Bangladesh (31.º). Concluir que os americanos são mais infelizes que os quirguizes e os bengalis seria um exagero. o HPI apenas afirma que os americanos compram a sua felicidade através do consumo excessivo de recursos naturais.

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