Após uma maratona negocial que mais fazia lembrar um mercado do que os tranquilos salões da diplomacia, os chefes de Estado e de governo dos 27 acabaram por adotar o orçamento da União para 2014-2020.
Gian Paolo Accardo
Assim, no final do Conselho Europeu, uns e outros puderam clamar vitória e anunciar às suas respetivas opiniões públicas que saíram vencedores: os britânicos podem dizer que conseguiram diminuir o orçamento, os franceses, que salvaram os subsídios europeus, começando pelos agrícolas, os alemães, que estiveram no centro de todas as arbitragens.
Assunto encerrado?
Longe disso. Há que ter em conta o turbilhão do Parlamento Europeu: minutos depois de os líderes europeus terem proclamado o seu acordo, os 4 principais grupos políticos (conservadores, sociais-democratas, liberais e verdes) anunciaram em comunicado conjunto que o Parlamento “não pode aceitar o acordo de hoje do Conselho Europeu tal como está” e que “as verdadeiras negociações vão começar agora no Parlamento Europeu”.
Na véspera da cimeira, os eurodeputados tinham avisado os 27 contra qualquer tentativa de “sacrificar o futuro da UE à atual crise” e recomendaram-lhes que “não utilizem a crise económica como pretexto para imporem a austeridade na UE até 2020”.
Agora que a bola está do seu lado, os representantes dos povos da União têm a intenção de fazerem valer as suas prerrogativas e de renegociarem o texto saído do Conselho. Vão, assim, relembrar aos Estados-membros que a austeridade não é um fim em si mesma e que, para sair da crise, a Europa precisa de investimentos a longo prazo que suportem o crescimento. E, sobretudo, que o futuro da UE não se negoceia à porta fechada, debaixo do nariz e nas barbas da única instituição democraticamente eleita da União. E ainda bem.
Sem comentários:
Enviar um comentário