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domingo, 10 de fevereiro de 2013

Como se diz: “Quem não gosta não estraga”!

Na verdade, muita coisa, defende uma colunista do jornal "The Independent", depois de, na semana passada, os europeístas do Reino Unido terem reunido as hostes para o discreto lançamento de um novo grupo que pretende ser um contraponto ao abominável euroceticismo do país. Um tributo à influência que a UE exerceu sobre o país ao longo dos últimos 40 anos. Excertos.
A ironia não deixa de ser deliciosa.
A Europe House, em Smith Square, onde a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu têm a sua representação conjunta em Londres, é o mesmo edifício – a antiga sede do Partido Conservador – onde Margaret Thatcher comemorou as suas vitórias eleitorais.
Por isso, fantasmas foi coisa que não faltou, quando, esta semana, o trio de conhecidos europeístas britânicos escolheu a Europe House para o lançamento da sua campanha a favor do Sim. Ken Clarke (conservador, ministro sem pasta), Lorde Mandelson (trabalhista, antigo comissário europeu e comunicador supremo) e Danny Alexander (liberal democrata, secretário de Estado do Tesouro) encabeçam, juntos, o Centre for British Influence [centro para a influência britânica (na Europa)], que defenderá a permanência do Reino Unido [na UE], quando ou se, David Cameron organizar o prometido referendo sobre a permanência ou saída da União Europeia.
Um ganho enorme mas não se dá por ele
E, já agora, falemos da discrição. O próprio nome, Centre for British Influence, quase faz o novo grupo parecer uma filial do UKIP [Partido para a Independência do Reino Unido, força eurófoba em ascensão]. Até algumas organizações assumidamente anti-UE parecem mais comprometidas com a Europa do que esta. Embora aspire a ser o núcleo de uma futura campanha pelo Sim, a verdade é que o CBI – uma sobreposição [de siglas] infeliz, ou talvez propositada – apresenta bastantes semelhanças com o esforço sub-reptício de um grupo de pressão. Será que pensam que os eleitores britânicos só se deixam convencer a entender a mensagem pró-UE se for utilizada uma abordagem cautelosa.
De facto, é capaz de não ser uma má estratégia. Não apenas porque, até há pouco tempo, as sondagens indicavam um aumento do sentimento favorável à Europa apenas quando o assunto deixava de ser tema das primeiras páginas dos jornais, mas porque o impacto da UE no Reino Unido foi tão gradual que quase não se deu por ele. No entanto, encarado de um modo global, na perspetiva dos últimos 40 anos, esse impacto foi enorme e praticamente só teve efeitos benéficos.
Muitos dos benefícios da adesão à UE são tangíveis e o Reino Unido não foi excluído. Houve dinheiro para projetos de infraestruturas, que – ao contrário da maioria dos países da UE – preferimos não anunciar em cartazes como prova de gratidão. E há o grande número de regras comuns a cumprir, que fez de nós parte de um bloco que se tornou uma força regulamentar mundial. Para os eurocéticos, isso é burocracia de Bruxelas; mas talvez possamos chamar-lhe um bilhete de entrada para a civilização.
Mas a maior mudança para melhor destas 4 décadas no seio da UE tem que ver com a atitude geral do país. Acima de tudo, expor os britânicos a outros europeus e vice-versa tornou-nos, individual e coletivamente, mais conscientes da maneira com outros europeus fazem as coisas e, também, daquilo que poderíamos fazer melhor. Essa exposição socializou-nos numa medida de que alguns talvez não se tenham apercebido. Basta entrar na fila na estação de Saint Pancras para apanhar o Eurostar, ou estar na sala de embarque da easyJet em praticamente qualquer aeroporto, para entrarmos num mundo europeu, que nos parece normal e familiar, mas que não o era há uma geração.
Estreiteza de espírito
A diferença não tem que ver com a comida ou com a cultura dos cafés, nem com a entrada no país da Zara ou do Novotel, embora a UE tenha melhorado a nossa qualidade de vida em todos estes aspetos. Também não tem que ver com a língua per si; os britânicos continuam a ter um orgulho tolo na sua falta de jeito para línguas estrangeiras. O que mudou foi a consciência e a aceitação que temos dos diferentes sotaques e costumes europeus. Ainda me lembro de uma rapariga, minha colega no ensino básico, ter ido a Espanha de férias. Era uma novidade tão grande que a professora nos mandou fazer uma maqueta de uma praça de touros. E agora? Não é possível regressar a esse provincianismo. Não apenas porque a consciência europeia se encontra agora dentro das nossas cabeças – sim, até mesmo na cabeça de Nigel Farage [líder do UKIP] – mas porque os nossos amigos e vizinhos farão tudo o que puderem para o impedir.
Desde o início do último ataque de in/out no Reino Unido, há cerca de um ano, perdi a conta do número de diplomatas estabelecidos em Londres que perguntaram, não com alegria mas com receio, se seria realmente possível o Reino Unido sair da UE. Alguns eram europeus, evidentemente, mas outros eram chineses, japoneses, russos e, não menos importante, norte-americanos. O alerta de Philip Gordon, do Departamento de Estado dos EUA, e o posterior apelo telefónico do Presidente Obama a David Cameron – tornado público pela Casa Branca – não permitem que ninguém fique com dúvidas.
A força do Reino Unido, a sua influência internacional e a sua identidade do século XXI são identificadas pelo mundo exterior como europeias, acima de tudo. É assim que os outros nos veem. E, no fundo, é também assim que os britânicos de amanhã se verão a si mesmos.

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